Immensity

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    Se sentir desconfortável era um sentimento que eu tentava evitar ao máximo, mas não conseguia. Kyro era impossível de se ignorar, e sua presença realmente me afetava, mesmo eu tentanto negar com toda a minha vida.
    Mas eu o odiava por ter me deixado sozinho, por não ter me visitado. Tudo bem, ele tinha uma vida além daqui, mas ele também havia construído uma história que ficava entre parênteses e que era necessária alguma atenção.
    Não se ignorava uma segunda vida construída, ainda mais depois de tantos momentos. A falta de compaixão dele me deixou aflito e acumulou rancor e frustração dentro de mim.
    Eu não admitia, mas doía ter que ignorá-lo algumas vezes e vê-lo com uma filha, mostrando que ele tinha conseguido seguir em frente...

    -Se você parasse de ficar com os olhos focados nessa tela, eu agredeceria.- Ele disse, sem olhar para mim.

    Eu digitava e divagava sobre minha relação com ele, com alguma habilidade que eu não sabia de onde tinha vindo. Estávamos andando há um bom tempo, seguindo os corredores sempre semelhantes do hospital, que começavam a me dar dores de cabeça.
    Às vezes eu podia entender o desgosto de algumas pessoas em relação a esses ambientes, agora que eu reparava e passava muito tempo dentro deles.
    Eu falava com Justin, que me contava a serenidade de Luna enquanto brincava com seus brinquedos no chão da sala. Também disse sobre Shina e Kito, que sempre discutiam vez ou outra no apartamento, mas que logo Kovu decidia interferir e fazer os dois pedirem desculpas um ao outro.
    Ele deixava bem claro que poderia chamar mais alguém, caso eu precisasse de mais ajuda. Eu respondi que não era necessário no momento, e foi aí que Kyro me chamou a atenção.
    Ele estava claramente em estado de alerta, como um cão de guarda, olhando para todos os cantos em todos os corredores que se passavam. A roupa do hospital que usávamos não servia de muito, já que Kyro insistia em ficarmos invisíveis quando alguém se aproximava.
    Além de alerta, estava cansado por conta do uso excessivo de seu poder, mas sempre alegava estar bem e que deveríamos continuar andando.

    -Todo esse caminho sem fim me cansa. Sabe que ele pode ficar invisível, certo? Ele pode estar do nosso lado, zombando do quão burros nós somos.- Mudei o assunto para o nosso alvo, no caso, o sujeito mascarado.

    -Tudo tem um limite. Ele não vai poder se esconder por muito tempo.- Explicou, ainda não me olhando nos olhos.

    Ouvi alguns passos quando passamos perto de escadarias, que seguiam para cima e para baixo. Kyro também percebeu quando sua cabeça se direcionou para o barulho, mas fui eu que agi por impulso.
    Quando vi a primeira porta aberta no corredor, corri até lá, empurrando Kyro comigo. Ele se permitiu ser empurrado até o cômodo livre da presença de qualquer profissional.
    Na realidade, aquele espaço era apertado e escuro, preenchido com poucas e pequenas prateleiras com produtos de limpeza.
    Alguns rodos e esfregões estavam apoiados na parede, e Kyro quase derrubou-os, mas foi rápido ao se equilibrar e evitar os objetos.

    -Desculpe.- Sibilei, momentos após eu fechar a porta.

    Ele não respondeu e encarava a porta atentamente, ouvindo cada ruído do outro lado do material que separava os espaços.
    Quando os passos se cessaram e ele decidiu que tudo estava seguro, foi até a porta automaticamente, como um robô programado para alguma tarefa em especial.

    -Ei.- Chamei, segurando seu braço.

    Ele se virou para mim, me olhando com alguma informação no olhar que eu não conseguia compreender muito bem. Poderia ser seriedade, irritação, cansaço...
    Tudo, menos características positivas.

    -Sei que é muito importante a nossa busca e tudo mais, mas não acha que está levando isso muito a sério?- Eu falei, ainda com certo receio.

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