62 - Um disparo na escuridão

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Thompson olhava atentamente para o monitor que exibia Derick e Agatha, quando este se apagou, depois a tela foi preenchida por um chuvisco.

Foi acompanhando enquanto um a um dos outros monitores faziam a mesma coisa e em pouco tempo, nenhuma imagem interna da MES podia ser vista ali, por meio eletrônico.

Junto do vigia, seguiram para o acesso principal da escola, mas não conseguiram entrar, mesmo após a porta ter sido destrancada. Era como se uma força sobrenatural mantivesse ela fechada - imaginou o investigador, partindo para uma pequena janela lateral, da qual não conseguia ver nada no interior do local.

Pegou a coronha da sua pistola e começou a bater no vidro, mas era como se a arma colidisse contra um muro de concreto.

- Existe algum outro acesso - questionou Turner ao vigia.

Thompson não esperou a resposta do funcionário da MES e saiu correndo em direção ao carro, com seu parceiro no seu encalço. Sabia exatamente o que devia fazer.

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- O senhor pode vê-la?

O tremor na voz de Agatha denunciava o seu nervosismo, enquanto ela olhava para todos os lados, com o receio de ser surpreendida por uma aparição qualquer.

Derick mantinha o sorriso divertido e zombeteiro no rosto, enquanto observava a dança apavorada da Srta. King, se deliciando por dentro.

Ficou assim a observá-la por mais um tempo, até que se manifestou.

- Eu posso vê-las, seria melhor dizer...

Ela se aproximou dele tentando ganhar um abraço, mas ele evitou seu contato, assim como o toureiro escapa de um ataque.

- Vê-las? - quase sussurrou Agatha.

- Sim! Catarina e Emilly, cada uma do seu lado...

Ela soltou um grito apavorada e tentou sair correndo do palco, mas Derick a deteve.

- Sinto muito, mas a senhorita não pode sair daqui. Lembra! Temos uma última encenação para realizar...

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Os detetives fizeram a volta na escola com o veículo, com Thompson lutando para ver alguma coisa, sob a nevasca que agora os atingia.

Sentiu o carro batendo em algo e parou. Ao descerem percebeu que era um grosso tronco de uma árvore velha, que devia ter sucumbido à tempestade gelada, e que acabou desabando na estrada de terra que levava aos fundos da MES.

Continuaram o caminho a pé, até chegarem num portão que tinha um cadeado médio. Turner retornou ao veículo e trouxe um pé de cabra e minutos depois avançavam por entre a escuridão, com a ajuda de uma lanterna de mão, rumo ao interior da escola.

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Agatha olhou para o rosto de Derick e viu que este se contorcia, exibindo um sorriso terrível.

Estava apavorada por dentro, com a ideia de que espíritos a observavam e a qualquer momento pudessem sufocá-la, mas tentou se concentrar numa lembrança, de quando ainda estava na prisão, pouco antes de sofrer o segundo atentado contra sua vida.

Lembrou-se então do pesadelo onde caminhava num longo corredor e teve que correr para alcançar a falecida Emilly, que ainda vestia a roupa utilizada na peça onde morrera.

A sua antiga amiga a queria ajudar naquela ocasião e assim o fez, fazendo com que Agatha buscasse forças onde não tinha, para lutar e buscar uma saída daquela prisão.

Agora se sentia novamente sufocada, mas sabia, tinha agora plena certeza, de que Derick tramava algo insano contra ela, que ainda não conseguia compreender plenamente o porquê.

Buscando novamente dentro de si uma luz, inspirada na imagem de Emilly que ainda guardava em sua mente, resolveu ganhar um tempo precioso e atrasar o máximo possível os planos dele.

Derick ainda a segurava num abraço apertado, para que ela não deixasse o palco, então se moveu o suficiente para poder abracá-lo também, sussurrando em seu ouvido.

- Me ajude a entender o que está acontecendo... Por que eu?

Ele afrouxou o abraço e a olhou nos olhos. Desta vez Agatha pensou que Derick a beijaria e ficou com mais medo disso do que dos próprios espíritos que os cercavam, mas novamente ele tomou outro caminho.

- Porque já era para a senhorita ter morrido - disse Derick simplesmente - Esta é a conclusão óbvia que já deveria ter chegado.

Ela sentiu o ar deixar seus pulmões, mas fez de tudo para controlar a voz.

- Mas por que? - insistiu ela - Por que eu e não Emilly, como acabou acontecendo?

Ele a soltou bruscamente com tanta força, que Agatha se desequilibrou e caiu sentada no palco.

- Porque não foi assim que eu planejei - berrou Derick, enquanto lágrimas saltavam de seus olhos - Porque eu amava Emilly e a senhorita a matou...

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Tudo aconteceu rápido, como é comum nessas horas.

Quando conseguiram vencer as fundações da MES, formada por inúmeros corredores com paredes de tijolos, e saíram nos fundos do palco onde o casal se encontrava, o investigador chefe viu Derick com a mão direita levantada e percebeu um objeto curto e fino nesta mão.

Viu também de relance a Srta. King de joelhos e percebeu que não tinha tempo para mais nada, pois ele inclinava o braço para trás da cabeça, preparando um golpe fatal.

Agindo por puro instinto, sacou sua pistola de dentro do terno e efetuou um único e certeiro disparo, no mesmo instante em que ele lançou o braço para frente, na direção dela.

Derick caiu sobre Agatha e os dois ficaram imóveis, num quadro pintado de vermelho, na última encenação mortal executada naquele palco.

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