Mesmo com o alívio de toda aquela sensação estranha, eu tinha alguns flashes de memória que me relembravam breves cenas.
Olhos âmbares, cabelo preto e bagunçado, pele em um tom pálido natural...
Eram sempre cenas que me remetiam a ele, e isso ocorria tão normalmente. Chegava a ser estranho.
Mas eu estava me acostumando, pois talvez a minha mente não pararia tão cedo...Cuidar de pessoas doentes nunca fora um trabalho fácil. Principalmente quando se tem alguém falando no seu ouvido...
-Henry, eu já entendi.- Disse já irritado com a voz incessante do loiro.
-Às vezes eu acho que eu não me dou muito bem com as mulheres.- Comentou e esfregou a nuca involuntariamente.
-Você acha?- Perguntei sarcasticamente.
-Você é sempre chato desse jeito?- Rebateu com outra pergunta, se sentindo ofendido.
-Só quando me irritam.- Respondi simplesmente, voltando o olhar para alguns papéis na minha mesa.
-Você poderia hipnotizar alguma mulher pra mim com os seus 'olhos do mal'.- Falou, citando a sua expressão para se referir aos meus olhos vermelhos.
-Eles não fazem isso. Se eles fizessem, eu já teria usado-os para te expulsar daqui.- Murmurei e vi Henry ficar emburrado.
-Eu sou tão insuportável assim?- Choramingou e eu sorri de canto.
-Sim, você é.- Concordei e ele revirou os olhos.
-Que seja.- Resmungou e ficou andando ao redor da minha sala, analisando as decorações.
Haviam alguns diagnósticos na mesa que me chamaram a atenção. Alguns eram de crianças que já tinham nascido com doenças graves; outros eram adolescentes com problemas psicológicos.
Tinham adultos também, mas eram poucos. Sempre pedi diagnósticos de jovens, porque eu posso entender melhor a visão deles.
E mesmo se fosse adultos, eu conseguiria ajudar facilmente da mesma forma, mas eu realmente preferia os mais novos.
Era tão ruim ver que crianças com poucos anos de vida já carregavam em si uma praga que poderia ser irreparável.
Eu já pude conhecer crianças com câncer, alegres e gentis, sem se importar tanto com a doença. Pensava que quando crescessem, elas poderiam nutrir ódio e a tristeza por ter aquilo se espalhando pelo corpo.-Jacob.- Murmurou Henry, me livrando da minha própria atenção.
Quando olhei para ele, estático e olhando para a tela do celular de forma pensativa, senti uma pontada de curiosidade dentro de mim.
-O que foi?- Perguntei.
Ele não conseguiu responder minha pergunta. O seu celular tocou logo em seguida, indicando uma ligação.
-Alô?- Atendeu, com a testa franzida.
Ele ouvia atentamente a voz do outro lado da linha. Eu conseguia ouvir também, apenas o tom histérico e desesperado.
-Ei, calma. Respira fundo e repete devagar.- Henry pediu, começando a ficar aflito.
-Henry...- Comecei, mas fui interrompido pelo seu sinal, pedindo silêncio.
-Agora?!- Perguntou para o alguém na chamada.
Eu estava mais atento do que o normal. A conversa me deixava preocupado de um jeito impressionante.
-Fica calma e volta pra casa, ta bom?- Pediu atenciosamente e segurou o celular firmemente. -Eu vou avisar ele.
Houve uma breve despedida e ele encerrou a ligação. Seu olhar encontrou o meu e me transmitiu seriedade.
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Hallucination
FantasyJacob é um adolescente com um transtorno mental, o que faz de sua vida um verdadeiro inferno. Em um dia normal, ele se depara com algo que ele nunca tinha visto na vida e logo pensa que aquilo era apenas uma alucinação, mas ele saberá que a tal aluc...