Aurora
NÃO FAZIA MUITO TEMPO que Aurora aceitara o casamento de Jason e Ágata. Ela passara por etapas lentas e dolorosas, chorando por horas a fio, cada lágrima silenciosa que escorria por sua pele machucando como o toque de uma faca. Quando passava por espelhos, simplesmente os arremessava contra a parede mais próxima, se sentindo uma imbecil amarga ao contemplar em seu reflexo o rosto inchado de tanto chorar. Chegara a um nível tão deprimente que ela ocupava-se tirando o ar de si mesma, passando tanto tempo sem respirar quanto podia aguentar. Era bom sentir o desespero; tentar e tentar sabendo que não iria conseguir.
Como se estivesse se afogando.
E quando ela fazia essa comparação, um sorriso de pura ira a tomava, porque fora exatamente a mesma sensação que ela sentira no dia do aniversário de Ágata, naquele dia horrível em que Jason anunciou para todos de Goddess Falls o seu noivado com ela.
Aurora lembrava-se como se tivesse sido ontem. Estivera nas sombras o tempo todo, observando o momento certo para fazer sua entrada triunfal. O que ela fez, logo depois de ouvir em choque Jason dedicar um brinde àquela ridiculamente tola princesa da Água.
Aurora não tinha realmente nada contra Ágata, mas todo mundo sabia que o príncipe do Fogo deveria ser dela. Eles formavam um ótimo casal, tanto em aparência quanto em poder. A princesa do Ar tentava não pensar na vergonha de ter estado tão apaixonada que imaginava até como seriam os filhos dela com Jason, e que às vezes, quando fazia correspondências, ela se via assinando como Anneliese Aurora Blakely Fire.
Mas foi só quando ela testemunhou os olhares que Ágata e Jason trocaram, naquele dia no Palácio da Arena, quando a notícia da magia roubada dele foi divulgada, que ela entendeu: não tinha chance alguma com ele, nem nunca tivera. Seu sentimento era pura e completamente platônico. Sempre tinha sido Ágata, e seja lá qual fosse o nome do que havia entre os dois, era algo inquebrável, forte e profundo demais para qualquer um se meter no meio.
Por isso, decidiu parar de chorar e de sentir pena de si mesma, pois era como sua mãe dizia: ela era linda e poderosa e um dia se tornaria rainha. Mas até esse mantra, que parecia ser tão certo, se voltou contra ela. E veio bater de frente com tanta força que quase a derrubou de vez: Ágata controlava o Ar. Não uma brisa, não uma pequena ventania, mas um controle tão grande que foi capaz de acabar com um labirinto inteiro de Ar, cheio de tornado e furacões. Ela fez aqueles ícones de poder do Clã do Ar parecem nada, pura brincadeirinha de criança.
Por Deus, ela havia acabado com todos eles com apenas um sopro.
E então correra para os braços de Jason, que como se não bastasse, era agora marido dela. Ma-ri-do. Como era possível que Ágata pudesse ter tudo que Aurora desejava? Como era possível que ela tivesse conquistado Jason de tal maneira e em tão pouco tempo que eles agora faziam parte de um time, logo Jason, justo ele, que sempre fora tão arrogante e vangloriava-se tanto de ser o melhor sem precisar de ninguém? Como ela podia ser a Elemental?
Naquele momento, Aurora estava sentada no parapeito de pedra da grande varanda do Palácio da Arena. Sua família já havia ido embora, todos sentindo-se humilhados por presenciarem uma filha da Água controlar o Ar daquela maneira. Mas Aurora continuava lá, pensando. Pensando em como tudo havia saído tão diferente de todos os planos que fizera, até Thomas se recostar no parapeito em que ela estava.
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Crônicas de Água e Fogo: O Elemental
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