Mental Whispers

57 6 0
                                    

    Nara conseguiu chegar lá? Eu não sei. Só em pensar que poderiam machucá-la me deixava inquieto.
    Será que Jacob reagiria bem com a sua chegada?
    Espero que ele seja paciente e não jogue tudo para o ar, como sempre faz.
    Ele age sem pensar, com imprudência. Me lembrava de como eu era no passado, de todos os erros cometidos e de como as consequências haviam chegado como um soco no estômago.
    Mas tudo bem, eu acho. Gosto desse comportamento nele...

    Ouvi passos se aproximando e abri os olhos rapidamente, ficando em estado de alerta.

    -Me soltem!- Gritou alguém.

    A voz fina, firme e afeminada ressoou pelo corredor, me dando a certeza de que a pessoa era uma mulher.
    Os guardas passaram pela minha cela, me dando a visão da mulher se debatendo e gritando, tentando se soltar.
    Meu olhar se encontrou com o dela por um breve momento e logo depois ela sumiu de meu campo de visão.
    Mais passos foram escutados por mim. Um guarda se aproximou, abrindo a cela e entrando com um carrinho de metal.
    Nele haviam uma seringa com ponta e um alicate. Ele pegou a seringa, se aproximando mais da cadeira.

    -O meste quis que eu lhe preparasse para a execução.- Disse, colocando a ponta da seringa em meu braço sem aviso.

    Eu sabia o que o líquido poderia fazer no meu organismo, eu conhecia aquilo. Apenas pela cor, pude saber que era o típico conteúdo que só os Noutsi tinham.
    A substância anulava todos os poderes que a besta tinha direito de ter. Invisibilidade, regeneração, aparição das garras e dos meus olhos de gato. Tudo isso iria desaparecer.
    Rosnei em um tom baixo, deixando que se parecesse com um ronronado. A facilidade com que o meu corpo ardia em um calor intenso provocado pelo líquido era assustador.

    -O que vai fazer?- Perguntei, vendo a seringa ser retirada e colocada no carrinho.

    Ela foi substituída pelo alicate, grande e feito com um metal escuro.
    O homem ajeitou o objeto em suas mãos e ordenou:

    -Abra a boca.

    Estendeu a mão, deixando-a próxima de meu rosto. Levantei uma das pernas, que não estavam amarradas, e chutei seu corpo para longe.
    Eles podiam ser brutos, mas eram estupidamente burros.
    Se levantou com rapidez e me olhou com desprezo antes de atirar um espinho na perna utilizada, prendendo-a na perna de metal da cadeira.
    Resmunguei, sentindo o sangue manchar a minha calça.

    -Não se mexa, ou farei a mesma coisa com a outra.- Ameaçou e se aproximou novamente.

    Ele pegou meu maxilar com força e tampou meu nariz, me obrigando a abrir a boca e respirar.
    Quando o fiz, senti o metal frio do alicate em contato com a minha língua. Ele agarrou um dos meus caninos e apertou, puxando com força.

    Aquilo realmente não estava acontecendo.

/--/

    Eu respirava com dificuldade, tentando me manter acordado. Me sentia desgastado e dolorido, principalmente na área do meu maxilar.
    Me remexi na cadeira e pensei em Jacob. Ele deveria estar sentindo a minha dor e tudo o que eu estava passando.
    Tinha que acabar com a ligação, antes que as coisas ficassem piores. Ele iria morrer no dia seguinte se a ligação não se rompesse.

    -Jacob.- Murmurei, forçando a movimentação da minha boca. -Você está aí?

    Nada. Nenhuma resposta, nenhum sinal. Cerrei os punhos, sentindo a ponta de cada dedo doer. Eu forçava a saída de minhas garras, mas eu só recebia mais dor.
    Senti mais pontadas em minha boca, me fazendo resmungar com impaciência.
    Virei a cabeça para o lado e cuspi o sangue que insistia em sair descontroladamente.
   
    -Jacob!- Gritei, sem me importar com a aparição de qualquer guarda no corredor.

HallucinationOnde histórias criam vida. Descubra agora