17º

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Isabelle:

Estou até agora pensando na falta de bom senso da minha mãe, isso foi ridículo, certamente ela fez isso para ficar como a vítima para a sociedade e realmente isso não deveria surpreender, conhecendo ela seria previsível. Eu fiquei ali o dia sem poder sair de dentro de casa, mas sempre me lembrando do que Ruan me disse, aquelas palavras ecoavam como se eu as ouvisse repetidas vezes "— Considere hoje como uma boa lembrança para relembrar quando estiver cheia de filhos problemáticos" eu sabia que mesmo com oitenta anos, eu sempre me lembraria daquele momento. Logo meu pai chegou, pobre dele, estava destruído e sua aparência entregava isso, cabelos bagunçados, olheiras roxas e um desanimo que se notava a quilômetros.

— Filha, estou tão cansado. – Falou colocando sua maleta sobre o sofá e me olhou.

— Eu imagino papai, eu sei que tem sido terrível. – Falei e ele continuou me olhando.

— Você vai entrar no processo de divorcio e terá que escolher algumas coisas, sem dúvidas. – Eu o olhei, escolher?

— Escolher? O que, por exemplo? – Perguntei.

— Chegará o momento em que eu e sua mãe teremos que ficar em diferentes casas... – Interrompi, porque eu sei com quem eu quero ficar. Isso era obvio demais.

— Pai, eu vou com você. Eu quero ir com você. – Disse e ele abriu um sorriso médio.

— Tem certeza? – Perguntou.

— Eu tenho, não posso conviver com minha mãe. Eu ficarei louca. – Meu pai sentou-se perto de mim, neste momento minha mãe abriu a porta principal da casa e entrou com dois homens muito bem trajados com paletós e gravatas combinando, aparentemente sérios, meu pai levantou-se ao vê-los três entrar.

— O que está acontecendo aqui? – Perguntou meu pai e minha mãe ordenou que um dos homens entregasse um papel ao meu pai, bom, eu tentei ver o que era, mas meu pai é alto e não tinha como. – Você acha que precisava chegar a isso? Sua ganância me anoja. – Afirmou meu pai e eu peguei o papel da mão dele, quando vi aquela intimação, que constava que de tudo o que meu pai tinha ele só poderia ficar com o que tivesse em sua conta no banco, o resto seria automaticamente da minha mãe. Fiz uma expressão de surpresa e raiva ao mesmo tempo. A ambição ataca novamente.

— Você tem dois dias para ir embora da minha casa. – Disse minha mãe e eu a olhei entrando na frente dos dois.

— Estou farta de você e essa sua falta de limites! Pai... Estou com você! – Disse alto e minha mãe deu uma risada.

— Isabelle minha filha, um dia você me dará razão, estou assegurando o seu futuro e o de sua irmã. – Meu pai estava acabado, olhei para ele e o vi daquele jeito, e depois olhei para minha mãe e vi o sorriso em seu rosto. Era destruidor.

— Eu não vou aguentar isso, você acha que tudo é dinheiro, então viva com dinheiro e sozinha. – Ela me olhou com raiva.

— Você está sobre a minha tutela, lembre-se de que não tem completos dezoito anos.

— Vai ficar com alguém que não quer estar ao seu lado? – Desafiei-a e ela fingiu não estar acontecendo nada.

— Vou cuidar do futuro de minhas duas filhas, MINHAS. – Gritou o "MINHAS" e meu pai mal a olhava de tão estressado que estava, coitado.

— Por que eu um dia me apaixonei por alguém como você? – Ela o olhou.

— Não vamos dar continuidade a uma conversa medíocre, tem dois dias para ir embora! DOIS DIAS. – Fui para o meu quarto, pois estava com tanta raiva, que ia acabar gritando com ela e expulsando aqueles dois homens da casa.

