53 - O telefonema

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Os dias foram passando e nenhuma novidade surgiu quanto ao sumiço do professor Green, apesar dos esforços da Scotland Yard, que agora tinha mais um mistério, possivelmente relacionado, para desvendar.

Em sua sala, na central de polícia de Luton, Thompson fazia conjecturas sobre um novo caso com seu parceiro Turner, mas seu pensamento estava longe dali, flutuando por Londres, precisamente.

— E o que você acha que aconteceu com ela?

— Espero que não esteja morta... — respondeu Thompson olhando para suas anotações.

— Do que o senhor está falando? Ela já está morta! Há mais de um mês, pelo menos, segundo o legista...

— Me desculpe Turner. Não estou conseguindo me concentrar.

— Vamos parar um pouco. Quer um café ou um chá?

— Só água, por favor...

O parceiro saiu e ele ficou meditando sobre como aquele caso não resolvido mexia com seus pensamentos.

Ainda pensava sobre isso quando o telefone da mesa tocou. Deixou-o tocar insistentemente, até que Turner voltou com a água e uma xícara de café para si.

Percebeu o telefone tocando e o atendeu, fazendo uma careta para Thompson.

— Polícia de Luton, bom dia!

Turner escutou a voz do outro lado e pediu um momento, esticando o aparelho na direção do parceiro.

— É para o senhor!

Thompson levantou o semblante, desinteressado.

— E quem é?

— Não quis dizer. Só disse que é assunto importante e de seu interesse.

Pegou o telefone e ao dizer alô, reconheceu a voz do outro lado na mesma hora, uma voz que tudo indicava ser a de um assassino.

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Ele imaginou que seria bom conversar com o investigador, pois tinha consciência de que seu plano de ficar oculto não daria certo.

Nos últimos meses teve que mudar de esconderijo por várias vezes e os detetives da Scotland Yard quase colocaram as mãos dele, por causa daquela moça estúpida.

Ficou com o sangue dela em suas mãos em mais uma armação de uma louco doentio que o perseguia e que ele ainda não tinha certeza de quem era.

Por isso precisava da ajuda do investigador, para não terminar igual a ela...

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— Investigador, como tem passado! Eu sei que sabe com quem está falando, portanto, não perca seu tempo tentando rastrear essa ligação, pois eu tenho um equipamento moderno ligado ao meu aparelho e no momento em que eu perceber qualquer tentativa de me localizar, desligo na hora e sumo.

Thompson respirou fundo e ficou imaginando se ele estaria blefando.

— Posso ler a sua mente, investigador. Sei que pensa que estou mentindo, mas quero ter uma conversa amigável com o senhor. Eu preciso de ajuda e com isso posso lhe ajudar também. Não me faça desaparecer novamente. O que me diz?

— A qualquer momento o senhor será preso. Sabe disso, não é mesmo?

Turner se levantou ao perceber com quem seu parceiro dialogava e quis deixar a sala, mas Thompson o impediu com um gesto de mão.

— É claro que eu sei! Não sou ingênuo. Mas sabe que eu farei tudo para dificultar isso...

— Sim! Conseguiu se safar bem até hoje...

— Meu caro investigador, se vamos conversar, desejo que o senhor me dê mais um voto de confiança, pois caso contrário, não chegaremos a lugar algum. Pode, por um segundo, acreditar que eu sou inocente?

Thompson riu e, sem conseguir resistir, fez algo que julgava ser inadequado.

— Um segundo é muito tempo...

— Eu não sabia que o senhor tinha senso de humor...

— Da mesma forma que eu não sabia que o senhor era um assassino... — interrompeu Thompson sério, mas antes que o professor pudesse retrucar novamente, prosseguiu — Mas vou lhe ouvir, Adam, pode prosseguir com o que deseja.

O outro lado da linha ficou mudo e o investigador achou que ele podia ter desligado, devido ao seu descontrole. Já se recriminava por isso quando o professor voltou a falar.

— Sinto muito por ter lhe causado tantos problemas, não era a minha intenção, mas o senhor tem que acreditar em mim quando lhe digo que está perseguindo a pessoa errada...

— Então me diga por que eu teria que acreditar no senhor?

— Porque sou a única pessoa que pode lhe conduzir até o verdadeiro assassino.

Thompson respirou fundo e tentou fazer de tudo para se acalmar, mas seu coração batia num ritmo acelerado demais dentro do peito. Ele podia sentir a pulsação em seus ouvidos.

É só a adrenalina — disse para si mesmo.

— Adam, por que acha isso?

— Eu tenho certeza disso! Tudo indica que sabemos quem será a próxima vítima e o assassino, seja quem for, vai fazer de tudo para tentar me relacionar a mais esta morte, como tentou fazer com a sua amiga detetive...

O coração do investigador acelerou ainda mais, mas ele tinha que perguntar, necessitava.

— Sabe onde ela está?

— Me escute com atenção, pois só vou falar uma vez: o assassino a perseguiu, ela vinha falar comigo, tentar fazer eu me entregar, mas ele a esfaqueou primeiro...

— Eu tentei salvá-la, mas não pude, sinto muito, mas me escute, investigador, e pense, pense muito nisso: o assassino vai matar novamente, o senhor tem que detê-lo, antes que ele consiga isso, pois o próximo da lista sou eu...

— Onde ela está? — Thompson gritou no telefone, mas o sinal de ligação encerrada já soava no telefone.

Ele bateu o aparelho na mesa com violência, assustando Turner, que lhe empurrou o copo de água.

Thompson tomou o copo em pequenos goles e foi se acalmando, depois pediu mais um e seu parceiro o atendeu imediatamente.

Já mais calmo, contou todo o diálogo minuciosamente para Turner enquanto o transcrevia, para enviar depois para o seu contato da Scotland Yard.

No final da narrativa, seu parceiro lhe fez um primeiro questionamento.

— Eu acho que o professor se arriscou muito ligando para nós. Qual será realmente a sua intenção ao nos contactar?

Thompson levou alguns minutos pensando em qual seria a melhor resposta e já a tinha escrito no papel, quando a revelou para Turner.

— Ele quer que a gente o encontre, prenda e proteja, pois está com medo de morrer.

— Então acreditou nele?

— Não! Mas ele acredita em cada palavra que me disse ou estava representando muito bem...

Ele ficou com aquele pensamento na cabeça ainda por algum tempo, antes de prosseguir.

— E ele tem razão numa coisa e isso é importante: existe uma possível próxima vítima a quem devemos vigiar, talvez para protegê-la dele mesmo e que está em Londres neste momento.

— Mas ela não está sob proteção policial 24 horas?

— E como isso poderá salvá-la de um louco?

— E o que vamos fazer?

— Ir até a capital, é lógico! — e completou em pensamento — E quem sabe ainda a encontrar com vida, caso Adam esteja mentindo...

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora