Jaqueta.

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Eu tamborilava meus dedos na mesa cinza daquela sala escura. Estava nervosa, isso era muito mais do que óbvio, mas tentava, ao máximo não transparecer isso. O horário marcado foi quatro horas da tarde, faltava cinco minutos para cinco e eu estava sentada naquela cadeira há quase uma hora, sem me mover, sem me levantar. Tudo o que conseguia era mover o rosto para a porta e, em seguida, para a Detetive Lee quem não parava de andar naquela sala, escura e abafada, um mísero segundo desde que percebemos o atraso e cogitamos a possibilidade de Sohyun não aparecer.

- Ela costuma mentir assim? – Lee bufou sentando na cadeira a minha frente enquanto bagunçava os cabelos curtos e ajeitava a blusa social.

Não respondi. Eu não sabia a resposta. Nunca tive uma relação, em todos esses anos com o Jinwoo, com ela a esse ponto. Do que ela gostava? O que ela fazia da vida? Ela tinha irmãs? Quantos anos tinha? Era nativa de Seul? Qual seu programa de televisão favorito? Honestamente, eu nunca fiz questão de saber nada disso, e ainda não fazia, mas era assustador me dar conta de que tudo o que eu sabia sobre a mãe do cara que namorei por seis longos anos era apenas o nome e o sobrenome e o quanto ela me detestava. Bufei impaciente. Ela não viria, Kim Sohyun não apareceria e isso estava mais do que óbvio, por que ainda esperávamos por sua presença?

Fiquei de pé arrastando a cadeira de aço para trás e a porta da sala de interrogatórios de se abriu. E aquela mulher que entrava era uma mulher completamente diferente da Kim Sohyun que eu estava acostumada a ver, a nojenta e metida Kim Sohyun. Talvez eu não a reconhecesse se não fosse por seu nariz que insistia em ficar em pé, mostrando a superioridade que não tinha e nunca teve.

Veja bem, a Kim Sohyun que conheci era uma mulher alta, magra, que prezava sempre por seu corpo de tábua fazendo exercícios e dizendo que ser saudável era ser magra. Quando a conheci ela possuía cabelos longos e dourados, uma época seu cabelo esteve tão platinado que, realmente, tive dúvidas sobre estar branco ou loiro, mas ela se sentia incrível daquela maneira e isso que realmente importava, certo? Ela costumava usar lentes de contato azuis e lembro que quando nos conhecemos, eu, uma mera adolescente, perguntei se ela só tinha aquelas lentes naquele tom específico, porque realmente eram muito bonitos. Mal conseguia notar que era lente, mas ela não gostava de admitir tal fato.

E agora, Kim Sohyun, entrava por aquela porta com os cabelos curtos, mais curtos que os meus e um tanto maiores que os de Sunhee, eles estavam abaixo de sua orelha, e pretos. Extremamente pretos como carvão. Estavam incríveis, mas não parecia ela. Nada ali parecia ela. Sohyun não usava lentes, nem centenas de joias em mãos – ou bijuterias, eu nunca saberei e não me importa. Ela parecia pálida e ainda mais magra que o comum, usava uma roupa sem cor, sem vida, o que combinava perfeitamente com ela. Sohyun parecia completamente sem vida e eu me perguntava se isso se dava por causa do sumiço de seu filho. Talvez fosse, não sei como uma mãe se sente, mas eu sentia que tinha algo a mais naquilo tudo, naquele alguém que ela havia, assustadoramente, se tornado.

Ela me fitou, de pé, logo desviou o olhar para a Detetive Lee, quem se levantava para cumprimentá-la. Logo percebemos que ela não estava só, o primo de Jinwoo entrava na sala com uma pasta em mãos, e logo soube que ele era o advogado de Sohyun apenas ao lembrar de quando Jinwoo disse sobre seu primo ser estudante direito. Ele me cumprimentou com uma breve reverência formal e a retribui antes de me sentar na cadeira, novamente.

- Olá senhora Kim. – Lee apertou sua mão com firmeza. – Fico feliz que tenha vindo.

- Perdoe o atraso. – Ela disse com sua voz insuportável. – Tive uns problemas pessoais para resolver.

- O importante é que está aqui. – Lee apertava, agora, a mão do advogado. – Prazer, Detetive Lee Sooyoung.

- Prazer, advogado Lee Monbil.

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