Finally

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    Você já pensou em aceitar coisas que você nunca aceitaria, apenas para impulsionar a sua vida de um modo empolgante?
    Tudo para mim estava tão parado e rotineiro, como se estivesse em preto e branco em uma televisão antiga.
    Talvez se eu aceitasse que tudo voltou a ser como antes, quando as coisas eram divertidas e energéticas...
    Bom, talvez eu pudesse sair desse preto e branco e evoluir para as cores, cada vez mais coloridas e vivas.
    Algo em mim pedia por isso. Pedia para que tudo voltasse a ser como antes, para que tudo se consertasse e ficasse colorido.
    Não necessariamente as cores mais vibrantes do mundo, mas também as cores frias e calmas. Eu não queria animação a todo momento, mas situações diferentes a cada dia.
    Eu sentia esse sentimento de querer a descoberta.
    Eu queria novas experiências, sendo elas boas ou ruins...

    Meu corpo agia por um impulso que eu não sabia ser possível de se obter. Minhas pernas seguiam um ritmo apressado e meus olhos corriam pelas portas, atrás de um número específico.
    E lá estava ele. Número 4, sala 4.
    A minha mão na maçaneta era abobalhada e trêmula, não conseguindo manusear direito.
    Quando a porta se abriu, eu dei de cara com a máquina dos batimentos cardíacos. Eram mínimos, mas ainda estavam ali.
    A pessoa deitada estava inconsciente e com vários cortes pelo corpo. Eram profundos, como se a pessoa que os causou quisesse realmente machucá-lo.
    Engoli o meu ódio pela garota insana e cínica que causou aquela situação e peguei a mão da vítima.
    Apertei ela bem firme entre meus dedos e aproximei de meu peito, como se quisesse acolhê-la dentro de mim.
    Fechei os olhos e tentei me concentrar, mas tudo o que vinha na minha cabeça era os demônios da minha vida esquecida.
    E quando eu dizia "demônios", eu me referia aos idiotas que voltaram para o meu mundo, querendo a minha ajuda depois de me fazerem sofrer.
    Além deles, um em específico chamava bem a atenção. O ser sarcástico e canalha, o meu tormento principal.
    Mas eu ainda tinha aquela vida, literalmente, em minhas mãos. Usei os pensamentos ao meu favor, mesmo abominando aquela ideia nojenta.
    Deixei que um lado de mim que me esforcei para apagar aparecesse e oferecesse os pensamentos que eu mais temia.
    Aqueles momentos únicos e todas as carícias possíveis. Todo aquele amor mascarado para me destruir, mas que era falsificado tão bem.
    Todos aqueles toques tão atenciosos e aquele calor no peito, que aquecia o corpo inteiro e te enchia de felicidade...
    Meus olhos se abriram e eu pude ver os cortes se fechando lentamente e deixando algumas cicatrizes desbotadas e quase imperceptíveis.
    A felicidade que ele armou para que eu sofresse no final.

    -Quero que acerte as coisas com Kyro e aceite a proposta.

    A voz, que antes era bem psicopata, agora era doce e normal demais.
    Eu apenas conferi os batimentos controlados para então me virar e encará-la. Callie estava apoiada na batente da porta, com as mesmas roupas ensanguentadas.

    -Enfermeiros podem te ver assim.- Disse, ignorando a sua afirmação e apontando para todo aquele visual de halloween.

    -Se alguém me ver, você vai me aconselhar um bom lugar para  esconder um corpo.- Ela entrou na sala e fechou a porta.

    Repousei a mão fria de volta na cama, do jeito que estava antes.

    -Por que quer que eu aceite tudo isso?- Perguntei, voltando a olhar para ela.

    -Você tem algo que me interessou bastante.- Respondeu, com um sorrisinho leve no rosto.

    -O tempo mudou você. Mais do que imaginei.- Murmurei e o seu sorriso se alargou.

    -Eu sei que você quer aceitar, mas não quer admitir. O seu amor por ele ainda está aí dentro.- Ela estava convencida o suficiente para me deixar com raiva.

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