Ela ainda sonhava quando sentiu duas mãos fortes lhe apertando a garganta, enquanto outras duas tapavam seus olhos por puro capricho, pois mesmo que acordasse antes de sufocar, nada veria com as luzes da prisão apagadas.
No início Agatha imaginou que ainda sonhava, mas quando o pesadelo se mostrou real e ficou desperta o suficiente para perceber que estava prestes a morrer, tentou soltar um grito, mas o máximo que conseguiu foi um gemido.
Começou a se debater violentamente com os braços e pernas, numa luta desesperada para conseguir ar e antes de desmaiar, ainda conseguiu ouvir uma detenta dizer para a outra parar, mas não conseguiu ouvir a resposta, se é que houve.
Não soube se voltou a sonhar ou se aquilo que vivenciou fazia parte de outro plano espiritual, de quando nos encontramos nos braços da morte.
Neste estágio vivido, se encontrava em pé e descalça num longo corredor que parecia não ter fim. Iniciou uma lenta caminhada, agradecida por agora poder respirar livremente, mas com o tempo foi ficando apreensiva e acelerou o ritmo.
Ao sentir os batimentos cardíacos mais acelerados pelo esforço físico que não estava acostumada, conseguiu vislumbrar ao longe mais uma pessoa que caminhava e acelerou ainda mais a velocidade da sua caminhada, transformado-a numa corrida lenta.
Ao se aproximar mais, percebeu que era uma moça loira vestida num traje antigo, provavelmente do século XIX, que andava tranquilamente sem olhar para trás.
— Ei senhorita! — Agatha disse, mas não percebeu nenhuma reação dela, então insistiu — Ei senhorita, onde estamos?
Como não houve resposta, a Srta. King acelerou um pouco mais o ritmo da corrida, até alcançar a desconhecida e conseguir tocar seu ombro.
A desconhecida se virou em sua direção e quando Agatha a reconheceu, sentiu-se novamente asfixiada e uma tontura repentina se apoderou dela.
— Sabe o que tem de fazer, Agatha? -lhe perguntou ela.
A Srta. King não teve tempo de responder, pois uma escuridão a envolveu e antes de desmaiar novamente pensou que não, não sabia o que tinha que fazer...
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Acordou, mas ficou com receio de abrir seus olhos e retornar assim para um dos pesadelos anteriores, não sabendo ainda qual deles seria o pior.
Forçou os ouvidos para escutar qualquer tipo de ruído que se encontrava ao seu redor, mas o máximo que ouviu foi uma conversa bem longe dali.
Cautelosamente abriu primeiro um olho, depois o outro, até reconhecer que estava na enfermaria.
Um dos pesadelos aconteceu então — pensou ela tentando tatear o pescoço com a mão esquerda e vendo que ele se encontrava preso em algo.
Com um esforço virou a cabeça e viu que estava com um frasco de soro espetado em seu braço.
Tentou mover a mão direita e também não conseguiu, pois estava algemada a cama, algo que a transportou para a sua atual realidade.
Buscou ver se havia alguém nas proximidades, mas estava sozinha e aproveitou para raciocinar.
Quem a gostaria de ver morta? — imaginou — E quem gostaria somente de assustá-la?
Era obvio que haviam somente lhe dado mais um aviso, pois se tudo ocorreu como recordava, estava claro como água que a deixaram viver porque isto era o programado.
Na PB, por mais que isso fosse impensável para Agatha, somente tinha conseguido criar amizades e não existia ninguém que a quisesse ferir, não que soubesse.
Então a única pessoa que lhe veio em mente, com capacidade suficiente para colocar a sua vida em risco, era novamente o professor Green. Ninguém mais no mundo teria algum motivo para temê-la.
Mas o que não conseguia entender era, caso fosse mesmo Adam o mandante de mais esta agressão, por que não pedia que a matassem de uma vez por todas? Seria tão fácil, como esmagar uma formiga.
Será que ele seria tão sádico ao ponto de querer que ela sofresse de todas as formas, antes de executar seu plano final?
No fundo Agatha imaginava que sim, o professor Green que ela conhecia poderia ser capaz de tamanha crueldade.
Uma enfermeira entrou no cubículo e a observou, com a cara fechada.
Deu uma olhada no frasco de soro e o retirou sem delicadeza alguma do braço da detenta.
A Srta. King esboçou uma leve careta de dor e resolveu questioná-la.
— Sabe dizer o que aconteceu comigo?
A enfermeira nem se deu ao trabalho de encará-la e do jeito que entrou, saiu, sem dizer uma palavra.
Ficou mais um tempo sozinha ali, sentido uma fome imensa, quando um senhor de terno, acompanhado do chefe da guarda da PB, entraram e se sentaram em duas cadeiras de plástico.
Agatha conhecia o diretor da prisão, Sr. Hall, que a recepcionou na sua chegada, com toda aquela conversa sobre regras e punições que ela não deu a mínima atenção na época.
Era um senhor de estatura mediana, com cabelos curtos e grisalhos e um porte daqueles atletas de academia, que malham muito a parte de cima e ficam com as pernas finas.
Como eles permaneceram em silêncio a observando, Agatha esboçou um sorriso e se adiantou.
— Estou encrencada, senhores?
Eles se entreolharam e foi o diretor que respondeu.
— Parece que sim, Srta. King. Alguém está querendo que os seus dias na PB sejam inesquecíveis...
Ela engoliu em seco as palavras do Sr. Hall e não conseguiu identificar nenhum tipo de sarcasmo nelas.
— Parece que teremos que tomar algumas providências — continuou ele sério, olhando para o chefe da guarda — O senhor já sabe como deve proceder!
Se levantou, mas antes de sair, agiu com uma generosidade imensa que Agatha jamais em sua vida conseguiria esquecer.
— Não se preocupe, Srta. King. Faremos de tudo que estiver ao nosso alcance para preservar a sua segurança e assim que estiver se sentindo melhor, vamos transferi-la para uma cela isolada, até que tenhamos respostas.
Ela sentiu vontade de chorar, seus olhos chegaram a ficar úmidos. Respirou fundo e agradeceu, do seu jeito peculiar.
— Quando eu sair desta prisão, senhor diretor, eu acharei um meio de lhe recompensar.
O Sr. Hall deu um leve sorriso e saiu com seu subordinado do local, enquanto Agatha continuava a falar, agora quase num sussurro, para si mesma.
— Agora eu sei exatamente o que eu tenho de fazer, Emilly. Agora eu sei que tenho que sair daqui...
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Encenação Mortal
Misterio / SuspensoEra para ser somente mais uma apresentação teatral da Modern English School of Bedfordshire, que sistematicamente ocorria a cada cinco anos, voltada exclusivamente para os alunos do Sixth Form. Mas algo deu errado no script, colocando em risco a...