35: Procura Mortal

11.6K 1.3K 391
                                    

QUANDO A MINHA carruagem parou em frente a entrada do Palácio do Ar, tudo em que eu podia pensar era na visão de Jason indo embora, ação que eu havia contemplado da janela de um dos corredores do Castelo da Água. Ele com certeza deveria estar pensando mil e uma coisas sobre o que eu disse a ele duas horas atrás.

Que eu não o perdoaria nunca. Que eu o culparia pelo passado durante o resto de nossas vidas. Que eu achava que nós dois não éramos bons juntos.

Claro que tudo havia sido um modo de mandá-lo embora o mais rápido possível, já que o assunto que eu tinha a tratar com Lauren não era para ser descoberto por ninguém, nem mesmo por ele, pelo menos não agora.

Pensei em ir atrás dele e explicar tudo, para fazermos as pazes de uma vez e enfrentarmos seja lá o que for lado a lado, mas achei que o melhor modo de mostrar que aquela havia sido uma briguinha boba seria cumprindo com o nosso combinado: Jason falaria com Telórius e eu tentaria descobrir algo que provasse que Aurora estava realmente planejando algo contra nós.

Era tudo uma questão de tempo e agilidade...

A porta da carruagem foi aberta com força brutal, mostrando uma Aurora de cara fechada e cabelos se agitando em meio a brisa que girava em torno dela.

- A que devo à honra, princesa? - ironizou, em tom duro. - Pensei que eu não era digna de você.

Descendo da carruagem, eu ergui os olhos para o seu rosto pálido.

- Preciso conversar com o seu pai.

- Felizmente tenho a honra de lhe informar que não terá o desprazer. - declarou, olhando de esguelha para a entrada do palácio. - Meu pai está ocupado com questões mais importantes do que você; questões que só dizem respeito ao nosso Clã.

Semicerrei os olhos.

- Mais tarde teremos a segunda prova dos Jogos Elementais, caso não se lembre. - falei, ajeitando a aliança no dedo, sabendo que o gesto iria atrair a atenção dela. - E durante a semana dos Jogos, o assunto de um é assunto de todos os Clãs. Como única herdeira da Água e esposa do futuro Rei do Fogo, é meu dever informar os dois lados de meus laços familiares sobre qualquer coisa importante que esteja acontecendo aqui. Então, se puder me dar licença...

Aurora deu um passo na minha direção, se interpondo no meio do caminho.

- Este é o ponto, Ágata. Eu não posso. - ela deu um sorriso forçado, que pareceu surgir de uma força de vontade esmagadora. - Eu não quero. Eu não vou. Este é o meu lar, e você não vai pisar nas nossas regras como se fôssemos a merda que o Jason estava pensando quando se casou com você.

Meu sangue esquentou dentro das veias. Controle-se. Você é Água. Você é Água. Não Fogo. Não Ar. Não Terra. Aqui você tem que ser Água.

Respirei fundo, as mãos fechadas em punhos com tanta força que eu podia sentir minhas unhas pressionando a pele de minhas palmas.

- Eu não quero brigar com você, Aurora. - falei, tentando não perder a linha, algo que sempre acontecia quando eu tinha que lidar com aquele tipo de estupidez. - Eu posso esperar por Otto. O assunto que tenho que tratar com ele é tão sério quanto o que ele está a resolver, pois acredite quando eu digo que seu pai é uma das últimas pessoas com quem eu gostaria de falar hoje e pelo resto da minha vida.

Ela colocou a mão sob o queixo, como se pensasse sobre o que eu havia dito. Em seguida, afastou a franja cinza que cobria parte de seus olhos do rosto e me encarou com um sorriso de escárnio:

- Você me deixou intrigada. - ela abriu um pouco de espaço para que eu pudesse passar. - Entre e espere. Faço questão de saber em primeira mão sobre esta questão tão importante que você tem para discutir com o meu pai.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora