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"Bia narrando"

Ensaio de novo, ensaio geral. A peça seria amanhã à noite e já estava quase tudo pronto. Estávamos no auditório onde seria a peça pra repassar o roteiro, pela milésima vez. Só havia uma coisa que não tínhamos ensaiado ainda.

- Muito bem, Romeu, Julieta- O professor falou, e Jonah e eu olhamos- Agora se beijem.

- Pera aí, o quê?!- Eu e Jonah perguntamos em uníssono, surpresos, esse cara só pode ter ficado maluco de achar que eu ia beijar meu ex namorado.

- Calma, é só um beijo técnico, nada é pra valer. Vai ser tudo profissional- Ele disse e eu pude respirar novamente, mas eu não estava completamente aliviada, por causa de Zach. Quer dizer, ele não sabe que vai ser esse tipo de beijo.

- Eu falo com ele- Jonah sussurrou, me mostrando que pensava na mesma coisa que eu- Eu cuido disso, não se preocupe.

- Obrigada- Eu sorri, e ele fez o mesmo. Agora eu estava aliviada. Mas aliviada por não ter que ser eu que devo falar com ele. Sei lá, ele anda estranho, como eu já andei dizendo ultimamente.

- Então, pro palco- O professor nos dirigiu aos nossos lugares- Isso, aqui. A plateia deve ver o momento em que o Romeu a beija e morre, pra depois a Julieta acordar e tudo fazer sentido.

- Sabe que ela vê o Romeu morto decide morrer também né?- Jonah falou, sarcástico. Eu ri, e todos os outros também.

- Primeiro, não se deve rir de pessoas mortas. Segundo- Ele limpou a garganta- Muito engraçado Sr. Marais, muito engraçado- Ele revirou os olhos, irônico, e eu segurei meu riso.

Ele pediu que nos posicionássemos no local e eu me deitei, claro, eu tinha que representar uma pessoa que estava fingindo estar morta, que vida hein... Tudo isso por causa de homem Julieta? Agora eu vou ter que beijar o Jonah por você.

- Agora vamos ver... É, tudo certo. Pode beijar, ali no canto da boca só. Mas do que é que você está rindo, Srta. Hastings?- Aí eu percebi que estava rindo com meu próprio pensamento- Você aí? Acha que isso é brincadeira? É Sheakspeare, não uma comédia!- E o professor foi brigar com aquele aluno.

- O que eu faço?- Jonah sussurrou, enquanto o professor estava de costas- Ahñ, deixa seus lábios fechados, são só dois segundos, eu só vou encostar- Foi engraçado de ouvir Jonah falar de como ele ia beijar. Eu ri e ele acabou rindo também.

O professor voltou a prestar atenção em nós. Eu fechei os olhos e pude sentir os lábios de Jonah encostando levemente no canto da minha boca. Na hora não pareceu, mas eu fiquei bem desconfortável. Quer dizer, eu não "beijo" (tecnicamente não foi de verdade) o Jonah há 2 anos.

- Muito bem!- O diretor da peça disse, batendo uma palma só. Abri meus olhos e Jonah sorria, deitado ao meu lado.

- E aí Romeu? Sobreviveu olha...- Disse irônica e ele riu. Eu sorri e levantei, sentando.

- É...- Ele levantou também e ficou sentado na minha frente- Não acha estranho? Digo...

- Nós aqui depois de 2 anos separados?- Ele assentiu- É, é estranho. Só espero que Zach perceba que esse beijo não vai significar nada...

- Eu já disse que você não precisa se preocupar, ele vai entender.

- Obrigada Jonah, isso me deixa mais confortável...- Ele sorriu e me puxou para um abraço curto.

Tá bom, o que eu disse é mentira.