Ruan narrando:

Fui pro meu rancho e fiquei tomando o meu costumeiro uísque de sempre, peguei o jornal que estava jogado em frente uma casa e li o texto completo sobre a manchete que anunciava o divorcio dos pais daquela burguesa. Como será que ela está agora? Como estará, pequena? Perguntava a olhar pro vazio da parede, coloquei o jornal de lado e deitei sobre a cama. Pensava a olhar pro branco do teto, completamente concentrado, certas vezes me vinha a mente o sabor da doce boca dela, a maciez do cabelo dela, a delicadeza de seus traços, eu ficava dividido entre o correto e o que eu queria, eu me perdia com ela e isso é real. Abria um sorriso quando pensava que ela tinha medo de mim, mas me enfrentou! Procurou se defender, procurou limpar a sua ficha. Mesmo com todo receio de que eu a fizesse algum mal. Honestamente eu não faria.

Isabelle:

Eu fiquei péssima com tudo aquilo que aconteceu, minha mãe, a minha própria mãe, fazendo isso com meu pai só para ficar com o dinheiro dele, como se isso fosse a única coisa que importasse. Fui pro meu quarto e deixei a minha dor ser expressa em lágrimas que caiam, se eu não chorasse não ia conseguir aliviar aquele peso das costas, pobre do meu pai, pobre de quem lida com pessoa ambiciosas. Eu precisava tanto de alguém, mais tanto, Fabíola tinha me avisado que iria ao cinema com Renan. Pietro, é, Pietro.

— Pietro? – Perguntei.

— Sim, Isabelle. – Falou com um tom sério, acho que ele ficou com raiva de mim por ontem.

— Olha queria muito falar com você, pode?

— Me deve satisfações, mocinha!

— Eu sei que te devo satisfação, onde eu posso te encontrar?

— Estou no meu apartamento, pode vir.

— Certo, logo eu chego! – Desliguei.

Pietro:

Isabelle dá uma de difícil, mas no fim ela também me quer, é como se fosse tudo uma jogada para aumentar a minha vontade de ficar com ela. A esperei em meu apartamento, estava "enraivecido", pois ela havia sumido da minha festa sem avisar nada. Isso foi muito mal educado da parte daquela princesinha, que as vezes parece mais uma gata borralheira. A vi chegar através da janela do apartamento, estava com o seu mordomo e já deixei a porta aberta, logo o interfone tocou e ela pôde entrar. A esperei querendo as explicações sobre ontem:

— Oi Pietro. – Sorriu me dando um beijo na bochecha, fechei a porta.

— Pode vir. – Sentei no sofá completamente largado e ela sentou-se como uma bonequinha.

— Sei que ficou chateado comigo, mas eu tive que ir pra casa, por problemas pessoais. – Falou e eu a olhei.

— Tudo bem, eu entendo, mas fiquei realmente chateado. Depois fui te procurar e eu não te encontrava. – Ela me olhava e eu também a olhava.

— Preciso de alguém que me ajude, acho que viu o que tinha nos jornais. – Claro que eu vi.

— Vi, vi e imagino que tenha sido um golpe para você, mas Isabelle, se seus pais não estão bem juntos é melhor que cada um tome seu rumo. Acontece. – Ela me olhou.

— Estou mal, muitas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. – Fui até ela e sentei ao seu lado, deitando ela sobre meu corpo. Dando um abraço apertado.

— Fica bem, Isa. Até mesmo porque você não pode deixar um problema dos seus pais afetar você. – Ela estava carente, senti pena dela naquele momento. A situação não era simples.

— Isso me afeta mais do que a eles, tudo parece estar se fechando. Obrigada por me ouvir, de verdade, obrigada.  – Beijei o rosto dela e ela me devolveu com um selinho demorado.

— Fala sério, se tem uma coisa que eu faria um milhão de vezes, é te ajudar, minha linda.. – Ela sorriu alisando meu rosto.

Por que você? (EM REVISÃO E EDIÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora