Chapter Forty Three.

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Todo mundo, em algum momento, mesmo que diga que não, já assistiu alguma novela mexicana. Eu poderia bater no peito com orgulho e dizer que a minha única foi Rebelde, mas seria mentira. Porque também tive minhas experiências com "A usurpadora" (que é maravilhosa, inclusive), "Carinha de Anjo", "Carrossel", e acho que só essas. Quem disser que não, é mentira. Pode não ter visto a novela toda, mas pelo menos um episodiozinho perdido, viu sim.

Sabe aquele momento tenso, no meio da novela, quando tu já está quase ganhando o cargo de gerente na padaria do diabo, e as coisas finalmente começam a parecer que vão se encaminhar, quando tu já está assim, pertinho de ver a luz, alguma coisa te puxa de volta?

Pronto.

Ultimamente eu só sentia que minha vida estava girando em torno de alguma novela mexicana, e que em algum momento eu iria chorar com música melancólica tocando de fundo, onde você não sabe se chora pela música ou pela cena.

— Alice!

Aline voou para cima de mim, entrelaçando os braços em um abraço apertado. Sua voz estava chorosa e eu engoli em seco enquanto seu corpo tremia. Ela não era assim. Não de demonstrar esse sentimentalismo gratuito.

— Respira fundo, vai ficar tudo bem. — eu não sabia o que fazer, nem como reagir. Ela também não falou mais nada, e eu encarei minha mãe mais ao fundo — Como ele está?

Ela não respondeu. E eu ergui uma das sobrancelhas.

— Mãe? — na verdade, ela nem virou o rosto para me encarar — É sério que você vai me ignorar? Agora?

Ela continuou calada, olhando para a frente. E Aline lentamente se soltou de mim, virando o rosto para olhá-la também, antes de dizer:

— Mãe, pelo amor de Deus.

Ela manteve-se do mesmo jeito. E eu soltei uma risada irônica.

— Segura minha bolsa, Ly. Eu vou procurar uma enfermeira.

Ela respirou fundo, virando lentamente o rosto na minha direção no momento em que eu dei o primeiro passo em direção ao corredor.

— Você não tinha que ter voltado. Não tinha tomado uma decisão? — a voz pingava veneno — Se arrependeu?

Mordi o lábio, e respirei fundo, antes de virar meu rosto em direção a ela.

— Eu não voltei por ti. — encarei-a nos olhos, mas ela não me respondeu, então me virei para Aline mais uma vez — Eu vou ver uma enfermeira.

Eu tinha uma alma muito boa. Aliás, tinha não, tenho. Apesar do que possa parecer. Minha alma era boa em um nível que se um pernilongo pousava em mim, se não fosse da dengue, eu deixava o bichinho se alimentar. Era só uma gotinha de sangue, não me faria falta, mas para ele poderia ser a diferença entre a vida e a morte. Eu esperava ele se alimentar, via a barriguinha encher, e quanto estava satisfeito, ele mesmo retirava o ferrãozinho e voava, cambaleando.

E pronto.

Uma gotinha de sangue, e uma vida era salva.

Sei o que vocês podem estar pensando no momento: louca! Sem juízo, o que você tem na cabeça? Mas é justamente isso: nada. Meu coração fala mais alto do que tudo, o que é uma grande merda às vezes; mas por outro lado, é um ótimo guia — para a forca — por ao menos me deixar mais humana. Pode ser uma pergunta que muitos vão querer me internar por fazer, mas, sendo bem sincera: por que a minha vida valeria mais do que a dele?

Por que a sua vida vale mais do que qualquer outra vida?

— Sinto muito, mas não pode entrar.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora