Kyro...

232 28 6
                                    

    Eu gritava, mesmo sabendo que aquilo desapontava eles. Eu chorava, mesmo sabendo que aquilo era o que eles queriam.
    Ninguém vai me ajudar agora. Eu estou sozinho, como sempre estive.

    Acordei, sentindo uma mão em meu ombro. Ofegante, olhei para o lado e me deparei com minha mãe, com o semblante preocupado.

    -Mais um pesadelo?- Ela perguntou.

    -Eu estou bem.- Respondi e me afastei, saindo da cama.

    -Isso não faz bem para você.

    Me virei para olhar em seus olhos. Ainda era noite, e talvez minha mãe tivesse acordado com os meus murmúrios.

    -O que não faz bem para mim? Esses remédios? Acredite, eu já sabia disso.- Perguntei, tentando não sair do controle.

    -O seu mau humor não faz bem. Ficar o dia inteiro nesse quarto tentando dormir não faz bem. Você apenas está se torturando!- Exclamou.

    -Sai daqui.- Murmurei.

    -Filho...

    -Sai da porra do quarto!- Gritei.

    Fechei os olhos e comecei a contar. Funcionava, por incrível que pareça.
    Ouvi a porta se abrindo e logo em seguida se fechando. Soltei o ar que eu não sabia que estava preso dentro de mim.
    É inútil brigar com a minha mãe, ela nunca larga do meu pé. Ela diz que é afeto por mim, mas eu não dou a mínima.
    Abri os olhos e tomei um susto com a criatura na minha cama. E eu repito: na minha cama.
    O mesmo bicho, a mesma alucinação, agora deitada na minha cama, calma e tranquila.
    Eu fiquei parado, sem reação alguma. A ponta peluda do rabo começou a se mexer de um lado para o outro, lentamente, como antes.
    A luz da lua que vinha da janela aberta iluminava o pelo dele, e agora eu sabia a sua cor.
    Azul escuro, quase preto no breu da noite, mas era perceptível que era azul.
    Ele olhava para mim, mas não rosnava. Ele apenas encarava, com o pelo nem um pouco eriçado.

    -Não vai rosnar?- Sussurrei, para mim mesmo.

    E então, ele desapareceu. Ele literalmente sumiu, como sal na água. Franzi o cenho, sem entender o que tinha acabado de acontecer.
    Eu não consegui pensar direito, apenas tomei um susto ao bicho aparecer na minha frente.
    Eu acabei tropeçando nos meus próprios pés e caí no chão, com os olhos bem abertos e centrados na criatura a minha frente.
    Ele ainda não rosnava, apenas estava sentado e me encarando sem expressão.

    -Quem é você, e o que você está fazendo aqui?- Perguntei, lentamente.

    Ele fungou, como um tipo de resposta. Estendeu o braço com a "pata" perto de meus pés e então escreveu na madeira do chão com as suas garras.
    Em pouco tempo ele acabou o que quer que ele queria fazer. Eram letras, formando uma palavra estranha.

    -"Kyro"?- Perguntei. -Esse é o seu nome?

    Ele fungou, de novo. Tá, talvez isso signifique um "sim".

    -Não vai me matar, né?- Perguntei.

    E agora ele começou a rosnar, mas parou assim que viu eu me assustar. Talvez, um pequeno rosnado de sua parte seja um "não". Bom, eu espero que seja.

    -Você não é uma alucinação, ou é?- Perguntei, começando a me ajeitar e tentar chegar perto dele.

    Estendi o braço para perto de seu focinho, mas aparentemente ele não gostou da aproximação e seus pelos arrepiaram, um momento antes de ele desaparecer novamente.

    -Merda.- Sussurrei.

    E quando eu me levantei do chão, o meu celular começou a vibrar no criado-mudo.
    Era o alarme, que me acordava para ir pra escola. "Ah, ótimo", pensei com ódio.

/--/

    -Eu penso que esse mau humor todo é resultado de ninguém para você dar uns amassos.- Falou Henry.

    Eu estava no corredor e esse idiota estava me enchendo o saco. A vontade de dar um soco na cara dele era grande, mas a Aloy iria me matar, então eu descartei essa ideia.

    -Henry, cala a boca.- Pedi em um murmúrio enquanto eu fechava a porta do meu armário.

    -O que foi? Eu errei o meu chute?- Perguntou e se apressou ao me ver andando para longe dele.

    -Errou feio.- Respondi.

    -Ah, que droga.- Comentou e torceu os lábios em descontentamento.

    E depois dessa conversa, tudo ocorreu naturalmente, como todos os outros dias de aula foram.

...

Eu realmente não consigo parar, sério.
E eu espero que vcs estejam gostando, pq aí eu vou ficando mais e mais feliz e acabo fazendo muitos caps.
Se tiverem dúvidas, elas vão ser esclarecidas ao decorrer da fic, ou vcs podem me perguntar no chat.
É isso, bye ;3

HallucinationOnde histórias criam vida. Descubra agora