Sem nem mesmo pensar direito no que estava fazendo, eu vou até a cozinha onde a única pessoa que podia me explicar essa confusão cantarolava e mexia, sabe se lá o quê, em várias panelas diferentes.
Paro há alguns passos de onde ele está e relanceio o olhar mais uma vez para a foto na moldura que eu segurava apenas para garantir mais uma vez que tinha visto mesmo, o que eu acreditava ter visto. E sim, era mesmo uma cópia minha na imagem, é claro, uma cópia aproximadamente alguns anos mais jovem e com uma aura de felicidade tocante, mas ainda assim idêntica a Ana que eu conhecia como eu.
- Calebe? - assim que escuta a minha voz ele se vira para me olhar, está com um sorriso despreocupado no rosto e seus olhos parecem ter aquela coisa a mais ao me observar, o mesmo a mais que eu já havia visto tantas vezes. Mas esse não era o momento de me perder em fantasias de que ele poderia sentir algo por mim.
- Olá! Parece mais descansada. - comenta antes de mudar sua expressão alegre quando entende a minha confusão, que como de costume devia estar totalmente visível. - O que foi? Aconteceu alguma coisa? Tem algo a ver com suas ligações? - ele se aproxima e só então vê o que tenho em mãos. Sua expressão muda novamente.
- Eu encontrei isso, e acho que quero uma explicação. Porque você tem uma foto minha? Sou eu mesmo? Quem é ela? - minhas perguntas se embolam pela pressa e eu respiro mais uma longa e deliberada vez, antes de voltar a falar. - estou confusa sobre isso. Sei que não é da minha conta e que com quase toda certeza essa mulher não sou eu, porque é claro, isso seria impossível, mas gostaria de saber sobre ela.
- Tudo bem. Estou quase terminando aqui e você deve estar com fome, vamos fazer uma refeição tranquila primeiro e depois eu conto tudo a você. - seu tom é contido, mas sua expressão é indecifrável.
- Está bem. - coloco a fotografia virada por sobre a mesa e ele me surpreende colocando o objeto de pé.
- Está tudo bem com sua família? - começa mudando de assunto, pelo que percebo ele de fato falava sério sobre fazer uma refeição tranquila, e pelo jeito não falar sobre o elefante branco na sala era o sinônimo de tranquilidade, no momento.
- Estão. - começo concordando com o seu plano. - na verdade eu acho que tenho que me preocupar mais comigo mesma agora e com minha própria segurança... - comento divertida, enquanto me sento a mesa que já está posta. O homem a minha frente me analiza como se perguntasse a si mesmo em que confusão eu havia me metido desta vez. - minha mãe descobriu sobre tudo e possivelmente eu vou pagar pelo meu segredo quando voltar para casa. - esclareço.
- Ah! - ele parece aliviado com minha explicação. - mães são assim, preocupar-se com os filhos é o que elas fazem naturalmente.
- Nisso você tem razão. - penso um pouco sobre minha mãe antes de voltar a falar. - Mas ela não era muito assim quando meu pai era vivo. - começo aleatoriamente. - de certa forma a perda dele fez com que ela olhasse mais pra mim e minha irmã, e quando eu digo mais, quero dizer mais mesmo. Ela quase não fala sobre ele e é um tanto fechada quanto ao que sente. Não que ela não seja uma pessoa alegre, mas acho que muitas vezes ela não expõe totalmente o que se passa consigo mesma.
- Perder o seu pai deve ter sido muito difícil pra ela.
- E foi, para nós três.
- Sinto muito.
- Obrigada. - sorrio agradecida. - Mas vamos mudar de assunto? Amanhã eu lido com minha mãe e sua preocupação. - brinco pensando no que estava sendo preparado para a minha chegada.
- Cuidado Ana. - diz com voz séria e concentrada - Você tem contato pra familia toda sobre o que aconteceu. O importante agora que tudo acabou é se manter reservada quanto a isso, precisa ser mais cuidadosa. Não conte para mais ninguém.
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De repente agente duplo (CONCLUÍDO)
RomansaAna Laurell não podia estar mais feliz com seu grande feito, depois de um ano sendo mais uma nas estatísticas, a garota finalmente havia conseguido um emprego em um escritório de investigação da cidade. Ana não queria correr risco de vida, mas o pos...