Querido Thomas,
Eu sugiro que apareça logo. O seu sumiço tem feito com que as pessoas que não concordavam com Jason sobre você ter culpa no que aconteceu comigo estão começando a achar que ele tem mesmo razão. Além disso, tenho que avisá-lo sobre um perigo recentemente descoberto. Pode parecer loucura da minha cabeça, mas a Deusa que nos doou os Poderes Elementais está de volta. Eu sei, eu sei. Ela devia estar morta. Mas não está.
Toda vez que fecho os olhos ela está em minha mente, dizendo que se não eu, pode ser você, Aurora ou Jason. Não quero que nada de mal aconteça a nenhum de vocês. Thomas, você precisa voltar. Precisa dizer que nada foi culpa sua, precisa ficar em segurança. Por favor, por favor, volte. Seus pais estão preocupados com o seu bem-estar e eu também. É insuportável não saber onde você está ou se está bem.
Esta é a décima carta que deixo na copa da Árvore Verdejante, onde você disse que sempre que eu precisasse você estaria lá. Sei que magoei você por não contar sobre o meu noivado com Jason. Desculpe por isso. Em nenhum momento quis te deixar de fora da minha vida. Por mim, apareça. Por mim, fique bem.
Massie Ágata Madeleine Bloom Wave
— Não acredito que você ainda está escrevendo cartinhas endereçadas àquele grande idiota. – disse Jason atrás de mim, suas mãos dentro dos bolsos do terno negro.
Girando com velocidade, fiquei de frente para ele. Já fazia quase dois meses que Thomas estava desaparecido e o frio começava a dar as caras em Goddess Falls. O tempo era muito estranho por aqui, observei, olhando para o chão úmido coberto de neve. Meu vestido azul claro tinha gola alta, com mangas rendadas até os pulsos, onde minhas luvas brancas se encontravam com o tecido. Meus cabelos brancos estavam trançados em um penteado delicado, formando uma coroa no alto de minha cabeça.
Os muros do castelo de pedra do Reino do Fogo estavam a uns quinhentos metros de distância de onde estávamos, mas havia uma trilha de tochas que eram durante a noite acesas, para indicar a direção certa a quem estivesse em duvida de onde ir. Como o dia ainda estava começando, isto não era necessário.
— Não gosto que você fale assim dele. — eu disse. — Ele não tem culpa alguma no que aconteceu comigo e eu já disse isso. Então por favor, pare de falar desse modo quando ele nem ao menos está presente para se defender.
Ele bufou, irritado. As madeixas preto-azuladas de seu cabelo se agitavam com o vento forte. Jason odiava o tempo frio, mesmo não fazendo a mínima diferença para ele, que era uma fornalha ambulante. Na paisagem branca ele se destacava com o terno escuro, que ele usava todos os dias agora. Parecia ansioso todos os minutos do dia, como se esperasse por um ataque surpresa a qualquer momento. Eram pouquíssimas as vezes em que ele não estava ao meu lado.
— Sinceramente acho ridícula essa sua mania de defendê-lo o tempo todo. Ele nem se importou com o fato de você ter levado uma pancada forte o bastante para ter morrido. E você pode dizer o que quiser sobre ele ser inocente, mas não acha nem sequer estranho ele ter desaparecido logo depois do que aconteceu com você?
Fiquei calada. Não adiantava discutir com Jason. Um brilho raivoso perpassou pelos seus olhos castanhos. Sutileza nunca fora um de seus atributos.
— Não sei por que você fica tão zangado por algo tão pequeno.
Minhas palavras pareceram inflamar algo dentro dele, que respondeu, com um tom que eu só podia entender como frustração pura:
— Recusa-se a ter uma conversa decente comigo e está sempre me evitando. Por quê? — ele indagou, e a dor na sua voz fez com que eu me retraísse. — Por que faz isso comigo se tudo o que andei fazendo durante todo esse tempo foi cuidar de você?
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Crônicas de Água e Fogo: O Elemental
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