Capítulo 28

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And I keep waiting like you might change my mind

Lauv,
The Other.

     Mordo a ponta da caneta com força já há algum tempo, tendo total consciência do ato, mas não desperto do transe em que me encontro desde que cheguei na sala de aula para parar com esse hábito.

     Eu sei bem qual o motivo da minha inquietude, embora não queira admitir em voz alta, eu sei bem.

     - Whee In! - Solar chama, exasperada, balançando sua mão na frente do meu rosto.

     - Hum? - murmuro, atortoada, piscando os olhos e desviando minha atenção toda para ela. - Disse algo?

     Ela suspira profundamente, chego a pensar que não irá repetir o que dizia, pois Solar odeia quando não presto atenção nas conversas, mas logo depois continua:

     - Eu estava comentando como foi divertido termos ido ao Noreabang semana passada.

     faz uma semana, penso, surpresa com o rápido passar do tempo. Aliás, mais de uma semana se contar que estamos em plena terça-feira.

     - Oh, sim - sorrio, ainda com a caneta presa entre meus dentes. - Aquela ahjumma quase nos botou para fora por sua culpa! - Acuso, na brincadeira.

     - Nossa culpa - enfatiza, rindo. - Não devíamos ter bebido tanto. Você estava fora de si! - sua risada se transforma numa gargalhada contagiante em questão de segundos. - Pulando em cima do sofá, ameaçando se despir, cantando umas músicas tristes enquanto chorava pelo Mino e se jogando no chão toda vez que terminava um número musical.

     É só ela mencionar o nome do Mino que meu corpo reage, estremecendo e enviando arrepios pela extensão da minha pele.

     Forço uma risada para não quebrar o clima leve da conversa. Meu vacilo por estar em silêncio não demora nem um minuto. Solar não percebe.

     - Se você não tivesse deletado o número dele, eu provavelmente teria ligado. Ainda bem que não decorei o número.

     - Ainda bem que eu te livrei desse clichê, senhorita Anastasia Steele. - Ela faz uma voz melosa, quase um gemido constrangedor para ser sincera, quando fala o nome da personagem principal de Cinquenta Tons de Cinza.

     Olho ao redor e fico aliviada ao constatar que ninguém ouviu isso. Apesar da sala estar um silêncio antes da aula começar, a maioria dos alunos estão focados, estudando, e outra parte conversando com seus devidos grupos de amigos.

     - Estou longe de ser a Anastasia Steele - murmuro num tom mais baixo, tirando a caneta da boca e usando-a para rabiscar coisas na última folha do caderno.

     Faz tempo que não escrevo um poema. Acho que meu estado de felicidade estava tão grande que não conseguia descrevê-lo com adjetivos. Nada parecia a altura. Chego a me sentir mal por isso, pelo momento perdido, pois todos os meus poemas são descritos em fases. Início ao fim de cada relacionamento. Não ter ânimo ou coragem agora para retratar as partes felizes de tudo que vivi ao lado do Mino me deixa triste, porque eu posso apenas querer retratar o lado mórbido, o fim, a traição, ou pior, o isolamento.

     Sim, eu me fechei esses últimos dias. Pode não parecer, mas realmente me fechei. Nem mesmo a Solar sabe o que tem se passado na minha mente. Para ela, eu sorrio e digo que está tudo bem. Afirmo que estou superando o Mino dia por dia e logo não restará nenhum resquício de sentimentos por ele dentro de mim. O mesmo serve para meus pais, que sequer sabem do término de "namoro".

Body | MinoOnde histórias criam vida. Descubra agora