Capítulo 1 - A Origem.

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   Não se sabe exatamente quando ou como tudo aquilo começou. Não há uma data específica ou um lugar certo. O que se sabe é que teve início, mais ou menos, no ano 2000, e que abrangeu um ou mais países, simultaneamente.  

Algumas pessoas perceberam que possuíam habilidades singulares que as permitiam fazer determinadas coisas impossíveis. Outras também notaram que suas crianças se desenvolviam rapidamente e apresentavam características sobre-humanas. Dentre elas, algumas eram nitidamente identificadas como “seres estranhos”, pois sua aparência mudava drasticamente com o tempo, por vezes de uma maneira não muito agradável. O motivo? Há quem diga que um vírus potencialmente letal atingiu a maioria das pessoas do mundo, e que, devido a heterogeneidade dos organismos, os efeitos foram diversos, uns ganharam poderes ou mutações físicas, enquanto outros ficaram seriamente debilitados. Por um lado, cientistas tentavam explicar as mutações embasados na evolução gênica dos seres humanos; para estes o homem desenvolveu-se para um outro nível ainda não estabelecido cientificamente. Por outro lado, estudos indicavam que o fator simples por trás de tais modificações residia na capacidade dos humanos em finalmente usar 100% do potencial cerebral, o que permitia e justificava as aptidões paranormais nunca vistas antes. A origem seguia incerta, mas isso pouco importava, porque a sociedade mudou desde então e deu início à uma série de teorias que se tornariam a base do novo futuro.

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Desde que as pessoas se transformaram e receberam poderes especiais, o mundo teve que se adaptar rápido. Não demorou para que conflitos emanassem entre àqueles que, com as habilidades, depreciavam a cidade e se divertiam à custo do desacato das leis; e àqueles que as obedeciam fervorosamente, sendo leais à fazer justiça com as próprias mãos.

A polícia foi se especializando enquanto o governo foi tentando criar novas ordens. As escolas passaram por mudanças bruscas, já que agora, crianças dotadas de “talentos especiais” necessitavam de estudos iguais às crianças “normais”. Foi então que novas transformações também passaram a ser implementadas no setor da educação. Por um lado, algumas escolas só aceitavam alunos normais enquanto outras, só aceitavam crianças com poderes; tudo isso com o intuito de evitar brigas, bullying e qualquer tipo de conflito. Com o tempo, essas divergências foram ficando cada vez mais nítidas embora a sociedade omitisse a verdade. Uma nova divisão de mundos já surgia, e com ela, novos conceitos de heróis e vilões.

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Como só se passaram 14 anos desde a primeira aparição das habilidades; a sociedade ainda estava em processo de adaptação. Os países subdesenvolvidos eram os principais exemplos desse cenário, pois também eram os precursores de jovens talentos, os quais viriam a se tornar peças essenciais para reestruturar todo o sistema falho do país. Entre estes jovens estava Jack; um garoto que vive no Brasil, mais especificamente, na cidade de Fortaleza, considerada uma das maiores capitais do país. Lá, se concentra o ponto máximo de índice de pessoas modificadas do país; sendo boa parte representada pelos piores criminosos, assim como também, possuía alguns dos heróis mais poderosos. Esse índice tornou bastante difícil a vida da população e ocasionou inúmeras sequelas irreversíveis, dentre elas, a alta taxa de violência.

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Quando descobriu seus poderes em 2010, Jack só tinha 10 anos. As suas habilidades se manifestaram em uma tarde quente de Domingo, enquanto brincava com os amigos jogando futebol em um campo não muito retangular. O gol era demarcado com duas estacas de madeira que perfuravam o solo. O campo era pedregoso e falho; a grama alcançava o calcanhar e era alta o suficiente para fazer o pé afundar. Quando chovia, buracos profundos de água se formavam, e era bem fácil deslizar e perder a chinela. Mas isso não impedia o desejo e o gosto do garoto pelo futebol, que era comum no Brasil, além de ser o símbolo do país. Após driblar dois jogadores e alcançar a última defesa do time adversário; arriscou chutar a bola à uma certa distância, pouco favorável; a barreira estava composta só por dois oponentes; mas ambos eram altos e rápidos demais, e Jack sabia que se tentasse chegar mais próximo da grande área, seria intercepcionado; e provavelmente, perderia a posse de bola. Assegurou o passe, e quando chutou, acertou a bola de forma errada. A força do chute foi fraca e sem direção; no mesmo instante desejou que o vento fosse forte o suficiente para realinhar a bola em direção ao alvo. Como num passe de mágica, a bola tomou uma velocidade absurda e fez um arco perfeito retornando para a trajetória do gol. O goleiro, boquiaberto, não teve chances. O time de Jack venceu. Naquele instante, o garoto percebeu que fazia parte das crianças com habilidades poderosas, as mesmas que ele ja havia visto e admirado tantas vezes pela televisão, espalhadas ao redor do mundo. Apesar disso ser um motivo de tamanha fascinação para a maioria das crianças e para ele; o garoto preferiu ser discreto e não usar seus poderes na frente dos outros. Saberia que mais cedo ou mais tarde, se tornaria talvez um justiceiro do seu mundo.

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