Chapter Three.

5.4K 374 276
                                    


Déjà-vu (s.m.)

forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto (e, por extensão, já ter vivido) alguma coisa ou situação.



Confere quase que por completo, com a diferença de não ser uma memória ilusória. Mordi o lábio ao enxergar as costas dela indo em direção à porta mais uma vez. Coisa que jurei não passar de novo. Nunca mais. Mas é aquela coisa da gente não ter controle sobre nada. Porém tudo isso não passou de um segundo enquanto eu pensava.

— Não tinha muita coisa lá embaixo, esse povo que vem para festa parece um bando de esfomeado, eu fiz um sanduichinho de queijo para ti. — pude ouvir a voz de Angélica na porta, que se abriu de uma vez — Eita! Até que enfim mulher, eu achava que tu tinha ido plantar o coqueiro e esperar o tempo do coco cair.

Angélica havia bloqueado a passagem da porta, juntamente com uma bandeja de comida, a qual tenho certeza que eu nem sequer tocaria. Alice parou a poucos metros dela.

— Não tinha coco gelado nesses quiosques daqui da frente. — sua voz saiu mais baixa do que de costume — Tive que ir andando até encontrar algum.

— Ave Maria, adianta de nada se não for gelado. — ela contornou a Alice para apoiar a bandeja em cima do criado mudo, no mesmo lugar que o coco estava — E por que que tu não deu logo o coco para menina, Alice?

Às vezes Angélica soava igual à minha mãe. Não que isso fosse algo ruim.

— Porque ela já parece bem melhor. — percebi agora que Alice havia se virado novamente na nossa direção, mas ainda próxima à porta. Mantinha a postura ereta e os braços cruzados enquanto me encarava, mas logo desviou o olhar em direção à Angélica — Cadê o Gabriel?

— Aqui! — Gabriel, como sempre, se anunciando antes mesmo de abrir a porta — Eu devo ser muito mágico, né? Só comentar e plim. — fechou a porta atrás de si pela primeira vez e soltou um risinho baixo — Não queria que o primeiro presente que eu comparasse para você fosse uma escova de dentes, mas já que foi, pelo menos eu comprei uma de cerdas macias. Daquela do último lançamento da Curaprox.

— Para quê uma escova de dentes, menina? — Alice desviou o olhar de Gabriel para Angélica.

— Ô mulher, longa história.

Apesar de serem da mesma cidade, chegava até a ser engraçado a discrepância gritante entre os sotaques das duas. Sabia que não era o caso, mas era quase como se Angélica fizesse questão de deixar estampado de onde ela vinha, enquanto Alice mascarava.

Poderia acreditar facilmente nisso, se não soubesse que se devia ao fato da convivência extrema de Alice com os parentes que viviam espalhados por todo o Brasil. Acabou por contaminar o vício de linguagem dela.

Lentamente, podia sentir Juliana se mexendo contra o meu pescoço. E para ser sincera, não sei como ela não havia acordado antes com tanto barulho no quarto. Respirei fundo, já imaginando uma cena em que ela iria querer me dar comida na boca, ou até segurar o canudo da água de coco para que eu pudesse beber. Seria cômico, se não fosse trágico, diante da situação.

— Meu... Deus... do... céu. — Juliana falou de repente, fazendo com que todos nós virássemos para ela — É você!!

— Mas gente, de onde é que saiu essa menina? — Angélica uniu as sobrancelhas, encarando a Juliana como se fosse um ser de outro planeta.

Ela se levantou da cama em um pulo.

— Meu Deus, Angélica, oi, eu amo muito você também. Amo muito vocês duas. — sua voz falava corrida, enquanto ela se aproximava — Mas, meu Deus, é a Alice!!!! — ela parecia uma gazela saltitante, parando de frente à Alice — Eu posso te dar um abraço?

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora