22º

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— Acontece que eu estou apaixonada. – Disse e ela sorriu.

— Hum... Já imagino! – Não, por favor... Ela pensa que é pelo Pietro.

— Mas não é por Pietro, Fabíola. – Ela ficou séria e me olhou como se não fizesse ideia de por quem fosse.

— Se não é por ele, por quem é? – Eu pensei em como diria, mas vou ser direta. 

— Pelo motoqueiro que nos seguiu naquela noite. – Ela ficou surpresa.

— Pelo motoqueiro que te ameaçou de morte? – Me olhou e eu afirmei que sim com a cabeça. – Amiga, por que não me disse nada? Isso é... diferente!

— Exato, por ele. Não te disse nada, porque tenho medo de ouvir me dizer que ele é perigoso, que ele é um vingativo e mil coisas definitivamente ruins.

— Acho isso um bafo, por isso queria tanto ir aos rachas? – A olhei e confirmei apenas com a cabeça.

— Eu e ele estamos ficando, eu não sei, apenas quero estar com ele. E preciso que me compreenda independente de achar errado ou não. – Ela percebeu minha agonia ao falar aquilo e deu um sorriso de lado.

— Está ficando com ele? Uau. E você nem me disse... – Eu até ri, pensei que ela ia dar um chilique.

— É, eu não poderia te dizer né? – Ela sorriu.

Conversamos por algumas horas, ela me apoiou, mas me disse que seria impossível aos olhos de minha mãe. Eu já sabia, mas tenho que ser forte, por enquanto eu preferi me calar, deixar a poeira baixar. Fui para casa e no final da tarde, quando cheguei ouvi alguns gemidos para lá de esquisitos vindos do escritório em que meu pai trabalhou durante muitos anos, a porta era de vidro, mas estava coberta pela cortina, tenho certeza de que era minha mãe, abri devagar a porta e pude ver as pernas de um homem, minha mãe estava literalmente transando com um homem na cadeira onde meu pai trabalhou anos da vida dele. Meus olhos ficaram atentos aquilo, mesmo que eu quisesse nunca ter visto, minhas lágrimas desciam pelo rosto, fechei a porta devagar e subi as escadas para ver se Anne estava em casa e por sorte não. Me sentei na escada e comecei a lamentar aquilo com lágrimas e mais lágrimas. Me senti inútil, enganada, humilhada pela minha mãe, como ela pode fazer isso, como? Meu pai do céu, eu não acredito que ela possa ser tão, mais tão absurda! Fui pro meu quarto e minha vontade era de ir embora daquela casa e nunca mais voltar, eu tenho que ir embora, tenho que ir morar com o meu pai. Peguei o papelzinho com o endereço do meu pai, mas ele me disse "— Não pode vir aqui, porque sua mãe tem uma ordem jurídica!". Eu não posso complicar o meu pai. Ruan, é, Ruan! O chamei para vir me buscar em casa, ele disse que viria em pouco tempo, o esperei fora de casa, chorando intensamente.

Ruan:

O que houve com ela? Que soluços abafados eram aqueles? Certamente algo muito ruim aconteceu.

Estava terminando um trabalho quando ela me ligou e sim, eu ia buscá-la, estava sofrendo e eu não poderia negar ouvidos, fui em direção a sua casa e logo a avistei na frente do muro de cabeça baixa, parei a moto e desci, mal andei em sua direção e ela correu me abraçando, chorava bastante:

— Calma pequena. Se acalma. – Beijei seu cabelo enquanto me abraçava forte, chorando. O que fizeram com ela? O que?!

— Eu não aguento essa casa... Eu não consigo mais viver aqui. Estou ficando louca. – Falava aos sussurros e soluçando, quem foi o filho da puta que fez mal a ela?

— Toma. – Tirei minha camisa e entreguei-a para que chorasse nela, ela a pegou e passou alguns segundos descontando sua dor agarrada a minha roupa.

— Ruan, vamos para outro lugar. – Disse quando vi uma garotinha descer do carro do empregado da casa dela, com uma roupa de dançarina, quando Isabelle viu, me olhou. – Não posso deixá-la entrar. Anne, vem cá! – Enxugou rapidamente as lágrimas e a menina a olhou vindo em direção à ela. Eu apenas observei.

— Oi? – A menina a olhou, e eu fiquei parado, eram parecidas. Bem parecidas. Digamos que estou vendo uma versão de Isabelle com menos de oito anos.

— Anne, quero te levar a um lugar bem maneiro. – Falou Isabelle.

— Um lugar? Que lugar? – O tal empregado tocou o braço da menina a puxando levemente para adentrar a mansão.

— Não Marques! Não vai levá-la! – Disse Isabelle me voz alta segurando a mão da irmã com força.

— Tenho ordens, senhorita. Eu apenas cumpro o que me mandam. – Disse o empregado e eu me meti, afinal, se a menina não pode entrar, ela não vai entrar.

— Cara, é melhor que as deixe ir. – Falei encarando-o.

— Eu não posso, porque... – Não o deixei terminar de falar.

— Eu já disse, vamos Isabelle, trás a menina. Não diga a ninguém, ouviu? – O ameacei com a voz séria e alta, ele tinha medo, muito medo. É isso exatamente que quero que ele tenha.

— Vai Marques, ouve ele. – Disse Isabelle e o empregado entrou, as olhei.

— Para onde vai me levar? – Perguntou a garotinha.

— Ruan, temos que levá-la em algum lugar. – Disse me olhando e pensei onde poderíamos ir.

— Ninfeta, tem um parque logo aqui, mas é pobre, digo... pros padrões... – Disse e ela sorriu.

— Isso não tem nada haver. Vem Anne, vamos. – Ela pegou a mão da irmã e caminhou indo a frente, eu fiquei parado e ela olhou para trás. – Tem uma mão para você. – Eu sorri com o que ela disse e segurei na outra mão.

Por que você? (EM REVISÃO E EDIÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora