Not a Bad Idea

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    Quando você alimenta o ódio, é difícil deixá-lo de lado. Callie teve o mínimo de compaixão com Henry, mas não acredito foi por livre e espontânea vontade.
    Sempre há algo ou alguém que te ajuda a tomar decisões, que te guia quando você está cego.
    Callie não era tão inconsequente assim antes, mas talvez tenha algo que possa ajudá-la a seguir uma linha reta.
    Ela só precisa de ajuda, assim como eu. Nossas escolhas nem sempre têm de serem independentes.
    Aliás, acho que já fomos independentes demais por muito tempo...

    -Por que fez isso?- Perguntei sem ter o esforço para olhá-la.

    Estávamos na sala de espera do hospital. Alguns enfermeiros levaram Henry imediatamente para alguma sala, e Aloy seguiu, mesmo que ela não conseguisse entrar na mesma sala que ele.
    Eu e Callie ficamos aqui. Tive que insistir para que ela ficasse comigo e deixasse Aloy sozinha por um momento. Talvez a ruiva pudesse conseguir acompanhar Henry de algum modo.

    -Isso o que?- Rebateu, com uma voz irritada.

    Olhei para ela, vendo o quão atenta estava. Apesar da raiva, ela olhava para todos os lados, como se estivesse em busca de alguma coisa.
    Ela nem ao menos sentou ao meu lado nas poltronas, apenas ficou em pé, com as costas apoiadas na parede.
    Tivemos a sorte que a sua roupa estava limpa e favorável ao lugar.
    Bom, nem tanto...

    -Por que trouxe ele aqui? Aloy te pediu, mas por que obedeceu?- Expliquei, desconfiado.

    Eu vi o corpo dela se retrair e se mexer em desconforto. As perguntas eram simples, mas fizeram um bom impacto.

    -Porque eu quis fazer isso. Só porque acha que eu não posso ser uma boa pessoa, não significa que eu não seja.- Respondeu, mas não foi muito convincente para mim.

    -Como quiser, mas o que eu vi foi mais esclarecedor do que isso.- Comentei, com um sorriso pequeno e involuntário no rosto.

    -Eu não me importo com o que você vê.- Resmungou, como uma criança emburrada.

    Seu olhar analisador que percorria todo o recinto parou em um ponto específico.
    Sua postura se ajeitou em segundos, como as orelhas alertas de um cão policial.

    -Vocês podem ficar tranquilos, pois tenho boas notícias.- Um médico se aproximou, com sua prancheta em mãos.

    Callie ainda estava paralisada, mas seu olhar não estava no homem em nossa frente.
    Seus olhos se fixavam na garota de cabelos alaranjados, que se destacava em todo aquele branco monótono de hospital.

    -Ele vai ficar bem?- Deixei de analisar todo aquele clima estranho para perguntar.

    -Sim. Não achamos nenhum caco de vidro que possa estar junto ao corte, então tudo está sob controle.- Afirmou o médico, com um sorriso acolhedor.

    -Ok, obrigado.- Agradeci e ele se retirou, mas deixou Aloy com a gente.

    As duas se encaravam. Callie com uma mistura confusa de sentimentos no olhar e Aloy com uma fúria bem perceptível.

    -Acho que...não te deixaram entrar com ele, né?- Perguntei, quebrando essa tensão constrangedora.

    Ela me olhou e negou com a cabeça, vindo lentamente até mim e me abraçando.
    Seus braços não me apertaram, apenas me rodearam, e eu pude ver o quão cansada ela estava.
    Enquanto isso, sentia um olhar raivoso sobre mim e tive certeza que era Callie ao meu lado, me lançando um olhar mortal.
    Acho que já entendi o que está acontecendo...

    -Já tá muito tarde e talvez você deva ir pra casa. Callie pode te levar e eu posso ficar aqui pra cuidar de Henry...

    -Não.- Aloy resmungou, com os seus braços me apertando forte.

    -Aloy, eu sei que você está cansada. Não pode passar a noite inteira aqui.- Insisti, ainda sem olhar para Callie para ver sua reação.

    Senti o aperto afrouxar e ela se afastar, cravando o olhar em meus olhos.

    -E você pode?- Perguntou, indignada e irritada ao mesmo tempo.

    -Eu já me acostumei a ficar acordado pela noite inteira, mas não vai te fazer bem.- Tentei explicar e convencê-la.

    Seus olhos verdes se estreitaram, desviando o olhar para o chão por um momento.
    Ela estava pensativa. Pelo menos já é alguma coisa.

    -Me escuta pelo menos dessa vez, por favor.- Continuei, quando vi ela fechar os olhos e se concentrar internamente.

    Eu pude ver a expressão esperançosa de Callie. Ela me devia muito mais do que uma lâmpada agora.
    Aloy abriu os olhos, com eles já concentrados na outra garota.
    Não dê merda, não dê merda, não dê merda...

    -Eu não quero assassinatos e nenhum tipo de brincadeira, entendeu?- A ruiva se dirigiu a Callie com exigência.

    -Por mim, tudo bem.- Sua voz era divertida, mas dava para perceber que o tom era sério.

    -E você vai me deixar em casa e sumir de vista, sem exceções, ok?- Ela falava bem sério, mas eu estava me segurando para não deixar um sorriso escapar.

    -Sim senhora.- Callie concordou, sem disfarçar o sorriso bem marcado no rosto.

    -E você.- Ela se virou para mim e eu paralisei. -Não vai sair daqui até que Henry saia inteiro, me ouviu?

    -Eu não pretendo.- Respondi, com o corpo rijo no lugar.

    Ela olhou de mim para Callie e relaxou os ombros, suspirando.

    -Ok, eu vou.- Ela se aproximou de Callie.

    As duas saíram do hospital, sem antes haver um olhar sério de Aloy em minha direção.
    Não sei se foi uma boa ideia deixar as duas juntas e sozinhas, mas vamos ver no que vai dar...

/--/

    -Você não deveria ter deixado ela sozinha.- Falou Henry, claramente irritado.

    -Ela não ficou sozinha. Callie estava com ela.- Desviei o pensamento.

    -Pior ainda.- Resmungou e eu revirei os olhos.

    Era madrugada e tinham se passado apenas algumas horas depois do incidente.
    Henry fora liberado e eu acompanhava ele até a nossa casa, com uma discussão bem chata sobre a "segurança" de Aloy.

    -Ela queria ir e Callie não é uma pessoa ruim.- Eu ainda tentava convencê-lo do contrário.

    Ele não respondeu, apenas continuou andando pela calçada ao meu lado.
    Henry estava se movimentando rapidamente, como se quisesse chegar logo em casa e acabar com aquela conversa.
    Mas algo aconteceu e me tornou pensativo. Não era algo definitivo, apenas mais uma mistura de sensações estranhas e ruins.
    Aquilo não me deixava mal ou confuso, só pensativo.
    Estávamos quase chegando em casa e Henry estava um pouco a minha frente.

    -Ei! Pode ir na frente! Tenho que resolver algumas coisas, tudo bem?- Gritei, com o objetivo de fazê-lo escutar.

    Ele não tinha respondido ou parado de andar, me ignorando totalmente. Eu não queria ter que esperar uma resposta, então apenas me virei e segui minha intuição peculiar.
    Cada passo era tão pesado contra o chão que me surpreendi por um momento. O meu corpo se tornou apressado, assim como Henry estava.
    Era diferente, de qualquer forma. Henry estava com raiva, mas eu estava com fome de descoberta, querendo saber o que tanto atiçava a minha mente.
    Eu me pegava pensando em como eu era vulnerável com todas essas sensações e pensamentos. Eu não deveria me importar muito, mas eu sempre seguia.
    Se era involuntário, o que eu poderia fazer?

...

Tá pequeno mesmo, desculpa.
Eu tava muito mal esses dias, mas eu vou começar a cuidar de mim mesma e vou melhorar.
A criatividade ainda vai bater na minha porta :P
Bye ;3

HallucinationOnde histórias criam vida. Descubra agora