You Can't Fight With Lions

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    Você poderia perdoar uma pessoa que te abandonou por anos depois de criar uma ligação tão forte e te fazer feliz de uma forma inimaginável?
    Talvez fosse essa a pergunta que eu deveria fazer para mim mesmo.
    Kyro me destruiu depois de se relacionar intensamente comigo, e agora ele voltou, com um problema a mais em sua vida e me passando certa desconfiança.
    Era apenas um passo falho e eu poderia cair em qualquer um de seus joguinhos novamente, mas o tempo passou e me mudou, me deixando mais atento e maduro.
    Eu poderia dar mais uma chance, mas qualquer indício de mentiras, eu iria embora...
    Assim como ele tinha feito comigo.

    -Eu tenho que ir.- Murmurei, olhando para a tela do meu celular.

    Aloy havia me mandado uma mensagem, que poderia ser de uma intensa raiva ou desespero. Por ser ela, eu esperava uma mistura dos dois.

    -Mas já?- Kyro perguntou, se levantando junto comigo.

    -Sim. Aloy está furiosa, e não queira vê-la furiosa.- Fiz uma expressão de "acredite em mim quando eu falo isso".

    -Tá, mas você poderia dizer que está ocupado e que precisa de mais tempo.- Falou tudo rapidamente, tentando me convencer a ficar.

    Pensei no quão adorável isso soaria para mim anos atrás, mas agora eu apenas ouvi com indiferença.

    -Ela já sabe que eu sumi magicamente do hospital. Aliás, eu poderia ter saído pacificamente, mas sua amiga não tem paciência alguma.- Expliquei, dando as costas para ele.

    Minha mão tocou a maçaneta e abriu minimamente a porta...
    Para então ser fechada com brutalidade por uma mão que apareceu por trás de mim.

    -Por favor.- Pediu em súplica e eu me surpreendi por um momento.

    Kyro nunca implorava ou se desculpava facilmente. Aonde ele queria chegar com tudo aquilo para cima de mim?

    -Você nunca implorou. Por quê faria isso agora?- Perguntei, com os olhos fixos nos dele.

    -Ainda não percebeu?- Ele perguntou por cima, se inclinando para intensificar o olhar.

    Estávamos bem próximos novamente e eu não tinha escapatória. Eu estava entre ele e a porta, encurralado como um rato na ratoeira.

    -Eu não tenho uma bola de cristal.- Murmurei, com os seus olhos faíscando em um dourado indecifrável.

    Ficamos nos encarando até o momento em que ele decidiu se afastar e me deixar sair de seu quarto.
    Eu não olhei para trás, mas quando fechei a porta e me deparei com o corredor estreito e vazio, me arrependi por míseros segundos.
    Ele tinha convencido uma parte de mim, mesmo que fosse uma porcentagem mínima.
    O meu corpo queria voltar e se desculpar, falando que poderia pedir um pouco de tempo para Aloy, mas algo dentro de mim era orgulhoso demais para se entregar assim, de braços abertos.
    Apenas andei automaticamente até a porta principal do apartamento.
    Quando passei pelo sofá, alguém me impediu.

    -Você vai pra casa?

    Me virei para olhar Callie, sentada no sofá com um olhar interessado.

    -Sim.- Respondi simplesmente, sem motivos para mentir.

    -Posso ir com você?- Sua pergunta me pegou de surpresa.

    -Por que?- Estreitei os olhos, curioso.

    -Só quero te acompanhar. Não posso?- Ela se levantou e se aproximou, com as mãos nos bolsos do jeans rasgado. -E, aliás, você precisa de alguém para te levar de volta.

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