Já era madrugada quando ela estacionou seu carro num dos subúrbios de Londres. Desceu e, no ímpeto de encontrar rapidamente uma pessoa conhecida, se esqueceu de trancar o veículo, que foi encontrado no dia seguinte pela polícia.
O local estava escuro, iluminado apenas por alguns postes elétricos e o céu nublado servia apenas para aumentar o breu no caminho que seguiria.
Usava seus tênis de corrida e caminhou apressadamente pela calçada vazia. Sabia que teria que caminhar quase um quilômetro para chegar ao seu destino, mas era o mais longe que podia chegar de forma motorizada.
Apesar da noite escura e da garoa leve que caia sobre ela, caminhava, apesar da pressa, despreocupada, como se estivesse fazendo um passeio qualquer. Mal sabia ela que o encontro marcado não ocorreria da forma que planejara, nem muito menos do perigo que corria naquele exato momento, enquanto seguia apressada...
Avistou seu destino, um velho depósito, onde era possível avistar a claridade vindo da janela do segundo andar. Apressou-se ainda mais, chegando quase a correr.
O caminho que seguia passava por diversos acessos a becos escuros. Com a visão periférica, percebeu um leve brilho vindo do próximo beco que passaria, mas achou que era coisa da sua mente.
Infelizmente ela estava enganada e quando estava quase terminando de cruzar o beco, sentiu uma mão segurando seu braço e soltou um grito.
— Calma senhorita, sou eu!
Ela suspirou aliviada ao reconhecê-lo no escuro, mas percebeu que ele trazia algo na outra mão enluvada e, por puro reflexo, conseguiu desviar do objeto cortante, que parecia ser uma faca, a qual ele tentou enterrar na sua barriga.
Tentou acertá-lo com um chute, mas ele também habilmente se desviou para o lado e entraram em luta corporal, do qual somente um dos dois se levantou e fugiu do local.
Respirando sofregamente o ser vencido, com uma mão apertando o abdômen, a trouxe para frente dos olhos e viu que estava ensanguentada. Ao se apoiar na parede do beco para se levantar, uma marca perfeita da sua mão ficou estampada nela, mas logo a garoa se tornou uma chuva mais forte e lavou todos os vestígios visíveis daquela impressão vermelha.
Pôs se a andar mancando, mas em pouco tempo caiu e desmaiou, na mesma hora em que a luz do segundo andar do depósito se apagou.
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Na manhã seguinte, uma chuva ainda mais forte caía, quando uma viatura policial encontrou o carro dela, estacionado, sem estar trancado, após ser alertado por um morador de rua que já tivera problemas com as autoridades e não queria atrair mais problemas para si mesmo.
Após a consulta na central, o policial achou o nome da proprietária interessante, mas nada disse ao atendente. Descobriu que não havia nenhuma denúncia de furto ou qualquer ocorrência relacionada ao veículo. Quando estava para desligar e realizar uma ronda, a central chamou novamente pelo rádio.
— Mais uma informação importante sobre o veículo...
O policial escutou atentamente e levantou uma das sobrancelhas, surpreso pela informação e feliz por que a chuva resolveu dar uma trégua. Solicitou para que o atendente fizesse os contatos necessários e pediu mais alguns detalhes. Um número de celular lhe foi fornecido e enquanto vasculhava o local, ligou para o número.
Seguiu verificando todos os becos do caminho e foi insistindo na ligação para o celular, até que pareceu ouvir ao longe uma melodia dos Beatles começar a tocar e continuou seguindo na direção do som.
Chegou até o beco onde algumas horas antes ocorrera uma luta entre duas pessoas conhecidas e lá no fundo dele, em meio aos latões de lixo, encontrou o celular da proprietária do veículo.
Imediatamente acionou a central e pediu apoio. Aproveitou para revistar todo o local, mas nada encontrou, até que dois detetives da Scotland Yard chegaram, com seus crachás expostos no peito.
Agradeceram ao policial e o liberaram, assumindo a investigação. No aparelho celular encontraram somente uma ligação recebida da noite anterior, mas que pertencia a um telefone público.
Após uma investigação mais minuciosa, um deles, o mais velho, chamou a atenção do outro para uma pequena poça que se formava do outro lado da via, repleto de galpões todos fechados, pois era um domingo.
Caminharam até lá e perceberam que apesar da chuva que lavou todo o local, havia um resquício de sangue, que permanecerá parado junto a guia. Colheram uma amostra do sangue e continuaram seguindo, em busca de mais vestígios, mas não encontraram mais nada de relevante.
Mesmo assim, chamaram apoio e revistaram todos os galpões e depósitos do perímetro.
A chuva voltou e se foi, até o Sol resolveu aparecer, mas apesar de iluminar de forma esplêndida o dia, não trouxe nenhuma luz para a investigação, que no fim de um dia desgastante, na conclusão do seu relatório, o investigador encarregado teve que anotar que a possível vítima ainda se encontrava desaparecida, provavelmente ferida ou até morta.
Depois de encerrar seu trabalho de campo, voltou para a base e após relatar todos os fatos para seus superiores, um deles achou importante comunicar um amigo sobre o ocorrido.
Eram quase 10 horas e ele sabia que seu antigo parceiro já estava se preparando para dormir, mas, mesmo assim, insistiu duas vezes na ligação.
Quando o amigo atendeu e ele lhe contou tudo, este lhe agradeceu muito pela informação, pois podia ter a ver com um caso que estavam investigando, de forma extraoficial.
Em Luton, vestido com seu pijama xadrez, Thompson teve certeza de que perderia o sono, antes de se lamentar para si mesmo.
— Pobre moça...
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Encenação Mortal
Mystery / ThrillerEra para ser somente mais uma apresentação teatral da Modern English School of Bedfordshire, que sistematicamente ocorria a cada cinco anos, voltada exclusivamente para os alunos do Sixth Form. Mas algo deu errado no script, colocando em risco a...