9 - Sob o lençol

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Muitos queriam acreditar que o corpo caído no palco, quando as luzes foram acesas e as cortinas automaticamente içadas, ainda fazia parte da encenação, mas quando uma sirene se ouviu do lado de fora da escola, suas esperanças acabaram.

Algumas pessoas ainda mudaram o foco da esperança para que nada de mais grave houvesse ocorrido, mas quando os policiais cobriram o rosto da vítima com um lençol branco, não houve mais o que fazer senão se aproximar da família que assistia a tudo e lhe render solidariedade nesta hora tão triste.

Aos poucos o anfiteatro foi se esvaziando, enquanto as pessoas eram pacientemente ouvidas pelos primeiros investigadores que chegaram ao local, que anotavam seus nomes e contatos, para o caso de servirem como testemunhas do fato.

Somente o Príncipe de Gales com sua esposa foram liberados sem tanta burocracia, mas ele pediu empenho na investigação antes de deixarem o local.

— Quero que o Palácio de Buckingham seja informado de qualquer novidade.

Os alunos, ainda chocados pelo episódio, foram os últimos a serem liberados juntos com seus familiares, mas não puderam nem trocar suas roupas, pois como o local todo agora poderia fazer parte do cenário de um crime, deveria ser preservado.

No fim o que restou da encenação foi somente um corpo coberto no centro do palco, faixas amarelas esticadas na horizontal com um policial de prontidão ao lado, no aguardo da polícia científica.

Uma cena triste de se ver, principalmente porque a mão da vítima insistentemente fazia questão de se mostrar e escapava sob o lençol, assim como o fez antes através da cortina, como que confirmando que um ser humano ainda existia ali.

Sem vida, mas ainda existia...

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Por toda a madrugada as autoridades policiais permaneceram na escola, fazendo o seu importante trabalho, enquanto a imprensa se acotovelava do lado de fora para conseguir alguma manchete.

A notícia principal que circulava na mídia era que após 100 anos do trágico acidente que chocara Luton no ano de 1911, uma infeliz reprise aparentemente acontecera, restando apenas a confirmação dos detalhes pelas autoridades competentes.

Por volta das 10 horas uma coletiva de imprensa foi marcada, onde o comissário de polícia Hector Scott fez um breve resumo das investigações.

— A vítima aparentemente sofreu um ataque cardíaco no final da apresentação. Uma das testemunhas informou que a vítima caiu e começou a tremer, o que foi confirmado por mais outras duas testemunhas.

— O corpo foi levado para uma autópsia preliminar e a escola permanecerá inacessível até termos a certeza da causa da morte.

Muitos braços dos repórteres foram levantados, mas o comissário não respondeu a mais nenhuma pergunta, o que fez com que as especulações em torno do ocorrido tomassem rumos fantasiosos de todos os tipos.

Até o fim da tarde existiam comentários de que a MES era assombrada e de que a própria Catarina Campbell viera buscar a alma de mais um aluno, uma vez que a peca, que reproduzia sua fatídica morte, a despertara de seu descanso eterno.

As emissoras de TV tentaram a todo custo entrevistar algum aluno que participou da apresentação, mas eles foram proibidos pela polícia de prestar informações.

Já anoitecia quando Sky News surgiu com uma possível testemunha do ocorrido, um aluno da classe da vítima, que era um dos figurantes da peça. Por sorte, antes da matéria ir para o ar, descobriram que se tratava de um golpe e o adolescente desapareceu minutos antes da chegada da polícia.

Exatamente doze horas após a primeira coletiva, o comissário Scott retornou com mais informações oficiais.

— Infelizmente não trago boas notícias. A autópsia revelou que a vítima sofreu um ataque cardíaco, mas que foi motivado por envenenamento.

— A polícia já tem algum suspeito Sr. comissário?

— Ainda estamos investigando todos os passos que levaram a sua morte. O que temos de concreto até agora é que a vítima foi envenenada durante a apresentação teatral. Foram encontrados vestígios do veneno na sua pele em grande abundância.

— Quando poderemos ter acesso às instalações da escola?

— A partir do momento que soubemos do envenenamento, a MES, toda ela, se transformou na cena de um crime. Ainda estamos colhendo provas, portanto não podemos precisar quando a escola será liberada para a sua direção.

— Não existe o risco do envenenamento ter sido causado por um acidente, comissário Scott?

— Infelizmente não, se trata mesmo de um assassinato planejado, já encontramos um frasco contendo o veneno num dos dormitórios. Estamos investigando a origem deste veneno, para fazer a devida ligação com os suspeitos.

— Uma última pergunta: de que veneno estamos falando?

O comissário com um semblante preocupado encarou o repórter, antes de responder.

— Acônito...

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora