▪|Capítulo 1|▪

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- Acordei graças a luz que entra por uma brecha de tamanho bem expressivo na janela do meu quarto. Mas, infelizmente um concerto custaria um valor auto; valor que não temos de sobra para gastar. - me sento na cama e olho para a fresta...

Depois da morte de meu pai a dois anos atrás as coisas ficaram bem difíceis aqui em casa. Ele e minha mãe tinham um restaurante pequeno, mas bem frequentado no centro da cidade. Então em um dia comum e insolarado em São Paulo, Sr. Louis um homem forte e cheio de vida que fazia qualquer pessoa que conversasse com ele por mais de dez segundos sorrir, nos deixou, graças a uma simples parada respiratória. Alguns minutos sem ar foram suficientes pra tirar a vida longa de um homem nos seus cinquenta e oito anos...
sinto a dor da perda que sempre vinha quando eu pensava em meu pai, eu sinto tanta falta dele. Acho que todos nós sentimos, não só minha irmã, mamãe e eu, mas também Fred que era para meu pai como um filho a qual ele nunca teve. E todos os amigos que ele cultivou durante a vida.

- enxugo uma lágrima teimosa que teima em escorrer em meu rosto. - meu pai fazia falta. E por isso eu teria de dar um jeito naquela brecha em minha janela mais tarde.

-Levantei da cama pensando em como podia ser tão difícil uma garota formada em direito nos seus vinte e cinco anos conseguir um emprego.

É. Era sim possível e muito possível. Eu era prova viva disso, pois já estava desempregada a um longo e desesperador ano. Na verdade ainda conseguimos pagar as contas graças a Alice, as coisas melhoraram um pouco depois que minha irmã oito anos mais nova conseguiu um emprego em uma floricultura no bairro em que moramos, com a ajuda de minha mãe que nunca parou de cozinhar e faz doces por encomenda, estamos conseguindo recursos.

As vezes eu não consigo entender como eu posso ser tão... Incompetente; afinal de contas era eu quem deveria manter minha irmã e minha mãe e não o contrário. Ao invés de se preocupar com uma casa para cuidar Ali devia estar fazendo amigos, saindo com eles, sendo apenas a adolescente que ela é. E já estava na hora de dona Judith passar a cosinhar apenas por prazer e nas horas vagas.

Eu precisava arrumar um emprego e rápido.
- mas como? se eu já havia tentado em todos os lugares possíveis sem sucesso algum.
- ando desanimada até a cosinha, enquanto caminho pelo corredor já posso ouvir minha mãe que cantarola uma canção que desconheço.

- Bom dia Ana! -fala ela, assim que me vê chegando - sempre muito animada, o contrário de mim.

Ela está como de costume ocupada preparando seus deliciosos doces, o avental enlaçado na cintura e uma toquinha com estampa de rosquinhas na cabeça.

- Bom dia mãe. Dormiu bem? - tento disfarçar a frustração que borbulha dentro de mim, e coloco no rosto o meu melhor sorriso.

- muito bem. Quer tomar café comigo? acabei de fazer.

- adoraria - o café de dona Judith era simplesmente irresistível. Minha mãe tinha o dom para tudo que envolvesse comida.

- E então filha como estão as coisas? - pergunta deixando seus afazeres e se sentado à mesa comigo.

E eu sei muito bem ao que ela se refere quando diz "coisas". Mas, infelizmente não tenho notícias boas para dar. O que não era nenhuma novidade.

- A entrevista de ontem não deu em nada. Desculpe, eu devia ajudar e... -dou um longo suspiro.

- Ei! - ela me repreende - não fique assim. Você vai conseguir um emprego maravilhoso. Eu sei que vai. E que estória é essa de DEVIA? Você não tem obrigação de nada Ana. Você é uma filha maravilhosa por isso corre atrás do que quer. Você DEVIA era sair mais. Conhecer novas pessoas, e parar de se preocupar tanto. No momento certo sei que tudo vai se resolver.

-obrigada. - outro dom da minha mãe é que ela senpre sabe o que dizer quando alguém precisa ouvir.

- devia estar era vivendo mais e se preocupado menos - acrescenta com a voz amável.
- estou bem mãe - suspiro de novo.

Esse negócio de suspirar já tava virando vício.

- Ana! Olhe para mim. - eu obedeço é claro. - estou falando sério. Você só sai de casa ultimamente para ir a uma entrevista de emprego...

- tudo bem... - era impossível discutir com minha mãe. Levanto meus braços em sinal de rendição. - Vou pensar no seu caso.

- já é um começo. -diz satisfeita.

- conversamos mais um pouco até que minha irmã entra e o silêncio vira coisa do passado. Alice não era abençoada com a qualidade da discrição.

- Bom diiiia! - ela entra gritando na cozinha com seus longos cabelos castanhos espalhando-se para os lados.

- Bom. Posso saber o motivo de tanta felicidade?

- também quero saber - completa minha mãe curiosa ao meu lado.

- Eu tenho uma coisa que pode mudar tudo... preparadas? - agora que ela falou nessa tal coisa é que percebo que desde que entrou ela tem as duas mãos escondidas atrás das costas.

- Ai Alice! fala logo estamos curiosas - diz mamãe.

- tharammmn! - ela diz e joga um panfleto em cima da mesa.

- o que é isso? - pergunto desenteressada. - Se não for um boleto premiado nem quero.

- leia senhorita - diz séria, cruza os braços e fica ali parada de pé esperando.

-tudo bem então - eu apanho o pequeno papel de cima da mesa e leio em voz alta.

"Estamos a procura de profissionais qualificados para um cargo de prestígio em nossa empresa. Interessados comparecer ao escritório desta durante a tarde de"...

- parei de ler, e olho pra minha irmã que continha ali no mesmo lugar. - O que é isso?

- vai me dizer que ainda não deu pra entender... A entrevista como você pode ver é daqui a três horas. Sugiro que comece a se arrumar Ana.

- eu não acredito, era essa oportunidade que eu tanto queria... Mas peraí, que cargo de prestígio era esse? Tudo bem não importa saber deve ser algo ótimo. Finalmente vamos conseguir sair das dívidas. E eu vou cumprir meu papel na família... ufa! Antes tarde do que nunca.

- Ali obrigada! - digo enquanto arrebato minha irmã em um abraço.

- Me agradece chegando aqui com uma ótima notícia.

- vou fazer o meu melhor

- eu sei... Agora tenho que voltar pra floricultura dona Loreta me deixou vir aqui só para dizer isso a você. Tchaw mãe e boa sorte Ana. - diz minha irmã já correndo cozinha a fora...

- vamos -diz minha mãe me puxando em direção a meu quarto - temos que deixar você apresentável para entrevista. Afinal você será a nova profissional do cargo prestígio. Seja lá o que for isso - nós rimos enquanto minha mãe falava e revirava meu guarda roupa ao mesmo tempo - sinto que essa será uma oportunidade maravilhosa.

- E ela nunca esteve tão errada. Só que eu não sabia disso ainda. Eu não tinha idéia da confusão em que estava me metendo e que essa mesma confusão ia mudar completamente a minha vida.

De repente agente duplo (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora