11 - A prisão

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Quatro dias após a apresentação, a MES foi liberada para volta dos funcionários e alunos residentes.

Alguns alunos foram impedidos por seus pais de retornar com a afirmação ao diretor Ward que só liberariam seus filhos quando a polícia prendesse o culpado pelo assassinato.

A prisão só ocorreu um dia depois em Londres e pouco a pouco a rotina na MES foi voltando ao normal, pelo menos para algumas pessoas mais afastadas da vítima, o que não era o caso de Derick.

Com os olhos vermelhos e marejados de lágrimas foi procurar o professor Green em sua sala, mas não o encontrou.

Foi então até a sala da diretoria e pode ouvi-lo discutindo com o diretor Ward.

— É lamentável Sr. Green, mas não tenho escolha...

— Mas isso é totalmente injusto e o senhor sabe disso...

— Essa decisão cabe a diretoria como um todo e ela já foi tomada. Sinto muito...

Derick estava próximo a porta de acesso à sala e resolveu se ocultar num canto, pois aparentemente o professor Green não estaria em condições de confortá-lo no momento, já que ele parecia ter seus próprios problemas para resolver.

Mesmo assim Derick chegou a observá-lo enquanto ele saia e um pensamento sinistro tomou conta de sua mente, pois no lugar de uma face triste ou raivosa, o que seria comum nesta aparente situação, o professor trazia no rosto uma expressão de felicidade coroada por um sorriso.

Imaginou se seria interessante levar a suspeita que o invadiu até o diretor Ward, mas aí teria que dar muitas outras explicações e optou por buscar um caminho que a princípio o assustou, mas chegou a conclusão que seria o melhor a ser seguido.

Esperou até anoitecer quando seus pais apareceram para levá-lo embora e sem se despedir nem do seu mais recente amor, se foi da escola com a intenção de nunca mais voltar, só que o destino não quis assim...

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Na capital as manchetes dos jornais e emissoras de TV não falavam de outra coisa, a não ser a prisão de uma aluna da MES acusada de assassinato.

O fato principal noticiado seria de que ela permaneceria detida enquanto a promotoria pública ficaria encarregada de preparar sua linha de acusação para um rápido julgamento.

Para defendê-la sua família contratou um importante advogado britânico, vencedor de muitas causas tidas como impossíveis no decorrer de sua longa experiência nos tribunais.

— Dr. Gustaf Griffiths, acha que conseguirá provar a inocência da sua cliente, com a presença de provas tão claras de sua culpa? — perguntou o repórter da BBC de Londres numa chamada ao vivo para todo o país.

— A primeira coisa que eu faço, antes de assumir qualquer caso, é ter uma longa conversa com o meu futuro cliente, afinal, preciso saber o terreno aonde estou pisando e, por ter um nome a zelar, me convencer de que posso acreditar na versão desta pessoa.

— O senhor quer dizer com isso que se não tivesse certeza da inocência de sua cliente, não a defenderia?

— Exatamente isso meu rapaz, eu estou plenamente confiante de que ela não cometeu o crime pelo qual é acusada.

— Pretendo provar que tudo foi arquitetado de uma forma a conspirar para sua culpabilidade no caso e pretendo processar a central de polícia pela sua incompetência e ampla exposição desta jovem para a mídia, o que trará danos irreparáveis para o resto de sua vida...

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— Desligue isso! — pediu o comissário após ouvir as declarações do Dr. Griffiths na televisão — Sim, vocês me convenceram, podem continuar investigando o caso...

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Passava da meia-noite quando uma luz se acendeu no anfiteatro da MES, apesar de todos que estavam na escola já estarem dormindo.

Essa luz não era forte o suficiente para iluminar todo o local, mas se você estivesse sentado numa das primeiras fileiras poderia facilmente ver uma adolescente loira transparente usando um vestido branco, pelo qual também seria possível enxergar através dele.

Nessa noite ela não cantava, somente gemia baixinho e com as mãos estendidas para a lateral parecia chamar alguém que se ocultava nas sombras, com medo de aparecer no palco, como se fosse uma de suas primeiras aparições em público.

A loira insistiu até que finalmente outra loirinha transparente timidamente começou a caminhar rumo ao centro do palco. A única diferença aparente nas duas era o vestido, pois essa vinha com um prateado, enfeitado com algumas rosas.

Enfim deram as mãos e iniciaram a sua triste encenação cantada, mais num lamento do que numa melodia harmoniosa, enquanto a luz se apagava lentamente indicando o final deste ato, que representava duas almas encarceradas na mesma prisão, obrigadas a representar o mesmo papel, noite após noite, até que o espetáculo chegasse ao fim.

Se um dia chegasse...

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora