Messed Up

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    Eu poderia ter o poder que quisesse, nada me tornaria tão corajoso quanto outros a minha volta.
    Até mesmo a garota assustada possuía ainda mais bravura que eu, apenas por ter ficado no mesmo recinto que um caçador de recompensas e não ter fugido quando teve a chance.
    O poder de curar, ou transmitir dor, ou a telepatia... Nada mudaria o fato de que aquilo estava no corpo de um inexperiente e inacreditavelmente transformado em besta.
    Talvez nem isso eu poderia ser. Eu não poderia me transformar, de fato, em uma besta como Kyro e os outros.
    A confusão de quem eu poderia ser apossou minha cabeça...

    Balancei a cabeça, relutante. Os pensamentos me perseguiam de modo insistente e pessimista.

    -Não tem saída agora.- Ele claramente ofegava.

    O mascarado correu atrás de mim pela sala. Eu não conseguiria atacar sem muita experiência para tal ato, então fugi e desviei de suas investidas.
    Seu peito movimentava-se rapidamente e ele tentava recuperar o fôlego perdido.
    A sala estava destruída, com marcas de arranhões pelas paredes e pela mesa de madeira. A cadeira estava em um canto, caída e meio torta.
    Os livros das estantes já não estavam no mesmo lugar, mas muito pelo contrário. Estavam no chão, depois de uma grande desordem.
    Uma das estantes estava caída na frente da porta, bloqueando o caminho. A sua frente, o sujeito permanecia firme e em pé.
    Eu, por outro lado, estava ajoelhado e ofegante. Os cortes que me alcançaram nas costas e inicialmente no peito foram superficiais, mas ardiam mais do que ferro aquecido em contato com a pele.

    -Aqueles fugitivos covardes não conseguiram nem ao menos ficar ao seu lado para lhe proteger. Uma pena perder um poder como o seu.- Lamentou falsamente, se aproximando.

    -Não há nada de especial em mim e eles não precisam me proteger.- Murmurei com esforço, esperando que ele ouvisse.

    -Eu utilizei paralisia na ponta das garras.

    Sua frase solitária não fizera o mínimo sentido. Levantei o olhar para sua máscara escura, traçada grosseiramente ao formar um sorriso bizarro.

    -Você ainda se mexe com uma facilidade incrível. Seu corpo não obedece aos efeitos colaterais.- Ele recitou com a voz encantada.

    -Todas as bestas tem uma regeneração assim. São imunes a efeitos colaterais, assim como eu.- Insisti na ideia de que não havia nada de novo.

    -Fisicamente? Não é disso que estou falando.- Dispensou a ideia no mesmo instante. -Poderes únicos, com feitos irreversíveis. É disso que estou falando.

    -Não importa. Não faz diferença.- Ignorei suas palavras.

    -Não sei como ainda continuo falando com você, parasita.- Ele finalmente se tocou. -Vamos acabar com is...

    Houve batidas na porta. Ele se virou, em direção ao som. Fiz o mesmo, temendo que alguém conseguisse colocar ao menos a cabeça para dentro do recinto e ver a bagunça feita.

    -Doutor? Está tudo bem?

    Eu adorava essa palavra. "Doutor", como se eu tivesse um cargo extremamente importante. De fato era, mas eu não fazia mais do que consultas.
    As únicas pessoas que me chamavam assim eram pacientes, mas no caso era apenas a voz doce da secretária.

    -Está tudo ótimo.- Falei, ao observar a máscara pintada virada de frente para a minha pessoa.

    -Ouvi barulhos estranhos e pensei que precisasse de alguma ajuda.- Sua voz abafada do outro lado da porta era preocupada.

    -Não, está tudo bem, não se preocupe.- Assegurei, observando o sujeito estático pelo choque de outra pessoa ter aparecido.

