18: Hora de Lutar

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ASSIM QUE ABRO OS OLHOS, dois núcleos dourados me encaram de volta, analisando-me de forma perturbadoramente lenta, atentos ao menor indício de dor vindo de mim. Tento dizer algo, mas o olhar repreensivo que recebo em troca me silencia. Jason está com raiva, posso sentir daqui, e eu realmente não queria estar perto dele quando explodir. Me movo com dificuldade pelo colchão, até estar sentada. Ao avistar meu pé enfaixado, faço uma careta, as lembranças da noite anterior me atingindo como um soco.

– Desculpe. – solto de uma vez, a voz rouca de sono saindo como um murmúrio cansado.

Jason sorri, mas aquele sorriso é raivoso, carregado de ódio. Ele desvia o olhar do meu rosto, passa as mãos pelos cabelos, respira fundo. A roupa é o mesmo terno preto de ontem à noite, o paletó agora amarrotado, a gravata desfeita e a camisa de seda negra com vários botões abertos.

– Você prometeu. – ele disse, com o tom de voz comedido.

– Jas...

– Não! Não, não, não. Por Deus, mulher. Por que diabos não pode me ouvir? Eu pedi para que não fosse longe, não saísse da minha vista e você fez tudo exatamente ao contrário, logo depois daquela maldita dança! – ele segurava o encosto da cadeira com força, e logo um cheiro de queimado invadiu minhas narinas. Ele soltou a cadeira e a marca de suas mãos estavam gravadas na madeira. – Depois de termos nos unido um ao outro, você decide colocar sua vida em perigo. Me diga, só para eu começar a me preparar: pretende se matar em breve ou só gosta de me ver puto da vida constantemente?

– Jason...

– Aquela escória humana queria matar você. E iria matá-la se eu não tivesse aparecido. Mas tudo vai se resolver.

– Tudo já está resolvido, Jason. – tentei acalmá-lo. – Olhe para mim. Estou bem.

Quando seu olhar encontrou o meu, tudo que pude ver foi dor sendo substituída por uma calma assassina em sua íris, que parecia pegar fogo ao passo que a minha nublava em violeta.

– Não. Não está resolvido. Vou achar quem mandou aquele homem. Vou achar e vou matar. E vai ser lentamente, tão lentamente que quando eu acabar não vai sobrar muito pra queimar.

– Jason, está acabado. Ele, seja lá quem for, falhou. O seu capanga morto teve o que mereceu e vai servir de aviso. Esqueça isto. Agora. – meu tom de voz não deixava dúvida do meu ponto de vista.

– Não respondo à você. – ele sorriu, parecendo satisfeito consigo mesmo pela primeira vez na conversa. – Você é só uma mulher louca que gosta de brincar com a própria vida e comigo ao mesmo tempo. Uma mulher louca e cruel que se aproveita dos meus sentimentos para me fazer de tolo.

– Você não é tolo. – discordei de imediato.

– Não? E o que sou por acreditar em falsas promessas?

Virei o rosto, magoada.

– Não fiz uma promessa falsa. Foram as circunstâncias. Se alguém precisasse de ajuda, você a deixaria sozinha? – indaguei, trêmula.

O tom de Jason foi implacável quando disse:

– Sim, se isso significasse a minha palavra para alguém que me ama.

Esfreguei os olhos, tentando clarear as idéias.

– Precisavam de minha ajuda. Eu não tive escolha.

– Não, não precisavam! Você não tinha nada haver com aquele homem, você não o conhecia e não havia nada que você pudesse fazer para ajudá-lo. – ele fechou a mão em punho, tremendo de raiva. – Você sabe quantas pessoas se aproveitam de meninas como você, que só vêem o bem no próximo e estão sempre prontas para ajudar? Milhares. Milhares em todos os lugares. Porque em todos os lugares têm pessoas ruins, dispostas a matar, roubar e fazer as outras sofrerem.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora