Together Again

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    Ficar inconsciente era uma vivência bem interessante. Mesmo que você não estivesse no controle, acho que essa é a parte interessante.
    Não estar no controle às vezes é bom. Talvez as escolhas que você faria não fossem as melhores do mundo e poderiam fazer você se arrepender.
    Algumas pessoas acham que essa é a graça de viver. Errar e acertar, haver realmente um equilíbrio, mas será que não tem mesmo um pequeno desejo dentro de si em deixar de ficar no comando?
    Parar de se preocupar um pouco com a realidade e deixar acontecer o que tem de acontecer.
    Sendo bom ou ruim. Afinal, é apenas uma experiência...

    Kyro estava realmente preocupado, em um nível que eu nunca tinha percebido antes.
    Ele não saía do lado de Nara, ainda deitada no sofá. Seus olhos estavam repousados atentamente na irmã e seus dedos fazendo um carinho significativo na testa preocupadamente pálida.

    -Ela ainda está gelada?- Pude perguntar, sem conseguir segurar minha fala.

    -Como uma pedra de gelo.- Ele murmurou, sem tirar a atenção dela.

    -Acho que eu deveria voltar para a sua casa.- Ouvi a voz preguiçosa e olhei para Callie.

    -Pra quê?- Perguntei, dando de ombros.

    -Nara não é a única desmaiada na situação...- Deixou claro e ergueu levemente uma sobrancelha, com o olhar entediado. -Se é que você me entende.

    Suspirei, lembrando do meu outro probleminha com outras pessoas inconscientes.

    -Pode ir. Entendi o seu ponto de vista.- Permiti, sem hesitar.

    Ela deu um sorrisinho, o que me chamou a atenção.

    -E nada de brincadeiras.- Me apressei em falar.

    Ela apenas deu uma piscada e desapareceu em um teletransporte, o que me deixou um pouco incomodado.
    Eu não sabia o que aquilo poderia significar.

    -Você pode curá-la.- Murmurou Kyro, como se estivesse pensando alto.

    Me virei para ele, mas ele ainda olhava atentamente para Nara.

    -Não acho que ela esteja necessariamente machucada.- Revi seu argumento.

    Dessa vez, ele olhou para mim, mas com uma intensidade no olhar que me pegou de surpresa.

    -Não custa tentar.- Falou, com os olhos dourados e escuros passando uma pontada de esperança.

    Eu não reagi por um momento, paralisado pelo seu olhar. Aquela fatídica fala "eu não resistia ao seu olhar" se aplicaria agora, mas eu não quero pensar que seja isso.
    Soaria muito vulnerável, e eu odiava passar aquele ar de fragilidade.
    Foi inevitável de qualquer forma, pois acabei cedendo ao seu pedido.

    -Não prometo que vá funcionar.- Deixei claro antes de me aproximar dos dois.

    -Tudo bem.- Concordou, sem pestanejar, e eu estranhei na hora.

    Parei de pensar em como aquelas atitudes eram tão distintas dele e tratei de pegar a mão gélida de Nara.
    O meu suposto poder era confuso. Eu demorei para entender como ele funciona e sempre tive a sensação de que não é apenas isso.
    Curar pessoas não era um trabalho fácil e, pelo o que eu sabia, eu apenas poderia curar o físico, mas quem teria certeza disso?
    Ao fechar os meus olhos, era como se eu pudesse ver claramente o que Nara estava vivenciando no seu psicológico.
    Eu podia ouvir o seu desespero, bem baixinho, como se estivesse muito longe de mim. Afaguei sua mão, enquanto passava o meu calor corporal para ela.
    Não fazia ideia do que poderia estar acontecendo lá fora, na realidade. Apenas continuei concentrado, como eu sempre fazia para transportar a cura para outras pessoas.
    O choro distante dentro da minha mente sumia aos poucos e eu podia pensar que Nara estava se acalmando, o que era uma coisa boa.
    Então eu abri os olhos, ao mesmo tempo que o choro de medo cessou. A vista que tive foi a garota, ainda de olhos fechados, com a pele mais naturalizada e sem o inchaço roxo na bochecha.

    -Ela parece melhor.- Kyro tirou a minha atenção da aparência modificada de Nara.

    -Realmente, mas ela ainda está inconsciente.- Respondi, repousando a mão delicada de volta ao sofá.

    -Já é alguma coisa. Ela vai ficar bem.- Disse como se tivesse total certeza.

    Eu evitava olhar para ele enquanto se levantava e ficava ao meu lado.

    -Pode dormir aqui se quiser. Acho que Callie não vai voltar tão cedo.- Sua voz foi educada, mas algo em mim disse que havia um sentimento diferente ali.

    Me afastei, não gostando da proximidade que nós estávamos tendo.

    -Eu não quero te incomodar ainda mais.- Murmurei.

    Ele notou o quanto eu estava o evitando e respeitou isso, dando alguns passos involuntários para trás.

    -Não me incomoda nem um pouco, se quer saber.- Rebateu, também não olhando para mim.

    -Não tem lugar pra mim aqui. Não tenho onde dormir.- Insisti na ideia de não ficar.

    -Posso dormir no quarto de Nara junto com Luna e você fica no meu quarto.- Achou uma solução e eu suspirei derrotado.

    -Você tem uma resposta pra tudo, né?- Falei, finalmente olhando entediado para ele.

    Foi um erro estabelecer um contato visual novamente. Os olhos dele eram realmente hipnotisantes, e eu me perdia facilmente neles.

    -Vem comigo. Vou pegar Luna e já arrumo tudo pra você.- Chamou e eu segui ele pelo corredor.

/--/

    -Pronto. Qualquer coisa me chame.- Falou, quando deixou uma coberta em cima da cama, caso eu precisasse.

    Afirmei com a cabeça, sem falar muito. Pensei em pará-lo quando ouvi passos até a porta...
    E foi exatamente isso que eu fiz.

    -Kyro.- Chamei, me virando para olhar pra ele.

    Ele parou de imediato, se virando também com uma cara de interrogação.

    -Obrigado.- Agradeci, mesmo sentindo que eu queria algo a mais do que apenas uma palavra jogada no ar.

    Percebi que ele revirou os olhos e antes que eu pudesse notar, ele já estava passando os braços ao meu redor e me transmitindo um conforto que não pensei que ele pudesse transmitir.
    Sim, ele estava me abraçando. E eu estava deixando.
    Aquilo era familiar e me lembrava de quando alguém tinha me abraçado na multidão do centro da cidade.
    Foi aí que eu realmente notei. Era ele, lá no meio de todos e aqui, no silêncio do quarto.
    A sensação boa era idêntica, sem nenhuma diferença ou detalhe no qual achava que poderia não se encaixar.
    A diferença dos ambientes era a única, mas era o mesmo momento, sem exceções.
    Quando ele se afastou, não tive a capacidade de perguntar sobre o acontecimento, mesmo tendo quase a absoluta certeza de que era ele.

    -De nada.- Respondeu, dando as costas e saindo do quarto.

    Eu não tive a oportunidade de aproveitar aquele provável segundo abraço. Meus pensamentos me atrapalharam, assim como ainda continuam me atrapalhando.
    Eram tantas perguntas que pensei se eu realmente poderia dormir.
    Dormir para não acordar tão cedo...

...

Pequeno, eu sei, mas eu não tive muito tempo pra planejar algo mais extenso.
E nessa próxima semana é semana de prova, então... :/
Vou tentar fazer algo maior, mas eu não prometo muita coisa.
Bye ;3

HallucinationOnde histórias criam vida. Descubra agora