Capítulo 41

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Acabou? Eu ainda estava em estado de choque, mas a presença dele ao meu lado era a única coisa que parecia me prender a realidade. Tudo em que eu conseguia pensar eram nos lábios apressados e ferozes que tocaram os meus, mesmo que apenas por alguns segundos, eu me sentia suja e a sensação de estar exposta permanecia.

- tenho que algema-la apenas para que ele veja. - avisa prendendo meus pulsos. - você está bem Ana? - ele me olha preocupado e segura meu rosto com as duas mãos. - fala comigo. - pede. Eu consigo assentir com a cabeça lentamente, mas nada sai da minha boca.

- tudo bem. - diz me surpreendendo e me abraçando. - ele usava um colete a prova de balas sobre uma camisa preta, as calças eram da mesma cor, ele era basicamente uma versão masculina de mim mesma, a única diferença era a máscara que ele usava, provavelmente para que o bandido não o reconhecesse - vou tirar você daqui. - promete outra vez, eu me apoio em seu ombro e sinto seu perfume amadeirado. Eu nunca me sentir tão feliz ao vê-lo.

Enquanto estamos ali abraçados, a mesma sensação de familiaridade que tantas vezes já senti quando estávamos juntos retornou e com algo a mais, agora eu também sentia segurança.

- vamos sair logo daqui. Pronta? - diz se afastando, eu quase estendo os braços e o envolvo de novo em outro espaço, mas não conseguiria fazer isso mesmo se quisesse com todas as forças, afinal  minhas mãos já estavam presas. A ausência de não ter ele perto de mim me pegou de surpresa. Eu de fato o amava. Mas um problema para acrescentar a lista.

- sim. - é só o que consigo dizer em resposta. Ele parece preocupado comigo, mas apenas assente sem dizer mais nada. Ao segurar minhas mãos algemadas a sua postura muda, uma última atuação para o grande final.

Andamos até o elevador, os policiais já haviam saído com o tal lobo mal, já no estacionamento vejo algumas viaturas e em uma delas o meu sequestrador estava sendo colocado, eu faço uma expressão mortífera para todos ao redor, imitando a cena típica do bandido valentão algemado e recebo um olhar significativo do cara como se realmente houvesse algo entre nós, senti repulsa daquele olhar. A viatura em que ele é colocado está a poucos metros da que eu mesma entraria então ele pode ver perfeitamente quando Calebe me empurrou para dentro dela.

- entre. - diz com voz grave e abrindo a porta, eu prontamente obedeço me sentando no banco de trás. Já dentro do veículo percebo que não estávamos sozinhos, um policial sentava comigo, ele me mostra uma chave e eu permito que tire minhas algemas, assim que Calebe dirige o carro para longe dali.

Permaneço em silêncio durante todo o trajeto. Eu sabia que provavelmente estávamos indo para a empresa e mesmo que não soubesse, ainda estava em um estado de sonambulismo acordado profundo demais para perguntar e confirmar. Sem deter meu olhar eu encaro o rosto de Calebe que está refletido no espelho do carro, de repente as curvas do seu rosto se tornam como que conhecidas para mim, como se de fato eu já houvesse estado com ele e o visto a muito tempo atrás o que é no mínimo estranho já que antes da festa de Fred eu nunca o havia visto.

Assim como eu, os dois homens no carro não parecem ter vontade de falar nada e eu não me importo, precisava desse silêncio, só assim conseguiria me concentrar nos gritos que estava dando por dentro. Meu olhar continua sobre o belo homem que dirige o carro, devíamos estar bem longe do endereço da empresa pois  já estamos dirigindos há alguns minutos e nunca chegamos a lugar algum.

Minha mente divaga sem que eu perceba... divaga sobre ele. Seus olhos azuis vibrantes estão concentrados na pista, os cabelos estão literalmente bagunçados e agora percebo que ele parece cansado, os ombros estão tensos e vejo nele alguns sinais de que não tem dormido pelo tempo necessário. Apesar de tudo isso, ele ainda conseguia estar bonito, na verdade parece ainda mais do que quando nos vimos pela última vez.

De repente agente duplo (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora