31 - O novo aluno

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A sua primeira impressão da escola foi positiva.

Talvez fossem as suas roupas, no estilo rasgado; talvez o seu cabelo, longo e bem cuidado; talvez fosse até a sua enorme mochila camuflada; seja lá como for, enquanto caminhava com destino a diretoria, os olhares de todos diziam que ele era muito estranho e essa impressão declarada lhe causava repulsa.

Apesar disso, era exatamente isso que queria e ficou satisfeito.

O segurança lhe indicou uma cadeira e pediu que aguardasse.

Sentou-se, tirou o cabelo dos olhos, pensou em ligar o celular, mas a secretária do diretor Ward o chamou antes disso.

— Sr. Anderson Taylor, eu imagino.

— Diretor Antony Ward, eu tenho certeza...

Cumprimentaram-se e cada qual se acomodou em sua cadeira.

— Pelo que eu vi, o senhor vai se matricular no Sixth Form e residir nos alojamentos da escola. Essa é a chave dos seus armários, seu uniforme completo se encontra lá, inclusive o manual dos alunos da MES. Alguma dúvida?

— O meu currículo escolar foi enviado para todos os professores?

— Isso faz parte dos procedimentos administrativos. Pode se tranquilizar e fazer a sua parte como um aluno comum...

— E não é isso que eu sou?

Ambos riram e se despediram.

Anderson saiu, aguardou o retorno do segurança que o conduziu até o segundo andar da escola. Esvaziou o conteúdo da sua mochila num dos armários, trocou de roupa no quarto e retornou para o segundo armário, guardando todos os seus pertences ali.

Depois foi se apresentar para o coordenador pedagógico, que o conduziu para sua primeira aula, que era de inglês moderno.

— Seja bem-vindo, Sr. Taylor — disse a professora exibindo um sorriso.

Como era comum, os alunos novos tinham que fazer uma breve apresentação para os colegas, buscando assim um entrosamento mais rápido. Anderson foi solicitado pela professora e, com um olhar malicioso na direção das alunas, realizou de forma tranquila a exigência.

— Oi! Eu sou Anderson, tenho 17 anos, vim de Hexshan, do condado de Northumberland, onde estudei no colégio Queen Elizabeth High School até esse ano.

— Minha família se mudou para Londres no Verão, devido negócios do meu pai. Gosto de artes, fazia parte do corpo teatral da escola e pretendo seguir carreira nessa área.

Voltou para o seu lugar e aula teve prosseguimento normal e ao seu término iniciou o intervalo para o almoço.

O Sr. Taylor se sentou sozinho numa das mesas, mas logo duas garotas da sua classe foram lhe fazer companhia.

— Muito prazer. Eu sou Sarah e esta é Priscilla. Adoramos a sua apresentação.

— Muito obrigado!

— Pelo que eu vi — começou Priscilla — o senhor vai gostar das aulas de artes, o professor Green é muito talentoso...

— Professor Green? Mas ele não tinha saído da MES?

Elas trocaram um olhar e enquanto Anderson continuou.

— Creio que toda a Inglaterra acompanhou o episódio da morte de Emilly...

— Sim, acho que o mundo todo falou sobre isso! - concordou Priscilla.

— O professor Green voltou esse mês para a escola — disse Sarah de forma entusiasmada — Ele é o máximo...

— Estou sentindo uma empolgação muito grande das senhoritas, existe algo que eu não estou sabendo?

— Nem tem como o senhor saber, afinal é o seu primeiro dia — continuou Sarah — mas parece que teremos um novo musical esse ano, em homenagem a Emilly...

— Que será encenada como manda o costume da MES — emendou Priscilla eufórica — pelos alunos do Sixth Form...

Anderson arrumou os cabelos, colocando-o atrás das orelhas.

— Então cheguei na escola na época certa — disse ele sorrindo — Será uma peça romântica?

As duas amigas se olharam e trocaram sorrisos maliciosos.

— Tomara... — disse Priscilla sendo imediatamente interrompida por Sarah.

— Ainda não temos certeza, na semana que vem o professor começará a escolher o elenco e disse que teremos uma surpresa...

— Adoro surpresas! Mas me contem mais sobre os acontecimentos do ano passado...

Eles almoçaram juntos e o Sr. Taylor colheu todas as minúcias que envolviam o assassinato, visto por duas alunas curiosas, que acomparanham todos os acontecimentos de dentro da MES.

Depois subiu para o seu quarto e anotou num diário os detalhes mais importantes do que ouviu, trancou o mesmo num dos seus armários e se preparou para as aulas da tarde.

Somente na manhã seguinte teria a oportunidade de conhecer o famoso professor Green e estava ansioso por isso.

Passou a tarde toda tentando se concentrar nas matérias e no final da tarde pediu permissão para o diretor para conhecer o anfiteatro, que a tantos fascinava.

Foi autorizado e passou uma hora sozinho lá dentro, absorvendo toda a energia do lugar.

Passeou por entre os assentos, andou pelo palco como se estivesse encenando uma antiga peça, chegou a dançar e arrancar sorrisos dos homens que o observavam pela câmera de segurança.

No final, agradeceu a inexistente plateia, se curvando a ponto de encostar as duas mãos no chão, depois acenou para o local exato onde a câmera estava instalada de forma camuflada, assustando os seguranças.

Exibindo um sorriso eles o observaram deixar o palco e estranhamente, num dado momento, se virar e ficar por vários minutos olhando para o nada.

Quando se voltou para sair, o seu belo sorriso havia abandonado o seu rosto.

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora