Body | Mino

Capítulo 31

I wanna be the best you've ever known

Carly Rae Jepsen,
All that.

     A expressão perplexa da Solar quando me vê entrando na sala de aula logo depois do Mino pode me dizer muitas coisas sobre o pensamento de todos os alunos ali, que agora nos encaram centrados e curiosos. O foco parece ter sido tirado da matéria para nós dois, e isso não me agrada nem um pouco. Chamar atenção não é bem o meu maior objetivo na universidade, principalmente no meio da aula.

     Caminho a uns dois passos atrás do Mino, me escondendo atrás da sua figura de um metro e oitenta de altura, e o acompanho até meu lugar, onde ele deixa minha bolsa e sequer faz menção de me olhar nos olhos depois disso. Ele já deve saber que a minha cara não é das melhores. Por sorte, o lugar ao meu lado está ocupado. Assim, ele dá a volta e se senta na fileira de trás.

     Breve e quase silenciosamente, eu peço desculpas ao professor pela interrupção da aula e ele apenas me olha com indiferença antes de tornar a explicar o assunto. Escuto alguns murmúrios dos alunos assim que me sento e não deixo de me sentir desconfortável com a situação, tanto que remexo-me na cadeira e aperto mais o meu rabo de cavalo, como se esse ato fosse realmente necessário.

     Solar ainda me encara boquiaberta, mas, em vez de me encher de perguntas, com um leve aceno negativo e um 'depois' inaudível escapando dos meus lábios, ela concorda e volta a olhar para frente.

     Suspiro. 

     Puxo um caderno e um estojo de dentro da bolsa. Abro o caderno numa folha limpa e tiro algumas canetas de mesma cor de dentro do estojo. Encolho meu corpo na cadeira e abaixo um pouco a cabeça para escrever mais precisamente o que está anotado no quadro e nos slides usados pelo professor. Sempre tive uma espécie de obsessão com a organização do meu caderno, por isso me aproximo bem da folha quando escrevo para as letras saírem perfeitamente alinhadas. Já é uma mania.

     Apesar de não olhá-lo diretamente, sinto o olhar do Mino queimando nas minhas costas e me desconcentrando vez ou outra. Não sei explicar direito, é como se literalmente minha pele estivesse queimando em resposta ao seu olhar que, mesmo não fazendo de propósito, é intenso.

     Ainda não engoli a ideia de que ele voltou à universidade e realmente está na minha sala. Tudo parece uma grande e hilária piada bem elaborada.

     Procuro ao máximo ignorar sua presença no mesmo espaço que eu, porém não consigo por muito tempo. Minutos depois, uma mensagem de um número desconhecido chega no meu celular.

     "Já pode salvar meu número de novo. Posso precisar da sua ajuda para algum trabalho da universidade. Podemos até organizar um grupo de estudos, aliás, uma dupla de estudos", é o que está escrito. Não é preciso muito para saber que se trata de uma mensagem do Mino.

     Reviro os olhos e o olho por sobre o ombro com uma expressão séria e, de certa forma, esperta. Não pretendo cair nos seus joguinhos sarcásticos.

     "Você pode pedir ajuda da Solar", respondo. Qualquer um pode notar o gostinho de vitória que sinto ao enviar a mensagem.

     Sua resposta vem segundos depois:

     "Ah, mas eu não tenho a intenção de chamar a Solar para sair", ao lado das palavras, dois emojis de rostos piscando vem acompanhando.