32 - Mais uma vítima

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— Alguma novidade, Turner?

O seu parceiro exibiu uma carranca de dar medo, que divertiu Thompson.

— Não vai acreditar no que aconteceu — respondeu ele desanimado.

— Não pode ser tão ruim assim...

— É pior!

— Conte tudo — pediu Thompson com a sua calma que lhe peculiar.

— Depois que consegui o mandato de busca, os policiais foram para a residência da Sra. Zummach e chegando lá descobriram que o seu jardim, especificamente onde estava plantado o acônito, foi destruído.

— E as mudas que estavam embaixo da terra?

— Arrancadas até a raiz, não restou nada, somente buracos vazios. Eu mesmo fui lá conferir.

Thompson raciocinou por um tempo antes de prosseguir.

— Teremos agora que contar com uma declaração da Sra. Zummach para confirmar a informação da Srta. King...

— Vai ser impossível também. A tia do professor Green está morta...

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Os detetives retornaram para Londres para acompanhar a investigação.

A autópsia preliminar indicou que a Sra. Luana Green Zummach sofreu um infarto fulminante, provavelmente pelo susto ocorrido devido a invasão em sua propriedade, pois não havia sinais de violência em seu corpo.

Foi encontrada no caminho que dava acesso para o seu jardim e o corpo não foi movido do lugar. Estranhamente o socorro havia sido acionado de um celular não identificado, mas quando o resgate chegou ao local, não havia mais nada a ser feito.

As câmeras de vídeo identificaram um veículo escuro, com placas cobertas, onde dois homens vestido com sobretudo e tocas adentraram.

Os detetives aproveitaram para verificar a cena do crime novamente, mas nenhuma pista foi encontrada.

Os invasores forçaram um cadeado da porta dos fundos da propriedade durante a madrugada e foram direto para o jardim, mas não contavam que a Sra. Zummach, que sofria de insônia há muitos anos, estivesse em sua sala de estar, lendo um romance da inglesa Agatha Christie, um gênero de mistério policial que ela adorava.

Thompson pegou o livro — cujo título era O Caso dos Dez Negrinhos e ele conhecia — que se encontrava sobre a mesa de centro, com o marcador prateado perto das últimas páginas.

Ficou triste ao lembrar do final deste livro e de que a Sra. Zummach não saberia jamais como ele terminava, o que só era descrito nestas últimas páginas.

Se entristeceu também por recordar da cortesia dela e de como ela o havia ajudado com as informações prestadas sobre a Srta. King e suas visitas constantes na residência, quando ela e seu sobrinho eram mais próximos.

— Uma adorável garota — pensou Thompson se lembrando do que Sra. Zummach dissera — Inteligente e curiosa como eu costumava ser na sua idade.

Devolveu o livro para a mesa e procurou seu parceiro.

— Você fez contato com o professor Green? — perguntou ele para Turner.

— A Central fez e ele está a caminho daqui...

— Então é melhor irmos embora.

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— Consegui uma informação sobre um documento que creio que vai lhe interessar.

— Referente ao qual caso? — questionou Thompson ao seu contato na Scotland Yard.

— De uma morte recente em Londres que os senhores investigaram.

Thompson apurou o ouvido, agradeceu, depois ligou para Turner.

— Passe me pegar na Central, temos que seguir para Londres...

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O testamenteiro atendia num distrito próximo ao Centro e a princípio não quis colaborar com os investigadores.

— Senhores, estão pedindo que eu lhes forneça informações particulares. Eu sou o executor do testamento e ele é lei.

— Sabemos disso, mas existe um documento que pode auxiliar na investigação de um crime — disse Thompson — E neste caso o senhor obstruiria a justiça...

— E por que não solicitam direto ao envolvido?

Turner olhou fixamente para o testamenteiro.

— O senhor forneceria informações que poderiam lhe incriminar?

Ele pensou por um longo tempo antes de responder.

— Sou um homem honesto. Nada tenho a esconder.

— Então colabore conosco senhor — pediu calmamente Thompson — Não vamos retirar nem uma folha daqui, só preciso ler uma carta deixada pela minha amiga, Sra. Zummach, que foi endereçada ao seu sobrinho...

Algo pareceu mudar na atitude do testamenteiro.

— O senhor detetive a conhecia?

— Sim! Tomamos chá juntos por ocasião de uma investigação. Era uma senhora brilhante e não merecia o que lhe aconteceu.

— Concordo com o detetive. Tenho muitos clientes, mas ela realmente era pessoa especial, atenciosa e generosa. Não media esforços para me tratar com uma cortesia sincera e quando me visitava, para as atualizações que fez, não tinha pressa em ir embora.

— Sim! — completou Thompson — A Sra. Zummach era uma pessoa especial. E como o senhor disse, muito sincera.

— Inclusive foi essa sinceridade — continuou o detetive — que foi de grande ajuda para mim na investigação que citei, do ano passado. Eu lhe pergunto, o senhor acha que ela se importaria que eu lesse esse documento?

O testamenteiro pensou e lhe entregou um envelope.

— Não acredito que a Sra. Zummach tivesse qualquer coisa a esconder, assim como eu mesmo. E concordo novamente com o senhor, ela não merecia morrer da forma como ocorreu, nenhuma pessoa decente merece isso...

Thompson aproveitou a deixa e abriu o envelope, no qual estava escrito em letras desenhadas: Para meu sobrinho Adam!

Leu o conteúdo rapidamente, agradeceu o testamenteiro e partiram.

No automóvel, retornando para Luton, Turner, que já conhecia as manias de seu parceiro de só falar quando tinha algo importante em mente, se cansou do seu silêncio.

— O que dizia na carta? — disse ele de forma direta.

Thompson pareceu sair do seu devaneio.

— Descobrimos algo interessante sobre o professor Green, mas que não auxilia em nada a Srta. King, pelo menos eu ainda não vejo como...

Ele detalhou para o parceiro o conteúdo da carta, enquanto este se manteve impassível e de olho na rodovia.

— Acredito que temos algo aqui sim, Thompson. E se alguém, além da sua falecida tia, soubesse dessa informação e resolvesse pressioná—lo?

— Com qual objetivo? Suborno? A maioria dos alunos é de alta classe?

— Não faço ideia, mas sei quem pode nos auxiliar...

— O professor não vai nos fornecer informação alguma, Turner.

— Ele não, mas existem outros que o conhecem melhor do que nós, talvez até melhor do que ele mesmo...

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora