Body | Mino

Capítulo 33

I like the feeling, how you make me shy

Carly Rae Jepsen,
Gimmie love.

     Inspiro e expiro o ar lentamente para dentro e fora dos meus pulmões, aproveitando a brisa fresca que bate contra minha pele nesse dia ensolarado. Realmente o melhor lugar da universidade são os seus jardins e as áreas verdes. Aqui o ar parece mais limpo e livre de qualquer poluição e o som da natureza em contato comigo me renova por dentro, me traz paz.

     Escoro minha cabeça no tronco áspero de uma árvore e fecho os olhos por um momento. Porém, minha visão não escuresse por completo, já que a luz solar brilhante à essa hora a deixa meio amarelada.

     É nesse momento típico de reflexões sobre minha vida que, minutos depois, eu escuto um click de uma câmera.

     Dessa vez não me surpreendo ou me assusto. Apenas mantenho-me na posição onde estou, sem mover um músculo da face também, e digo:

     - Você nunca aprende a tirar o som da câmera.

     - Tem razão - escuto uma movimentação ao meu redor e apenas por isso sei que Mino está procurando um lugar confortável na toalha florida estendida no chão para se sentar. - Mas você já aprendeu a não se assustar com essas abordagens. Vou ter que chegar com outro truque da próxima vez.

     Sorrio de lado, sentindo meus olhos pesarem devido ao cansaço. Essa semana tem sido corrida para todos da minha turma. Provas sendo feitas, seminários apresentados e trabalhos entregues. Acho que - além do Mino - todos estamos uma pilha de nervos. Mino, em contrapartida, está se mantendo calmo em todas as aulas e, devo admitir, ele é bom em quase tudo. Só fica dizendo o contrário e inventando pretextos para eu o explicar algumas coisas.

     - Aceitei minha condição de musa inspiradora. Vou parar com falsa modéstia a partir de hoje - respondo, ironizando, serenidade e calmaria transbordando minha voz.

     Escuto uma risada contida vinda dele. Quase cedo a tentação de olhá-lo e comtemplar a cena, mas não o faço. Dessa vez o emocional não venceu. Estou tão confortável assim que ninguém, nem mesmo ele, vai acabar com esse estado.

     - Parece cansada - faz uma pausa e completa: -, anjo.

     Deixo um suspiro escapar pelos meus lábios.

     - Por favor, me confirma uma coisa. - Peço e faço uma pausa dramática. - Hoje é realmente sexta-feira, certo?

     - Sim - diz, rindo e soltando o ar audivelmente, demonstrando que prendia a respiração.

     - Então estou ótima. Mesmo se estiver cansada, vou ter um tempinho para descansar nesse final de semana.

     Mino sorri, fazendo um barulho gostoso pelo nariz.

     - Fico feliz em vê-la assim.

     - Ah e, não precisa me dar um apelido. - Retomo sua fala anterior, dessa vez abordando o fato de ele ter me chamado de anjo. - Já disse que não faz diferença para mim.

     - Eu sei, mas só estou constatando uma verdade. Você é um anjo. - Faz uma pausa. - E nem pense que isso é um truque barato para te reconquistar. Não é do meu feitio usar artimanhas tão... ultrapassadas.

     Isso eu sei, penso. Dado o fato de que ele, de alguma forma, conseguiu uma rematrícula na minha classe apenas para se manter por perto. Que cara faria isso em tão pouco tempo? Ou melhor, que cara com a vida ganha se submeteria a ter que estudar novamente só para estar ao lado de uma garota?