— Então é só isso?
— Aqui não posso lhe dizer mais nada...
— E quando saberei?
— Confie em mim, tenho coisas a fazer. Agora é melhor ir embora...
— Foi um prazer revê—la, Srta. King, apesar das circunstâncias...
O visitante levantou—se, colocou o capuz e partiu. No caminho da saída cruzou com dois investigadores e antes que Agatha fosse levada de volta para sua cela, o guarda a reconduziu para a sala de visitas.
Thompson se posicionou de frente para ela, numa mesa para quatro pessoas, retirando da pasta algumas folhas para suas constantes anotações.
Turner ficou em pé e a observou tomando seu lugar, reparando que mesmo dentro do uniforme prisional, ela continuava muito linda.
— Você veio rápido, senhorita — disse ele — Mal acabamos de chegar.
— Que bom que vieram, estou uma pilha de nervos — disse Agatha desconversando.
— Não é o que parece — falou de forma sarcástica Turner, puxando uma cadeira e sentando quase ao lado dela.
Ela o fuzilou com o olhar.
— A minha educação me permite manter as aparências, detetive. A sua, porém, é questionável...
— Por favor, já terminaram? — interrompeu Thompson sem olhar para eles, depois dirigindo sua atenção para ela, prosseguiu — Como vai Srta. King? Por gentileza, nos conte o que precisamos saber, estamos no meio de outra investigação, correndo o risco de sermos punidos pelo nosso comissário.
— Pretendo ser breve — ela disse sem se alterar — Como devem ter sido informados, sofri um atentado aqui dentro, dias atrás, ainda estou me recuperando.
— Por que acha que a tentaram matar? — questionou Thompson anotando a pergunta nos seus papéis.
— Não tentaram me matar, detetive, somente me assustar. A mulher que me atacou já matou várias vezes, descobri que se quisesse faria isso facilmente.
— E onde ela está agora?
— Ainda internada em coma. Uma colega minha, bem mais forte que o normal, lhe acertou a cabeça e quase a arrebentou.
— Muito conveniente isso! — disse Turner — E por que ela poderia querer lhe assustar?
— Para que eu não os chamasse aqui, é simples...
— Certo, certo! — prosseguiu Turner — Digamos que seja isso mesmo, que esta mulher estava lhe enviando um recado, de quem seria?
— Isto é óbvio até para mim, detetive — Agatha respondeu sorrindo.
— Srta. King, vamos direto ao ponto, por favor — pediu Thompson — Por qual motivo o professor Green desejaria lhe dar, digamos, um susto? Por que não já lhe encomendar a sua morte, se ele se sente ameaçado pela senhorita? Isso não faz sentido...
— Como eu disse no julgamento, os senhores vão ter que perguntar para o professor, que conseguiu um jeito de não ser chamado como testemunha naquele dia.
— Isso é mera suposição! — disse Turner se levantando.
— Não me importo com o que pensa — Agatha disse de forma mais agressiva — Não fizeram o seu trabalho direito e eu vim parar neste buraco que chamam de prisão.
Thompson levantou o braço pedindo calma para os dois.
— Conte—me então de uma vez, senhorita.
Ela respirou fundo e prosseguiu.
— Eu fui incriminada pelo uso do veneno que matou Gerard e Emilly, onde aquela tia ridícula e caduca do Adam redigiu um documento dizendo que eu tive acesso ao acônito, que estava plantado em seu jardim.
— E ela mentiu? — perguntou Turner fazendo uma careta.
— Não disse isso, eu realmente conheci o veneno em sua casa, mas a Sra. Zummach não contou toda a história...
— E o que ela omitiu, Srta. King? — disse Thompson curioso.
— Novamente é tão obvio que até uma criança saberia, detetive.
— Então, por favor, discorreremos sobre obviedades — disse ele.
— Para conhecer e depois aprender a mexer com o acônito, é claro que alguém tinha que me ensinar o caminho ou eu poderia me envenenar acidentalmente.
— Então a Sra. Zummach a ensinou? — questionou Turner.
— Não creio que ela faria isso — disse Thompson pensativo — E a senhorita pode provar?
— Até que enfim uma pergunta inteligente! É claro que eu posso provar, não os chamaria aqui se não pudesse...
— Quando o professor Green me contou sobre os segredos do acônito, estava me falando justamente da beleza desta planta, que se utiliza disso para envenenar. Disse que seria um bom conhecimento saber como manuseá—la e plantamos juntos, cada qual a sua muda de acônito, no jardim da sua tia.
— Colocamos as mudas dentro de saquinhos plásticos de um litro, o qual ele etiquetou e escreveu nossos nomes, para ver qual das plantas vingaria. No fim ambas cresceram saudáveis, o professor me parabenizou e eu esqueci o assunto...
— Você quer dizer estas provas estavam lá no jardim da Sra. Zummach o tempo todo? — interrompeu Thompson — Por que não disse nada antes?
— O senhor estava lá e viu a minha situação, totalmente acuada pela promotoria, com meu advogado se provando um completo incompetente. Quando uni os pontos, aguardei que o professor Green fosse testemunhar para pedir para o Dr. Griffiths o questionar sobre isso, mas ele se safou. No dia do veredito eu não podia dizer que não sabia manusear o veneno, pois seria mentira e existia uma prova documental disso.
Agatha tomou um fôlego e prosseguiu.
— Quis fazer contato com os detetives antes, mas não pude, minha família até tentou, mas vocês não vieram. Podem me ajudar?
Thompson encarou Turner e este concordou com o olhar.
— Faremos isso. Eu sinto muito por não virmos antes, pois somente na última semana recebemos um contato do Dr. Griffiths. Se a informação chegou na Central, por algum motivo, não veio até nós.
— Tudo bem, detetive, acredito no senhor. E sei como pode me compensar, pois preciso de mais um favor...
— Se não for nada ilegal — disse Thompson sério.
— Quero lhe pedir a gentileza de que convença o Derick a me visitar, preciso falar com ele, matar a saudade...
— Eu não usaria este verbo — cortou Turner com um sorriso cínico.
— Quem diria, seu amigo tem senso de humor — ela disse retribuindo o sorriso.
— Vou tentar, Srta. King. Grato pelas informações — Thompson apanhou seus papéis e o guardava na pasta, quando Agatha se levantou e antes de partir, sussurrou para Turner.
— Ah, se ver o professor Green, e espero que o veja logo, diga que também o quero ver...
— Para matar a saudade também, eu suponho? — ironizou ele em voz baixa.
— Não! Dele eu não estou com saudades...
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Encenação Mortal
Mystery / ThrillerEra para ser somente mais uma apresentação teatral da Modern English School of Bedfordshire, que sistematicamente ocorria a cada cinco anos, voltada exclusivamente para os alunos do Sixth Form. Mas algo deu errado no script, colocando em risco a...