Como eu contaria para ele? Tudo estava tão embaralhado na minha mente devido ao cansaço extremo que eu não pude pensar nisso antes.
O líquido injetado em meu organismo era letal e se instalava permanentemente, o que fora um pequeno e absurdo detalhe esquecido por mim.
Eu queria romper a ligação pois seria executado, mas eu havia esquecido que a minha sentença de morte poderia ser feita de várias maneiras.
Se ele soubesse, eu não sei como ele reagiria...Neguei com a cabeça, tirando esses pensamentos da minha mente. Eu tinha que me concentrar em minha caminhada.
A fuga tinha acabado e eu consegui despistar todos os guardas. Agora, eu estava andando com dificuldade.
Cada passo demorava ao ser feito e eu sentia um peso enorme sobre o meu corpo, gritando para que eu caísse no chão e me entregasse para a escuridão.
Eu lutava contra, com os olhos quase totalmente fechados. A floresta ao meu redor aparentava ficar mais escura e densa a cada minuto.
Soltei um suspiro fraco ao ver a casa familiar de madeira logo a minha frente.
Me permiti cair de joelhos no chão, sentindo algumas gotas de água pelo meu corpo.
O ritmo da chuva estava ficando mais agitado, mas eu pouco meu importei, apenas caí totalmente no chão.
A grama molhada era como o tapete mais confortável do mundo naquele momento. Fechei os olhos e aproveitei a sensação da água fria caindo em meu rosto.-Kyro.- Ouvi meu nome sendo pronunciado.
Eu reconheci a voz rapidamente. Era minha irmã, Nara.
Consegui dar um sorriso quase imperceptível, mas não falei sequer uma palavra. Eu não tinha forças para isso.
Deixei que o grande sono guardado em mim me atingisse e apenas adormeci, abaixo da chuva forte que se formara./--/
Havia pouca luminosidade no cômodo quando acordei. Eu estava deitado em algo macio, que logo soube ser uma cama.
A única fonte de luz ali era a lareira acesa, que projetava sombras meio estranhas no ambiente, as quais eu ignorei completamente.
Inspirei bem fundo, inalando finalmente uma boa quantidade de ar, que antes fazia uma grande falta.
Meus olhos repousaram na imagem do garoto sentado em uma cadeira de madeira, no final da cama. Ao lado dele, tinha uma pilha consideravelmente grande de livros, que foram ou não lidos.-O que foi? Parece que viu um fantasma.- Brinquei em um sussurro, vendo a sua expressão assustada.
Ele largou o livro inacabado em suas mãos e se levantou, correndo até a beirada da cama com pressa.
-Hey, relax...
Fui interrompido, com a última coisa que pensei que ele poderia fazer no momento.
Jacob apenas me beijou, sem nenhum aviso prévio. Eu poderia afastá-lo e achar aquilo tão estúpidamente errado, mas eu deixei que ele agarrasse a minha nuca com certo desespero e continuasse.
Pensar que eu teria muito pouco tempo ao lado dele me deixava em um pânico alarmante.
E eu, de certa forma, precisava daquilo. Eu passei por um turbilhão de acontecimentos péssimos, e aquele momento era essencial para mim.
Ele se afastou, me deixando incomodado por não ter mais. Eu queria mais. Eu precisava de mais.-Você é...maluco.- Falou, ofegante.
-Depende muito do motivo.- Dei um sorriso sincero.
Ele me olhou nos olhos por míseros segundos antes de me empurrar, desviando o olhar.
-Eu pensei que você estivesse morto.- Murmurou, com os olhos fixos no chão.
-Sinto-lhe informar que estou respirando.- Disse, ironicamente. -Ainda...
E foi no momento em que completei a minha frase com a temida palavra em ênfase que ele me olhou intensamente.
Nenhuma palavra saiu de sua boca e nem precisava. Seus olhos diziam tudo o que eu precisava saber.
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Hallucination
FantasiJacob é um adolescente com um transtorno mental, o que faz de sua vida um verdadeiro inferno. Em um dia normal, ele se depara com algo que ele nunca tinha visto na vida e logo pensa que aquilo era apenas uma alucinação, mas ele saberá que a tal aluc...