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"Jonah narrando"

Eu fui à casa de Zach. Eu falei pra Bia que iria, e eu fui. Eu não sei dela, mas eu me senti estranho quando tive que "beijá-la". Eu sei que não foi de verdade, e eu só encostei no canto de sua boca, mas só de sentir sua respiração misturada com a minha, eu lembrei. Lembrei da minha melhor época, quando eu namorava Bia Hastings.

Quando menos percebi, estava parado na porta de Zach. Deixei de pensar na Bia por um minuto e toquei a campainha. Zach atendeu, me olhando confuso:

- O que você tá fazendo aqui?- Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

- Nossa, Oi pra você também- Falei, e ele riu, revirando os olhos.

- Desculpa- Ele abriu espaço e eu entrei- Você não vem muito aqui...

- Verdade- Me sentei no sofá- Preciso falar com você...

- Tá, agora você me assustou. Você quase nunca vem aqui, e quando vem, fala que precisa falar comigo? Então tá...- Ele fechou a porta e sentou em um sofá menor.

- Tá, eu vou ser direto. Possobeijarsuanamorada?- Falei rápido, e ele fez uma careta como se não tivesse entendendo nada.

- Como é que é?!

- Ah, posso beijar a Bia?

- COMO É QUE É?!- Agora eu tinha certeza de que ele tinha entendido. Ele me olhou, assustado.

- Calma, não é de verdade. Não vai significar nada- Ele respirou fundo, aliviado.

- Ah, ótimo. Mas então por que veio me perguntar?

- Bom... Eu pensei que talvez, se você não soubesse, você poderia ficar com raiva e...

- Qual é o problema de vocês?! Até parece que eu fico com raiva de tudo...- Ele cruzou os braços, se enterrando no sofá.

- Então...- Falei, e ele revirou os olhos. Eu admito, eu ri.

Aí o assunto morreu. Eu fiquei calado olhando pra parede da sala, e ele ficou calado olhando pro chão. Até que eu olhei pra ele e ele parecia... Preocupado? Não, ele parecia meio triste.

- Você tá bem?- Perguntei.

- Ah, claro- Ele disse, ainda sem olhar pra mim. Acho que ele não estava prestando atenção.

- Zach? Quer saber? Eu ainda gosto da Bia. Ela é maravilhosa, uma pessoa linda, inteligente, é um amor de pessoa. Eu quero beijar ela- Eu estava mentindo, eu nunca trairia sua confiança assim. Eu só queria saber se ele estava realmente prestando atenção em mim.

- Ah, ótimo- Ele disse e eu revirei os olhos.

- Zach, você tá prestando atenção em mim?!- Perguntei, já nervoso.

- Espera, o que você estava dizendo?- Ele olhou pra mim, confuso. Eu bati na minha própria testa, em negação.

- Nada não, nada- Falei, em um tom meio grosso- Cara, no que você tava pensando? Na Bia e em mim? Já falei que não vai significar nada...

- Não é isso.

- Se tiver alguma coisa te incomodando, pode falar comigo. Você sabe que é como um irmão mais novo pra mim, não sabe?- Ele ficou calado, e voltou a olhar pro chão. Tinha alguma coisa errada- Zach?

- Eu sei, e obrigado- Ele sorriu fraco, mas acho que ele estava desconfortável ( hoje é o dia do desconforto, pelo que percebi...)- Mas eu tô bem, é sério.

- Já que você tá dizendo...- Falei e me levantei- Eu acho que já vou indo.

Ele levantou e abriu a porta. Eu saí, mas não estava convencido de que Zach estava realmente bem. Por que será que ele não queria me contar? Eu não quis insistir em ficar, porque eu não queria que ele se sentisse obrigado a me contar. Quando ele quisesse, ou quando estivesse pronto, ele poderia me falar.

Agora, que ele está muito estranho, isso é fato. Eu tô preocupado. Preocupado com o fato de que, uma hora, ele vai ter que desabafar, ele vai ter que falar. Só que, Zach é meio explosivo, e é disso que eu tenho medo.

limelight • zach herronOnde histórias criam vida. Descubra agora