59 - Um visitante

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A viagem pela Europa fizera bem para ela.

Se encontrava ainda mais radiante e querendo urgentemente ligar para alguém, de quem ficou por mais de um mês separada, pois os pais insistiram em esticar o passeio e torná-lo ainda mais longo.

Não havia levado seu celular particular. Este ficara no cofre da família em Londres. A viagem, segundo sua mãe fez questão de frisar, era para a família e eles concordaram que o mundo exterior poderia ficar por um tempo longe de suas vidas. Tudo por uma ânsia em se recuperar o tempo perdido, de quando Agatha permanecera presa.

Uma das primeiras coisas que ela fez foi carregar o celular e depois verificar as ligações e mensagens existentes.

Várias daquele que sentia saudades estavam na lista, mas as ignorou, colocando sua atenção a dois outros números conhecidos e que a conduziam novamente para um passado que, por alguns dias, ela quase chegou a esquecer.

Ignorou essas duas ligações e foi direto para aquelas que realmente lhe interessavam.

Mais tarde naquele mesmo dia, a curiosidade falou mais alto e resolveu ver do que se tratavam as mensagens que ainda não havia lido.

Optou por ler primeiro a do investigador Thompson, homem pelo qual nutria um carinho especial.

Sentira um tipo de raiva dele no passado, pois ele tinha ajudado a prendê-la, mas com o tempo percebeu que não existiu nada pessoal no trabalho que ele havia realizado e nem no seu depoimento no julgamento. Ele agiu honrando o profissional que era.

Ele também foi o homem que lhe deu a notícia da sua liberdade, antes mesmo que ela ocorresse e esse dia ficaria gravado na sua mente pelo resto de sua vida.

Acionou a caixa postal do celular e ouviu atentamente a mensagem que ele lhe deixou, mas ficou sem entender absolutamente nada.

Thompson deixava claro que o professor Green invadiu duas vezes sua casa, com algum tipo de intenção que ele desconhecia até o momento e que talvez somente ela pudesse auxiliá-lo a decifrar esse mistério.

Ele contou sobre o quadro, dando detalhes sobre o mesmo e sobre a mensagem sobre um suposto assassino à espreita dela.

Após terminar de ouvir a mensagem, Agatha foi procurar o quadro. De fato o achou estranho, pois a tela estava vazia. 

Não tinha paciência para enigmas e resolveu ouvir imediatamente a mensagem deixada pelo professor Green, mas ficou decepcionada, pois se tratava de somente uma palavra: livro.

Livro? - ela pensou.

Ela não se lembrava de nenhum livro em especial, mas se existia um local onde pudesse encontrar algum que tivesse alguma pista seria na biblioteca de sua mãe.

Seu pai se encontrava fumando um cachimbo e lendo o jornal quando Agatha entrou no aposento.

- Notou alguma desordem aqui na biblioteca, papai?

Ele levantou os olhos do jornal.

- Não? Mas por que haveria?

De maneira alguma ela deixaria seus pais preocupados novamente. Mais um erro que levaria em suas memórias.

- Antes de viajarmos vim atrás de um livro recomendado por um amigo e não me recordo se deixei tudo em ordem...

- Um livro? Para você mesma, filha? - respondeu ele de forma alegre.

- Eu sei! Alguns costumes mudam. Estava atrás de uma boa leitura.

- Ora, mas então fale com a sua mãe, que já leu tudo que temos aqui.

- Farei isso, papai, mas me deixe dar uma olhada antes.

Ele consentiu e Agatha começou a verificar nas prateleiras. A princípio, não tinha nenhuma ideia do que procurar. O que tinha em mente era que ambos, professor e investigador, de certa forma sugeriam a mesma coisa: cuidado com um assassino que se encontra a solta. 

O único local em que havia presenciado um assassinato era na MES, então foi procurar na letra M.  Passou por vários livros e quase no final da prateleira, viu um que não combinava com os demais.

Era velho, menor e não tinha título algum na sua lombada. Retirou-o de lá, levando outro junto para disfarçá-lo e se despediu de seu pai.

Novamente no seu quarto, trancou a porta e começou a folhear o exemplar encontrado e logo descobriu se tratar de um diário muito antigo.

Quando leu o nome da proprietária, seu sangue gelou. 

Perto dali, enquanto Agatha revirava o diário de Catarina Campbell em busca de alguma conexão com o retrato, um rapaz espreitava a residência, pensando se seria sensato ou não visitar a amiga, que ficou sabendo que retornara para a cidade na noite anterior.

Resolver ligar para ela e foi direto ao ponto.

- Como vai Agatha, gostaria de vê-la.

- Mais que coincidência interessante, pois eu estava pensando no senhor justamente neste momento. Não pode vir até minha casa?

- É claro que posso, estou nas imediações.

- Então faça isso. Deixo avisada a nossa empregada que estou lhe esperando. 

- Mas como fui rude - continuou ela - Nem lhe perguntei por que queria me ver.

- Apenas saudades da amiga. Vontade de falar sobre as novidades...

Ele desligou e ficou por 15 minutos enrolando por ali, para não dar na cara que estava praticamente na casa dela, depois atravessou a rua e tocou a campainha.

Se apresentou para a senhora que atendeu a porta e ela o conduziu até o quarto de Agatha.

Quando a viu sentiu seu coração acelerar, pois ela estava mais linda do que costume. Se cumprimentaram com um aperto de mão e Agatha o convidou para entrar.

Depois de lhe explicar o que queria, uma ideia perfeita se fez na mente dele, pois tudo conspirava para que seu plano saísse exatamente como queria. Parecia que o acaso vinha em seu auxílio.

Sem que ela notasse, ele arrancou uma das folhas do diário e a guardou no bolso do seu casaco.

Depois de ficarem um tempo estudando e refletindo sobre o caso, ele sugeriu que a resposta só poderia ser alcançada se fossem para a MES.

Agatha raciocinou sobre os argumentos dele e concordou que ele tinha razão.

- Pena que teremos que esperar o início das aulas para poder visitar a escola - disse ela desanimada.

Ele arrancou um molho de chaves e mostrou para Agatha, que ficou sem entender.

- Eu ainda tenho meu aposento na escola e passe livre para entrar. Preciso mesmo retirar uns pertences meus que ficaram por lá. Podemos ir ainda hoje, se a senhorita quiser.

- Ainda hoje?

- Sim! Eu prevejo que seja importante solucionar este mistério todo, haja vista as mensagens que recebeu...

- Tem razão, meu amigo. Espere um pouco que vou me vestir adequadamente e já podemos ir.

- E quanto aos seus pais? Não vão ficar preocupados se disser que vai para a MES?

- Fique tranquilo! Vou dizer apenas que sairei para um passeio.

O seu último passeio - pensou sorrindo o rapaz.

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora