Capítulo 36

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Tudo bem, essa com toda a certeza não era a atividade que eu escolheria para passar a minha tarde, mas fazer o quê? Ele não havia feito um pedido.

Ordenado, era um termo muito mais compatível.

Assim como eu, todos os que haviam saído da reunião estavam indo para a sala de treinamento. Hoje pela manhã todos os que participariam do plano haviam finalmente sido escolhidos, o cara sinistro que agora eu só conseguia imaginar na minha mente como o lobo mal estava incluso; para meu total desespero ele estava na  equipe da segurança assim como eu. A única aparente boa notícia é que Anabel não estaria lá, mas olhando o contexto todo, é visível que a mulher é o menor dos meus problemas.

As equipes estavam divididas, as cordenadas foram repassadas, as tarefas atribuídas e os procedimentos explicados, ficou combinado que os responsáveis pelo acesso entrariam no sistema do banco ainda hoje, de um jeito que eu  não faço ideia, deixando assim tudo preparado para a ação daqui a dois dias. Eu nem posso acreditar que isso tudo está prestes a terminar, parece bom  demais para ser verdade. Eu só precisava me manter como a garota malvada, letal e experiente por mais 48hs, e ai tudo estaria feito.

Aguente só mais dois dias Ana... só mais dois dias.

Entro na sala de treino e fico apavorada só de olhar ao redor, eu nem mesmo entrei direito e já queria sair dali sem ser notada, o problema e que eu já havia sido notada por todos, odiei ainda mais aquelas botas de salto assim que paro de andar e devolvo os olhares muito vigorosamente, eu tinha deixado até eu mesma orgulhosa, afinal, odiava aglomerações, odiava olhares sobre mim.

Sustento a pose firme e quando o momento em que sou novidade passa, ele me esquecem e voltam a seus afazeres, eu podia respirar um pouco melhor agora. Analiso o lugar e vejo que é muito parecido com o espaço onde treinei na empresa. A diferença é  que eu não estava nem um pouco sozinha, deviam ter umas 20 pessoas ali. Haviam muito caras assustadoramente musculosos  maltratando sacos de bancada, e por um segundo eu me permiti senti pena deles, dos sacos de pancada, é claro! Outros estavam no tatame  treinando golpes e só de lembrar como fiquei destruída e muito dolorida durante os poucos dias que treinei pela primeira vez já desisto da ideia sem nem hesitar; logo mais a frente havia uma parte de armamentos, fico pensando se é uma boa idéia arriscar, eu havia tocado pela primeira vez em uma arma apenas algumas semanas atrás.

E seu eu matasse alguém por acidente?

Bem, na pior das hipóteses, eles me matariam por isso, eu seria presa por assassinato, perderia toda a minha chance de felicidade, perderia a liberdade, a paz interior e viveria como sendo uma fugitiva da lei; em resumo, as consequências podiam ser muitas e acontecer não necessariamente nessa ordem. Mesmo sendo um perigo a segurança dos, em parte ingênuos, colegas de treino, que nem mesmo imaginavam ao perigo chamado Lana Magalhães que os cercava, decido arriscar, afinal nada mais me restava do que fazer. Então decido por passar o tempo atirando em alguns pobres manequins indefesos.

Coloco os protetores de ouvido e carrego minha  própria arma, a qual eu já estava habituada, quando digo habituada quero dizer que eu já carregava ela muito tempo por ai e não que tivesse usado de fato, com toda a minha confiança e destreza eu detono! Não literalmente é lógico, eu posso dizer que foi mais uma detonação controlada. Atiro apenas uma vez em cada uma das vítimas em forma de plástico e acerto a cabeça de todas em cheio, era assustador como eu havia ficado boa nisso, minha mira era impecável, atiro no mesmo lugar em um deles tantas vezes que perfuro o lugar.

Minha nossa!

Euforia era o que eu sentia em pensar  que poderia  morrer daqui a dois dias, caso eles sequer desconfiassem de mim, e não era uma euforia que me deixava feliz, eu precisava  me manter focada, precisava dar o meu melhor, por isso carrego a arma mais uma vez e começo tudo de novo.

Estou devidamente concentrada em minha missão de acertar os manequins, seus braços, tórax. Nossa! Esse foi bem sobre onde poderia estar o coração! (Pobre manequim), atiro na cabeça outra vez e percebo  que alguém está se aproximando de mim, não me viro e nem digo nada, só tiro a minha atenção dos alvo quando decido fazer uma pausa, tiro os fones e verifico as horas, para minha surpresa já estava ali a 30 min. Nem me preocupo em me virar para ver quem me observa, pelo menos até sua voz me fazer gritar mentalmente de susto.

De novo esse cara?!

- você está acabando com os alvos. - aquilo não é uma repreensão, na verdade se parecia mais com um elogio estranho.

Um cara estranho, elogios estranhos. Até agora tudo faz sentido.

Eu nem sei como ele podia estar aqui sem os fones de proteção e pelo jeito que está suado, devia estar entre os malucos que socavam em um dos cantos, eu não o notei no início então acho que chegou depois que entrei aqui.

- Só um pouco. - respondo simplesmente - mas não se preocupe, ainda tem muito espaço para os próximos. - continuo sem expressão desmontando minha arma para limpa-la e lubrifica-la, não que eu achasse necessario, mas já que Margo havia me ensinado e eu precisava passar o tempo decido fazer mesmo assim, a parte ruim é que ele não parecia ter a mínima intenção de ir embora.

Era só o que me faltava...

- Você é boa nisso. Eu fiquei até com medo. - diz com voz, o que era mesmo aquele tom estranho? Eu não conseguia identificar direito. Devia ser gripe, ou seria nariz entupido? Devia ter um explicação para aquela voz esquisita, afinal ele não podia estar usando uma voz sedutora comigo não é? Ele estava usando voz sedutora comigo?! Me poupe!

- É bom ficar mesmo. - respondo seca já montado a última peça da minha arma de volta, nem havia feito todos os passos, mas eu precisava sair dali e rápido.

- Você podia vir...

-  Bem, eu preciso ir agora, tenho que acertar algumas contas por ai. Bom treino para você. - ele tinha começado a dizer mais alguma coisa, mas eu o interrompo antes disso, nem podia imaginar ter que prolongar essa conversa, se é que isso foi uma conversa. Carrego o armamento outra vez e ignoro seu olhar ainda sobre mim, antez de colocá-la na cintura e sair dali.

Era cada uma que me acontecia.

De repente agente duplo (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora