Body | Mino

Capítulo 37

Oh, won't you stay with me?
'Cause you're all I need

Sam Smith,
Stay with me.

     Acordo no meio da madrugada com feixes da luz do corredor batendo no meu rosto. Olho as horas no meu celular em cima da mesa de centro e constato que são duas da manhã. Sento-me no sofá, confusa com o barulho de movimentação pela casa e atordoada por ter meu sono interrompido, e esfrego os olhos para acostumar minha vista com a claridade do corredor.

     Meus pais não irão voltar para casa agora, então só pode ser o Mino.

     Apenas para constatar minha conclusão, eu olho para baixo e não o encontro deitado no futon que pus entre o espaço do sofá e da mesa de centro para ele dormir.

     Mino acabou dormindo aqui já que ficamos até tarde trocando beijos, carícias e assistindo outros filmes. As lembranças ainda estão vivas e frescas na minha mente, tanto que meu corpo esquenta crescentemente só de pensar em ter seus lábios aos meus. Dessa vez, decidimos ir devagar na nossa relação para não acabarmos estragando tudo. Por isso, ficamos apenas nos beijos.

     Levanto-me do sofá e sigo os barulhos pelo corredor. Cambaleio um pouco e sinto meu corpo doer por ter dormido de mau jeito no sofá estreito. Tateio a parede com as mãos em busca de equilíbrio até encontrar a porta do banheiro entreaberta e a luz acesa.

     Paro de andar imediatamente e hesito. O barulho vem de lá, mas, e se ele estiver apenas fazendo suas necessidades? É um banheiro, afinal.

     Estou pronta para ir embora com uma decisão tomada quando escuto um barulho seco vindo do cômodo. Arregalo os olhos e, sem pensar duas vezes, eu entro no banheiro como uma velocidade impressionante.

     Encontro Mino sentado no chão, com ambas as mãos ao lado da privada e a cabeça inclinada nessa direção. Quando nota a minha presença, ele vira o rosto para me encarar e sua expressão é vazia, ou pelo menos parece isso pelo estado do seu rosto; o rosto pálido, os olhos um pouco arregalados, gotas de suor formando uma fina e brilhante câmada sobre sua pele...

     Sem pensar duas vezes, corro até ele e me agacho ao seu lado. Toco seus ombros e o avalio com o olhar para notar alguma anormalidade.

     - O que aconteceu? - Pergunto por fim. - Você estava bem antes de  dormimos e...

     As palavras prendem-se na minha garganta. A aflição atinge meu coração ao vê-lo assim e não ter um motivo ou uma explicação da parte dele.

     Seguro seu rosto com ambas as mãos e encaro o fundo dos seus olhos; eles parecem opacos, sem brilho.

     - Whee In... - chama, abaixando o olhar para o chão. - Pensei que estivesse dormindo. Eu... -  Aproximo-me mais um pouco, esperando ele dizer mais alguma coisa, porém Mino volta a me olhar de forma alheia, e quando penso que mais palavras vão sair pela sua boca, ele volta a vomitar.

     Contraio os lábio e viro o rosto para o lado para dar-lhe um pouco de privacidade. Afago suas costas e apoio o queixo no seu ombro enquanto espero ele liberar tudo de ruim do corpo. Prendo meu lábio inferior entre os dentes com força, sentindo as lágrimas teimarem em surgir e arder nos olhos. É a primeira vez que o vejo doente, e já posso afirmar com toda certeza de que não quero vê-lo assim nunca mais. A memória dos seus olhos sem vida e o aperto que isso causou no meu peito vão ficar na minha mente por um bom tempo ainda.

     Alguns minutos depois, Mino se afasta da privada e eu o acompanho. Ajudo-o a ficar de pé e deixo ele solto para seguir o caminho que quiser, comigo apenas o acompanhando. Ele vai até a pia, bochecha água e enxaguante bucal e lava o rosto. Ao levantar a cabeça, encara seu reflexo no espelho por longos segundos; alguns fios de cabelo agora estão um pouco molhados e o rosto um pouco mais corado.