    Foi uma ótima distração para a minha regeneração cobrir todos os ferimentos. Ele observou a porta e analisou cada passo da secretária, confirmando lentamente sua ausência daquele corredor.
    Levantei sem que ele percebesse e pulei sobre suas costas. Não agarrei sua cabeça pois demoraria mais para que a dor o atingisse com a máscara bem ali.
    Ataquei o local mais próximo. No caso, o seu pescoço vulnerável.
    Ouvi seus grunhidos após poucos segundos da presença de minhas mãos em sua pele. Eu sentia minhas palmas formigarem e meus batimentos cardíacos aumentarem.
    Fiz ele cair no chão, como se fosse um corpo morto deixado para trás. Ainda não era, mas estava inconsciente.
    Algo vibrou em cima da mesa. Capturei a imagem de meu celular, com a tela acesa e indicando uma nova mensagem.
    Olhei uma última vez para o corpo em meus pés e fui até o aparelho para saber qual era a mensagem enviada.

    "Você está bem?"

    Era Justin. Aparentemente ele estava preocupado e talvez não soubesse que Kyro tinha me seguido e estava me observando no trabalho.
    Suspirei e não respondi. Claramente nada estava bem, mesmo que o problema já estivesse em minhas mãos para resolvê-lo.
    A minha sala estava deplorável e ninguém poderia ver aquilo ou eu estava totalmente ferrado; Kyro estava em algum lugar do hospital, com uma garota que ele nem ao menos conhece, mas que viu muita coisa acontecendo diante de seus olhos.
    Eu estava aqui, dentro de um 'cativeiro' com um corpo, tentando achar uma forma de sair e levá-lo comigo.
    Me virei, deixando o celular de lado e dando atenção ao que realmente importava ali.
    O chão da sala estava vazio. Sim, vazio. Apenas os livros espalhados e os móveis destruídos estavam intactos, mas o corpo tinha sumido.
    Pisei na área onde ele estava, cogitando a ideia de que ele poderia estar invisível, mas eu não senti nada além do chão de madeira.
    Ele não poderia ter sumido do nada, poderia?
    Voltei para o meu celular e digitei uma mensagem para Justin, respondendo-o.

    "Eu preciso de uma ajudinha, e de preferência, sem ser um humano."

    Guardei meu celular no jaleco rasgado e dei as costas para a mesa novamente.
    A estante que bloqueava a saída estava afastada e a porta aberta. Ele realmente estava invisível, mas foi esperto ao sair do seu lugar e fugir assim que teve a chance.
    Mais um problema: o fugitivo, no meio de um lugar com vítimas bem acessíveis.

    -Ótimo.- Sussurrei e fui até a porta.

    Tranquei a porta por fora, para prevenir os sustos de outras pessoas ao verem minha sala. Segui o corredor até as salas dos pacientes internados, esperando encontrar aquela garota e provavelmente Kyro.
    No meio do caminho, peguei uma camisa verde dos enfermeiros, para que eu conseguisse tirar meu jaleco e substituí-lo por uma roupa que não estivesse marcada por cortes em formato de garras.
    Eu esperava alguma resposta de Justin, ou algum sinal de Kyro. Eu era um médico, mas não conhecia todo o hospital, se é que isso é possível.
    Ficar andando pelos corredores sem saber onde está indo como uma barata tonta era extremamente desesperador.
    Ok, hora de aparecer, Kyro. Ou qualquer um disposto a me ajudar...

...

Parece que quando eu fico doente as coisas ficam piores. :/
Capítulo bem nhé, mas eu tô sem criatividade e sem tempo (sem querendo justificar tudo oq eu faço :P).
Inclusive, semana que vem eu não vou conseguir postar. Tenho prova sábado, domingo e nas semanas após esse próximo final de semana (sem tempo irmão -_-).
Não briguem comigo, mas eu realmente preciso focar nessas provas.
Até daqui um tempo.
Bye ;3

HallucinationOnde histórias criam vida. Descubra agora