53: O Começo do Fim

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MEUS OLHOS ESTAVAM tão inchados que eu quase não podia abri-los. Não que eu fizesse muita questão de ver qualquer coisa. Eu não estava fazendo questão de fazer muita coisa ultimamente. O enterro havia sido dois dias atrás, e eu ainda não conseguia acreditar em tudo que estava acontecendo.

Meus pais estavam mortos. Mortos. E por culpa de quem? Por causa de quem? Valerie. Ela e sua fome de poder. Quando é que isso iria parar? Quando ela iria parar, quando a minha vida e a de Jason, quando a vida das pessoas que amávamos... Quando seríamos deixados em paz de uma vez por todas, sem precisarmos nos preocupar com quanto tempo duraria?

Fechei os olhos e senti as lágrimas escorrerem mais uma vez. Lágrimas que eu achava não ser mais capaz de derramar. Que eu achava terem acabado no dia em que dei meu último adeus aos meus pais, quando tentei pedir perdão por ter causado tudo aquilo. Porque eu podia culpar Valerie, mas a culpa também era minha. Pelo fardo que eu trouxera para a minha família. Pelo fardo que eu traria para Cameron quando ele nascesse.

Um frio de congelar ossos me atingiu, quando eu pensei no que Valerie havia me dito. Será que a minha vida estava condenada? Que eu não viveria para ver meu filho crescer, nem estaria ao lado dele para ampará-lo quantas vezes ele precisasse?

Será que a última dor que Valerie me infligiria seria me matar antes que eu pudesse ter meu filho nos braços pelo menos uma vez?

- Ágata. - a voz de Jason soou, em meio a escuridão. Pelo menos Cameron teria Jason. Ele teria sim, alguém para cuidar dele. E Jason nunca falharia. Seria um pai tão bom.

Mais uma vez senti as lágrimas inundarem meus olhos e um soluço quase escapou da minha garganta, quando eu agarrei o travesseiro, tentando abafar o choro.

- Ágata... - Jason disse, em meio a um suspiro, chegando mais perto. Tirou com cuidado os cabelos do meu rosto, suas mãos enviando um carinho morno em minha pele. Eu sabia o que ele estava fazendo.

Afastei suas mãos, me sentando para que pudesse ver seu rosto, que me encarava confuso.

- Pare. Pare de tentar me acalmar. Pare de gastar energia comigo. - eu disse, e antes que ele pudesse abrir a boca para protestar, continuei: - Eu sei que você me ama. Eu sei que faria qualquer coisa por mim. E eu te amo também, Jason. E é por amar você que quero que pare de se sacrificar tanto por mim. Eu vejo o quanto está exausto. Então eu te peço, me deixe cuidar de você do mesmo jeito que sempre cuidou de mim. Descanse.

Jason esticou a mão para tocar meu rosto mais uma vez, enxugando uma lágrima em minha bochecha.

- Eu não gosto de te ver assim. Ver você sofrer e não poder fazer nada...

- Você não tem que fazer algo, Jason. - eu disse, olhando em seus olhos castanhos dourados. - Haverá vezes em que eu estarei sofrendo e você não vai poder fazer nada além do que você sempre faz.

Jason respirou fundo uma vez. Então de novo, baixando o olhar.

- Você está bem? - perguntei em sussurro, preocupada.

Ele negou com a cabeça, ainda olhando para baixo. Esperei em silêncio até que ele estivesse pronto para me dizer o que estava pensando, pronta para entender se ele também não quisesse dizer nada.

Mas então ele ergueu o olhar para mim e percebi que era a primeira vez que eu via seu rosto. Seu verdadeiro rosto, não mais uma de suas facetas baseadas em força e autocontrole. Era só... ele. Jason. Vulnerável e sensível e livre de qualquer falsa emoção que precisasse fingir sentir para que as pessoas sempre o vissem como a parte mais sólida de uma grande rocha. Era apenas seu eu real, o que se permitia sentir dor. E era incrivelmente lindo.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora