11: A Um Passo de Recuperar O Que é Meu

19.6K 1.9K 622
                                    

Valerie


QUANDO O MEU ESPIÃO INFILTRADO no Palácio do Fogo me disse que meu plano tinha dado errado, mandei-o embora, fervendo de raiva e descrença. O príncipe era da linhagem do Fogo, deveria ter sentido ódio, no mínimo um desejo insano de matar alguém. Mas o que simplesmente ocorreu foi que agora ele e a princesinha aguada estavam mais juntos que nunca. Fico me perguntando como é que a minha carta surtiu um efeito tão pequeno. Estou ficando enferrujada nesse ponto de ataque. Antes uma palavra minha e as pessoas ao redor ficavam entorpecidas, como se os sentidos delas tivessem sido reduzidos em um vazio absoluto. Agora a única coisa que havia acontecido foi eu ter sentido o gosto amargo de ter sido ignorada completamente. 

Ouvi uma risada baixa, e fuzilei Thomas com os olhos.

-Você deve estar se divertindo muito com isso, não é?

Ele esticou o pescoço na minha direção, os cabelos castanhos claros desgranhados cobrindo boa parte de seus olhos. Ele era bonito. Não sexy e sedutor como Jason, mas mesmo assim muito bonito, de um jeito mais discreto e inocente. Eu o mantinha amarrado em um tronco de ferro, e as correntes deviam estar mais apertadas do que antes pelo reforço que eu tinha dado ontem à noite. Thomas não reclamava, não me xingava e não tentava me agredir. Na verdade, ele quase não esboçava reação nenhuma.  

-Eu não me divirto com os fracassos dos outros, Valerie. Essa missão é sua.

Ergui as sobrancelhas, surpresa:

-Ai. Isso doeu. O garotinho da Terra não tem receio de ter ferido meus sentimentos?

-Quando se trata de você, eu não preciso me preocupar com essas coisas. 

Então agora ele tinha resolvido mostrar como se sentia. 

-Que fofo. Não me surpreende que sua amiguinha da Água tenha escolhido ficar com Jason. - dei alguns passos na sua direção, pegando uma vara que tinha deixado em cima de uma mesa. -Ele deve saber como satisfazer uma mulher. Já você... - toquei seu queixo com a vara, erguendo seu rosto de modo que seus olhos encarassem os meus. -Talvez consiga fazer isso também. Só que com as plantinhas do quintal da sua casa.

Ele suportou meu olhar por alguns segundos, antes de virar o rosto, magoado.

Dei uma gargalhada alta. Quando foi que me tornei tão má assim? Que verdade seja dita, não sei direito. Mas algo que eu sabia muito bem era que estava achando o sofrimento dele animador.

-Ora, não fique triste. - fiz biquinho. -Logo você vai ver eles de novo, meu pequeno broto. Quer dizer, se as mensagens que eu mandar para Ágata forem ouvidas, porque não sei se você sabe, mas ouvi dizer que ela não gosta muito quando falo com ela. A coitada fica meio perturbada. Eu não ficaria surpresa se quando a visse de novo ela estivesse meio maluca.

Ele se sacudiu, fazendo um som terrível com as correntes.

-Você não pode fazer nada contra ela! Não tem poderes! - ele vociferou.

-Você que pensa, pequeno broto. Primeiro, sou imortal, coisa que nem você, nem seus amigos são. Segundo, suguei boa parte da sua energia elemental, então tecnicamente, tenho poderes sim. - dei um sorriso triunfante ao vê-lo perder a pouca cor que tinha no rosto.

Passei a vara carinhosamente por seus ombros.

-O que acha que fiz enquanto você estava inconsciente? Tomei chá? - eu não conseguia parar de rir. -Pobre pequeno broto. Tem que parar de ser ingênuo. Se quiser sair daqui vivo, vai ter que ser muito esperto. Eu não sou de facilitar para ninguém. - dei uma piscadela. -Mesmo para alguém tão bonito como você.

-Você é sádica. 

-Ah, obrigada. - eu disse, virando-o de costas. -Agora, está na hora de nosso exercício. Afinal, você tem que estar forte para uma festa na semana que vem. 

-Do que você está falando?-ele perguntou, olhando desconfiado para minhas mãos. 

-Não tenha medo. Você já vai saber.-eu disse, antes de descer a vara com um baque sobre suas costas.

Quando ele urrou de dor, outro grito foi ouvido na minha cabeça. Eu estive certa quanto a Profecia este tempo todo, pensei, satisfeita. Todos eles estão conectados.

Eu já tinha o Elemental, afinal de contas.


Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora