Maybe A Problem

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    A vida é absolutamente inesperada. Há momentos que podem ser previsíveis, mas a maioria deles são surpreendentes.
    Uma ligação de acontecimentos pode levar a algo totalmente inusitado e, às vezes, sem coerência.
    O que podemos fazer é lidar com isso. Apenas aceitar que é assim que a vida funciona.
    Você pode odiar as surpresas da vida, mas é inevitável. Não se importe tanto com o que pode acontecer...
    Só viva.

    Eu não conseguia pensar direito enquanto eu caminhava pelas ruas praticamente desertas, até que algo me chamou a atenção.
    Ao meu lado havia um beco, escuro o suficiente para deixar o aviso de "perigo" evidente, mas não era só isso.
    Embaixo de meus pés, o chão era escorregadio, mas ainda assim sólido. A luz da lua refletia nele, com muito mais brilho do que o normal.
    Demorou um pouco para que eu entendesse o que era aquilo, mas não era tão difícil de distinguir...
    Era claramente gelo.
    Eu não sabia como era possível o chão estar congelado com uma temperatura ambiente tão normalizada.
    O gelo saía do beco, o que me deu mais um motivo para não entrar, mas eu ainda sentia que tinha alguma coisa errada.
    O concreto estava coberto com gelo. Obviamente havia algo de errado.
    Eu acabei entrando, tomando cuidado para não escorregar no piso transformado. As paredes do local, além de serem extramamente sufocantes e apertadas, também estavam cobertas por gelo, o que fazia a temperatura abaixar e meu corpo se encolher de frio.
    Depois de alguns passos, eu percebi mais alguma coisa incomum. Meus pés se afundaram em algo fofo e gelado.
    Neve. Mais uma coisa improvável de se acontecer.
    As lixeiras gigantes que se encontravam nos cantos do local estavam abrigadas pela neve. Aquela cena poderia surpreender qualquer um que visse, e agora eu estava no meio dela.
    No final, perto da parede, havia um corpo deitado e aparentemente inconsciente no chão.
    Ele estava quase sendo engolido por neve, e poderia estar morto pela queda da temperatura corporal.
    Ao me aproximar, vi o rosto familiar da garota pálida, que me fez arrepiar de pânico.
    Era Nara ali no chão, coberta por neve e com os lábios sem cor. Sua pele era gélida, como se a sua temperatura já tivesse se esvaído.
    A primeira coisa que eu pude fazer foi checar o pulsamento, e por sorte ele ainda estava normal. Supus que talvez fosse a regeneração simples das bestas que estivesse deixando-a viva.
    Em seguida, peguei o seu corpo e carreguei até a entrada do beco. Se eu não tivesse a força incomum de uma criatura supostamente inexistente, eu não conseguiria nem ao menos levantá-la.
    Mesmo sendo um corpo leve, sua pele me fazia tremer de frio. Era absurdamente gelada, como se eu estivesse carregando um pedaço de iceberg.
    Aquele local era bem perto da minha casa, então não demorou muito até que eu chegasse e tivesse um pouco de dificuldade para abrir a porta da frente.
    Eu iria deixar o corpo dela no sofá, mas paralisei no lugar quando vi Henry jogado de qualquer jeito ali.
    Callie estava na poltrona, mexendo em algo que aparentava ser um cubo mágico.

    -Ele estava me ameaçando então eu tive que desmaiá-lo, mas juro que dessa vez não foi com uma lâmpada.- Explicou, sem tirar os olhos do brinquedo em suas mãos.

    -Pode me ajudar?- Perguntei rapidamente, querendo me livrar daquele gelo que eu estava carregando.

    Ela desviou o olhar para mim e analisou, surpresa.

    -O que aconteceu?- Perguntou, com os olhos fixados na garota em meus braços.

    -Posso explicar assim que eu largar isso.- Falei rapidamente, mas ela não saiu do lugar e continuou encarando. -Callie!

    Ela olhou para mim e eu indiquei o corpo em meu colo, fazendo ela levantar com pressa.

    -Esse peso morto vai ter que esperar.- Disse, pegando o corpo de Henry e colocando de forma desajeitada na poltrona.

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