22 - Retornando

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A imponência daquela escola sempre o cativou, desde o primeiro dia em que a conheceu e agora, meses depois, parado defronte a sua entrada principal, percebia quanta saudade dela ele sentia.

Pagou o táxi e se anunciou na recepção para falar com o diretor Ward, que demorou quase uma hora para lhe permitir o acesso, e quando o fez, não foi liberado que ele circulasse sozinho pela escola, teve que ser escoltado por um escriturário.

Era o mês de agosto de 2012 e com o período letivo encerrado, a MES se encontrava deserta, sem vida, e o professor conseguia ouvir o eco do som dos seus sapatos ao percorrer os corredores.

Percebeu ao cumprimentar o diretor que ele não mudara nada na aparência, inclusive sua sala mantinha aquela mesma organização irritante de sempre, constatou ele.

— Como tem passado Anthony?

O diretor mediu o visitante e pediu que ele se sentasse.

— Não muito bem professor Green! No último ano tive várias baixas de alunos e você deve saber o porquê...

Adam Green sorriu divertido.

— É, eu sei! Já faz mais de um ano...

— Mas mesmo assim estou terrivelmente ocupado — mentiu o diretor sem fazer o mínimo esforço para disfarçar — Em que posso ser útil?

— Pensei que fosse óbvio...

— Mas não é! — disse secamente o diretor.

— Um professor faz uma visita numa escola que ele lecionou, onde foi convidado a se retirar injustamente, o que mais ele pode querer se não seu emprego de volta?

Desta vez o diretor retribuiu o sorriso de Adam, que ficou ofuscado pelo seu enorme bigode.

— Eu devia ter imaginado isso, não é mesmo?

O professor confirmou com um aceno.

— Eu devia ter imaginado que o senhor retornaria depois de tudo que aconteceu e pediria para lecionar novamente na MES...

— Como sou ingênuo — concluiu o diretor de forma sarcástica.

— Acho que o senhor diretor está levando esse assunto para o lado pessoal — disse o professor num tom um pouco mais elevado.

— Não vejo desta forma Adam. Não fui eu quem pediu a sua saída no ano passado, foi a diretoria executiva da escola...

— E essa mesma diretoria dificilmente permitirá o seu retorno para a MES.

— Eu sei que a sua opinião é a que tem mais peso nesta diretoria, não tente me enganar — disse o professor mostrando novamente um sorriso

— O senhor tem razão, isto é fato, não nego, mas alguns assuntos, quando são de grande interesse da escola, pedem uma votação mais acirrada..

— Onde o seu voto continua sendo decisivo, Anthony. Diga que estou errado?

O diretor alisou o bigode e refletiu por um momento.

— O que espera que eu faça? Que eu lhe abra as portas da escola novamente?

— É exatamente isso que eu quero, adoro esta escola...

— Não vou fazer isso!

— Por que não? — disse o professor claramente perdendo a cabeça.

— Agora é o senhor que não está vendo o óbvio...

— Anthony, acredita ainda que eu tenha algo a ver com o assassinato de Emilly?

O diretor permaneceu calado e o professor aproveitou para continuar.

— Eu não acredito nisso! A verdadeira culpada já está presa, eu fui inocentado de qualquer culpa ou envolvimento, o que mais o senhor precisa saber para me devolver meu cargo, que eu sei que está vago?

— Nem todos acreditam na sua total inocência...

— Estão todos loucos...

— Acham que o senhor manipulou os alunos e o assassinato foi uma consequência desta atitude.

— Não o querem mais como professor nesta escola...

— E o senhor diretor o que pensa a respeito?

— Eu acredito no seu talento como professor, mas não tenho como refutar o parecer dos demais membros da diretoria executiva...

— Por que não quer!

— Pois caso quisesse — continuou o professor Green — jamais deixaria que uma injustiça desse tipo fosse cometida contra a minha pessoa. Em outras palavras, também pensa igual a eles, é um louco do mesmo tamanho...

— Acho melhor o senhor ir embora...

— Eu vou! — disse o professor levantando — Mas saiba que está cometendo uma injustiça imensa com um colega de trabalho...

O visitante virou-se para ir embora, mas parou, levantando uma última questão.

— Posso ao menos visitar o anfiteatro?

— Eu o acompanharei até lá.

Saíram juntos e após uma rápida passagem pelo local solicitado, o diretor respirou aliviado ao ver o professor partir.

Retornou para sua sala e ligou para um número anotado em sua agenda.

— Ele acabou de sair!

— Sim, recusei veemente o seu retorno e como pensamos o professor Green ficou totalmente insatisfeito com a minha recusa declarada.

— Ótimo! — respondeu a voz do outro lado da linha — Ele não vai desistir assim tão fácil e aí teremos um trunfo sobre ele...

— Assim espero — disse o diretor desligando e repetindo para si mesmo — Assim espero...

Encenação MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora