- Alô? - a voz familiar chega aos meus ouvidos e imediatamente produz uma sensação profunda de alívio.
- Oi amigo! Sou eu. - ouço um profundo suspiro do outro lado da linha e percebo que ele estava prestes a tagarelar de um jeito nervoso.
- Graças a Deus Lore! - sua preocupação me traz a certeza de que eu o conchecia mesmo muito bem, e que ele era o mesmo Fred de quem eu me despedi algumas semanas atrás. Eu, no entanto, me sentia diferente, essa missão mudou minha vida de certa forma, mas a saudade se tornou inevitável ao lembrar das pessoas que eu amava. - Como você está? Onde está? Eu vi toda a agitação no jornal local. Não falam de outra coisa, a prisão de uma tal quadrilha ainda hoje de manhã tem sido assunto em todo lugar, no mesmo instante em que vi sobre isso no noticiário eu pensei em você. Se bem que eu estou sempre pensando em você e quase sempre é por conta de preocupação. Mas por favor... - seu tom de voz se torna ainda mais aflito e eu me encosto na parede para não desabar - Me diga que não tem nenhuma parte do corpo quebrada ou perfurada.
- Fique tranquilo, eu estou bem. - começo tentando soar tranquila - A missão terminou realmente, os criminosos foram presos e agora eu estou segura.
- Que bom! Quando você volta? - seu tom apressado me faz lembrar que ele seria apenas uma das outras duas pessoas para quem eu ainda teria que ligar.
- Acho que amanhã a tarde, depende do quanto eu conseguir dormir esta noite. - isso se eu conseguisse ficar relaxada o bastante para conseguir pegar no sono.
- Entendo, claro. - o seu tom protetor assume o controle e eu presumo com certo receio de onde a conversa chegaria - Você precisa descansar. Onde você está? Em um hotel? Se quizer posso ir até aí com você e lhe fazer companhia.
- Não... Eu.. er.. - penso silenciosamente se ele reagiria bem ou não tão bem com a resposta que eu teria de dar, e antes que eu invente qualquer desculpa elaborada ele mesmo suspira e deduz tudo.
- Não me diga que você está com ele, sério? - ele parece irritado, um tanto abismado e também desconfiado com uma ponta de confusão. Eu não o culpava.
- Estou, mas é apenas por uma questão de segurança. - respondo rapidamente.
- Humm. - é apenas o que ele diz, antes de mudar inteiramente de assunto, isso para a minha total felicidade. - não vejo a hora de você voltar e eu poder contar as novidades.
- Que novidades? - ele me interrompe.
- Nada demais, agora vou deixar você fazer as demais ligações da noite. Dona Judi deve estar uma pilha a essa hora.
- Como sabe que eu não liguei pra elas antes?
- Você não me parece alguém que foi bombardeada com perguntas, está muito calma para já ter falado com ela... - ele suspira, e faz uma pequena pausa antes de voltar a falar - Eu só peço que não me mate. - a última parte é dita com certo receio e eu me preocupo ainda mais.
- O que você fez? - é tudo o que consigo dizer, mas ele não responde, apenas me deseja sorte, o que me deixa ainda mais apavorada e desliga sem mais explicações.
Eu definitivamente, estava encrencada. Disco o número da minha mãe pensando em como essa conversa seria, mas nada me preparou para o que ela diria e eu já devia saber disso. O toque do celular soa e repete umas duas ou três vezes antes que ela atenta e isso só me faz entender que ela já esperava por uma ligação minha... Esse era o meu fim.
- Oi mãe! - tento soar nem tão alegre, mas confortável o bastante, não queria irrita-la por acidente.
- Meu Deus do céu! - o grito abafado dela me faz fechar os olhos com angústia, ela já sabia de tudo. - filha você está bem? Onde está? Está ferida? Como pôde me fazer passar um susto desses? Como pôde não me contar?! Responda alguma coisa Ana! - em outras circunstância eu brincadeira perguntando "como eu respondo se você não deixa?" Mas eu não era louca o bastante para despertar ainda mais sua preocupação e raiva.
- Estou bem. Não precisa se preocupar mãe, transfira suas preocupações para Fred e Ali, pois eles vão se ver comigo quando eu voltar.
