43 - O recado

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— Preciso que me faça um favor, mas tem que ser em segredo. Será que posso confiar de verdade na sua amizade? Ou será que apenas está fazendo um joguinho comigo, para que eu lhe conte sobre a verdadeira assassina que eu sou?

Agatha esperava que o olhar do sargento Reece demonstrasse que ele ficara ofendido, mas em vez disso parecia estar se divertindo.

— Já lhe disse várias vezes que acredito na senhorita.

Ela balançou a cabeça, incrédula.

— Olha, Agatha, a senhorita já está presa, condenada a passar o resto da sua vida na PB. Que outro agravante poderia ser imputado na sua pena?

— Talvez a justiça inglesa queira uma confissão minha, para divulgar para a imprensa que não errou em me jogar nesta prisão.

— É claro que está correta, senhorita, isto poderia muito bem ser articulado aqui dentro. E eu não sei como fazê-la acreditar em mim, então terá que decidir se pode ou não...

— Por que não me arranja um celular? Só preciso fazer uma ligação.

— Já lhe disse que não posso fazer isso! É contra as normas da PB e eu as respeito. Eu levo a sério o meu trabalho.

— Ora, Sr. Ulric, se diz profissional e fica me paquerando como se eu fosse uma moça que passeia numa praça de Londres...

— O meu trabalho não consiste em tratar mal as prisioneiras, mas exige que eu o faça com o devido respeito.

— E também não me impede de gostar das pessoas — completou ele sorrindo.

Agatha tinha que tirar o chapéu para o sargento. Se ele estivesse encenando um papel de amigo, o estava fazendo muito bem, pensou.

— Então não vai me arranjar um telefone?

— Não!

— Nem deixar a cela aberta a noite para que eu procure um?

— Não!

— Mas se eu lhe pedir para fazer um favor fora da PB, Reece, o faria sem maiores questionamentos?

— Sim! No meu horário de folga faço o que bem quero da minha vida, desde que não seja algo desonesto...

— E não é, meu sargento preferido...

Reece não conseguiu esconder a vermelhidão em seu rosto branco, deixando o azul dos seus olhos ainda mais vivos, o que Agatha achava lindo nele, por isso adorava provocá-lo.

— É apenas um recado importante para um amigo meu — continuou ela — Mas tem que ser enviado ainda hoje.

— E onde está essa pessoa?

— Quer mesmo saber? Venha aqui mais próximo que vou lhe dizer o local e o recado.

Ele se aproximou e Agatha cochichou em seu ouvido.

— Espero que não se trate de um namorado seu, pois não vi sentido nenhum nesta mensagem.

— Nunca tive um relacionamento sério, Sr. Ulric, só me apaixonei pelas pessoas erradas até hoje. E basta entregar o recado exatamente da forma como eu lhe falei, pois ele vai entender perfeitamente. Inclusive ele está esperando esse meu contato. Por favor, diga que vai me ajudar, é importante...

Reece a olhou sério, depois sorriu.

— A senhorita pode contar comigo. Não vejo nada demais em transmitir essa mensagem, mas o que ganharei em troca?

Agatha fez um olhar malicioso e sorriu com ele.

— Quando eu sair daqui lhe darei a honra de passear em minha companhia na capital. Que acha da minha oferta?

— Minha cara milady, eu vou adorar...

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Já passava das 7 quando o sargento saiu da PB. No caminho para sua casa, no distrito de Luton, ficou rememorando o pedido da Srta. King, enquanto observava que a noite nublada prometia chuva.

Resolveu fazê-lo o mais rápido possível, mas não de um telefone pessoal e assim que se deparou com uma cabine telefônica, estacionou seu carro numa travessa próxima e se dirigiu até ele.

Até entrar na cabine, achava o favor que faria algo fácil de ser realizado, mas um nervosismo tomou conta dele assim que retirou o telefone do gancho.

Imaginou que as consequências daquele ato podiam ser desastrosas e pensou em desistir. Mentiria para Agatha e tudo ficaria bem, pois ela não tinha como descobrir mesmo, pensou Reece, se conformando.

No fundo sabia que não poderia enganá-la. Ela era astuta demais e ele não queria correr o risco de magoá-la, pois sentia dentro de si que estava se apaixonando.

— Ah Agatha, me colocou num enrosco.

Tirou o telefone do aparelho, pegou o papel onde anotou o número e fez a ligação.

Depois de três toques uma voz masculina atendeu.

— Olá!

Quem atende a uma ligação dizendo "olá"? — pensou o sargento e teve vontade de rir.

— Boa noite. Tenho um recado para o senhor.

— Então diga — respondeu a voz alegremente.

— Já fiz a minha encenação, agora é o senhor que deve representar...

O telefone ficou mudo por alguns segundos e Reece pensou em desligar, mas antes ouviu uma resposta.

— Estou quase entrando em cena, as cortinas já estão soltas, as vozes sendo aquecidas, mas o roteiro ainda é um mistério...

Depois disso ele ouviu o som do desligamento do telefone enquanto revisava mentalmente a resposta e a rabiscava no pedaço de papel que continha o número.

Leu e releu o que escreveu, corrigindo um trecho da frase. Dobrou o papel e o guardou em sua carteira de documentos.

Saiu da cabine para a noite e foi para casa, em busca do merecido descanso, imaginando o que Srta. King ganharia com aquele recado.

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Derick estava quase pegando no sono quando ouviu a batida em sua porta.

Deu um pulo da cama e após ajeitar seu pijama, foi atender a pessoa que o procurava.

Antes de abrir imaginou que poderia ser a doida da Nanna, que se encontrava alojada por alguns dias na escola, a convite do diretor Ward, para realizar uma grande matéria sobre a MES.

Ficou decepcionado ao ver quem era.

— Preciso falar com o senhor.

Derick espiou pelo corredor e viu que este estava vazio.

— Então entre logo, não quero problemas...

Fechou a porta e quase uma hora depois, quando o visitante já havia se retirado, ficou imaginando como as engrenagens da vida funcionavam de forma perfeita, colocando cada peça no seu devido lugar.

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