23 - Sob outra ótica

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Para onde se olhasse em Londres, devido à proximidade do encerramento das Olimpíadas 2012, você poderia notar grupos e mais grupos de atletas de todas as nacionalidades, conferindo um colorido todo especial para a metrópole inglesa.

Apesar deste festival de cores, ele andava numa calçada disputada por turistas e atletas, e o fazia de cabeça baixa onde seus pensamentos estavam em outro lugar ao norte, precisamente em Luton, que abrigava a MES.

Tentava rememorar todos os aspectos investigativos que levaram a morte de Emilly Wilson, a ligação com o suposto crime de Gerard Beaumont e a prisão de Agatha T. King como única culpada.

Contudo, em sua mente inteligente, alguns detalhes pareciam não se encaixar, fazendo com que ele deduzisse que a investigação havia sido falha e que poderiam ter colocado, de fato, uma inocente atrás das grades, como a Srta. King fazia questão de gritar aos quatro cantos quando tinha uma oportunidade.

Agora, mais de um ano depois, tudo parecia tão obvio, claro como a água, então por que os investigadores, o júri e o juiz engoliram toda essa história? - ele perguntou para si mesmo.

Imaginava que algo mais existia ali, talvez um tipo de complô com o intuito de realizar mais uma ação que trouxesse um novo rumo ao caso, mas não era assim que funcionava a justiça inglesa, se ela não estivesse convencida da culpa de Agatha, está jamais permaneceria presa...

Falando nela, imaginou que seria bom ir vê-la, ouvir de sua boca todos os fatos novamente, detalhe por detalhe, e tentar pescar ali algo que os investigadores deixaram passar.

Tinha que ter cautela para não levantar falsas suposições - pensou ao chegar na Trafalgar Square e se apoiar num chafariz - Podia começar uma nova investigação do início, mas para isso precisaria de um motivo para não levantar suspeitas.

Pegou sua agenda e fez uma lista daquilo que precisava fazer:

Procurar os investigadores;
Buscar informações na escola;
Falar com o reitor, amigo de Gerard;
Visitar Agatha...

Estava esquecendo de algo importante, mas resolveu não se preocupar com isso agora, pois tinha certeza de que se lembraria.

Na folha ao lado da agenda, lançou alguns tópicos para refletir:

Ela poderia ter matado ou arquitetado a morte dos dois?
Se foi ela, quem poderia ter lhe ajudado?
Se não foi ela, então que foi?

Sabia a possível resposta para sua última reflexão, muitos pensavam da mesma forma: o professor Green!

Se houvesse um caminho para uma reviravolta no caso, teria que ser conseguida através dele, mas não queria focar erroneamente sua atenção no professor, pois se a polícia tivesse algo concreto para prendê-lo, ele não estaria livre para dar seus passeios em Londres...

- É isso! - falou alto assustando uma jovem turista bonita que estava sozinha e que só agora percebeu que o olhava.

- Me desculpe, estava pensando alto - disse imediatamente para ela, ganhando um sorriso encantador.

Não se preocupe! - ela respondeu num inglês perfeito - Eu que me aproximei de você por curiosidade...

- Curiosidade? - agora foi ele quem retribuiu com um sorriso perfeito, que abria uma delicada covinha em seu queixo.

- Sim, eu conheço você...

- Impossível! Eu nem sou daqui - brincou ele descontraído, fechando a agenda.

Ela sorriu novamente.

- Você não é o...

- Ssssssss! - fez ele a interrompendo, colocando um dedo sobre os lábios - Não diga nada, os investigadores da Scotland Yard podem estar nos vigiando...

Ela ficou séria por um milésimo de segundo, até perceber que ele estava brincando.

Riram juntos e se apresentaram formalmente, depois ele quis saber o que ela fazia sozinha naquela praça enorme.

- Estou esperando umas amigas, que fazem jornalismo comigo...

- Jornalismo né...

- Sim! Foi por isso que lhe reconheci...

- Mas Nanna, não me diga, deixe eu adivinhar de que país você é...

- Eu duvido! Ah, ali vem elas, com camisetas iguais...

- E cadê o seu uniforme? Não me diga que vieram torcer para algum país?

- Elas sim, eu estou, digamos, a trabalho...

As três amigas chegaram e se apresentaram em russo, enquanto Nanna conversava na mesma língua e disse algo sobre ele que fez uma delas corar.

- Espero que não esteja me difamando para suas amigas - brincou ele, quando elas se puseram a caminhar.

- Não, elas só me perguntaram se você era um namorado ou algo assim e eu tentei explicar de uma forma convincente, mas sabe como são as garotas...

- E que o disse para elas?

- Que você era um amigo. Fiz mal?

Ele sorriu satisfeito.

- Não, sem problemas. Russa então, dificilmente eu adivinharia...

- Hum, não mesmo! Quer vir com a gente amigo, vamos tomar um chá...

- Claro! Vamos sim, mas antes me diga seu sobrenome, assim eu vou descobrir esse enigma que é a sua nacionalidade...

Ela lhe presenteou com um sorriso, retirando o cabelo loiro que cobria suavemente seus olhos claros.

- Eu ainda duvido assim mesmo...

- Então diga e se eu não acertar eu pago o chá...

- Pois então prepare suas libras, pois eu já disse...

Ele colocou uma mão sob o queixo, balançando a cabeça, demonstrando que não acreditava nela.

- Espere um pouco! - disse Nanna séria - Creio que você esqueceu de algo. Quando eu lhe interrompi você anotava algo em sua agenda. Não era um assunto importante que você se lembrou?

Ele abriu a agenda que continha suas anotações e as leu.

- Que bom que a senhorita me lembrou, de fato é algo importante.

Rabiscou rapidamente o nome de uma senhora inglesa que deveria visitar, sob o olhar atento dela.

- Agora podemos ir.

- Hum, já sei, polonesa?

- Não!

- Espanhola?

- Não...

- Inglesa não é, jamais me chamaria de forma tão informal.

Nanna parecia se divertir muito com aquela brincadeira e o seu sorriso era contagiante.

- Está bem, desisto! Vai me contar?

- Só depois que você pagar o chá...

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