- Eu não acredito que você iria me esconder uma coisa assim. - ela parece totalmente confusa. - eu tive que forçar Fred a me contar, nem mesmo Alice disse uma palavra e ela não faz ideia de que eu já sei.
- Aquele traíra! - digo zangada, continuaria a falar, mas ela me impede.
- Nem pense em ficar com raiva, você é quem está errada nessa história. Quem loucura foi essa?
- Mãe eu nao vou mais fazer isso, está tudo resolvido e eu volto amanhã a tarde para casa. Vamos ficar bem. Por favor me desculpe por não contar a você, mas foi necessário.
- Está bem. Conversamos melhor quando você voltar. Deve estar exausta depois de tudo o que eu vi no jornal, o que imagino ter sido apenas metade do que passou. Vou deixá-la descansar.
- Tudo bem mãe. Me perdoe.
- Você sabe que eu perdoo. Nos vemos amanhã mocinha. - e desliga do nada, mostrando que mesmo com perdão ela ainda estava brava. Muito brava... Deixo minha mão descansar ao meu lado e balanço a cabeça tentando organizar meus pensamentos.
Até que não tinha sido tão ruim.
Olho para a mala e penso no cheque que estava ali dentro. A quantia tornaria muitas coisas possíveis, como o carro que eu tanto almejava, a possibilidade de Ali não precisar mais trabalhar e a construção de uma confeitaria para minha mãe. Eu sabia que não faria mais isso de novo, sei que foi uma loucura perigosa e também sei que assim que eu estiver em casa terei de me despedir do meu parceiro de missão. Quando penso na possiblidade de não vê-lo de novo meu ser se divide em duas reações distintas, primeiro vem minha mente me dizendo que é a coisa certa, afinal Calebe e eu somos de mundo inteiramente diferentes e não poderíamos dar certo juntos, mas outra parte de mim, o meu coração, queria que desse, queria que um nós pudesse exisitir... Eu o amava afinal.
Ouço um barulho de panelas vindo da cozinha e logo em seguida minha barriga ecoa avisando que eu precisava comer alguma coisa. Resolvo averiguar os preparativos de Calebe, mesmo que a relutância a ideia de vê-lo de novo depois do quase incidente na porta do apartamento ainda esteja tão viva em minha mente que me faz estremecer.
Saio do quarto e caminho pelo corredor até a sala, olho de relance para alguns quadros por ali. O apartamento era aconchegante, mas ao mesmo tempo parecia dizer que o morador não ficava por tanto tempo aqui. Algumas fotos me chamam a atenção, quando já estava para seguir meu caminho em direção a fonte do delicioso aroma de comida. Vejo alguns quadros, que pareciam ter sido pendurados e escolhidos da forma mais aleatória possível. Ao lado da grande televisão havia uma dupla de plateleiras e um porta retratos estava virado com a fotografia virada para baixo. Pego com cuidado o objeto de vidro e o endireito na posição correta, minhas mãos ainda estão sobre a moldura de cor preta quando perco o fôlego ao olhar para a foto contida ali. Isso não era possível, ouera?
Sem nem mesmo tê-la soltado ainda, pego a moldura em minhas mãos para ver mais de perto, pisco meus olhos repetidas vezes tentando me convencer de que eu estava me confundindo, mas ao abrir os olhos lá estava a mesma imagem, a mesma mulher. Eu ainda não conseguia acreditar, sinto minha mente mergulhar na confusão. Havia uma garota na fotografia, aparentava ser alguns mais jovem do que eu, os cabelos eram curtos e no rosto um sorriso sincero transparecia uma risada satisfeita. Ela estava sentada em um banco de praça, sozinha. Olhando os detalhes, se fosse apenas para ouvir a descrição da jovem, de nada teria de estranho. Mas havia mais um detalhe, mais um pequeno e impossível detalhe. A garota era idêntica a mim.
Como em nome de Deus aquilo podia ser possível?!
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De repente agente duplo (CONCLUÍDO)
RomanceAna Laurell não podia estar mais feliz com seu grande feito, depois de um ano sendo mais uma nas estatísticas, a garota finalmente havia conseguido um emprego em um escritório de investigação da cidade. Ana não queria correr risco de vida, mas o pos...