— Preciso que vocês fiquem encostadas, uma de cada lado da porta, de frente uma para a outra. Estarão cantando a parte da música, no momento em que Catarina for passando.
— Espera. Assim? — Alice se virou na entrada da porta, quase ao meio, enquanto encarava Angélica, soltando umas risadas no meio — Meu Deus, eu achei que isso seria mais fácil.
— Não, assim não. Olha só! — Juan andava por entre as duas, simulando como seria a cena que imaginava — Catarina, vem aqui. — falou e eu obedeci, caminhando em sua direção. Ele apoiou as mãos em meus ombros, indo para trás de mim — Imaginem a cena. Catarina se despedia da memória da casa onde viveu com seu amor. Ele dorme lá no primeiro andar, sem desconfiar de nada, enquanto ela se arrasta pelos cantos da casa, e encara a porta de entrada, onde vocês estão uma de cada lado, cantando a música. Ela se coloca no meio de vocês, enquanto vocês cantam essa parte a parte que diz sobre mudança. E esse é o momento em que ela dá uma última olhada para trás, vocês continuam cantando: "nanananana, tive de escolher a mim..." — ele falava e eu reproduzia suas palavras em gestos — Bum. A cena fecha aí, porque na hora que entrar no refrão, é na hora que ela sai de dentro da casa. Aí gravaremos do lado de fora. — coçou a cabeça enquanto nos encarava — Entenderam?
Alice e Angélica estavam uma de cada lado da soleira da porta. Eu me espremia entre elas, agora de frente para Juan.
— Ju, do céu, é muito detalhe para lembrar na hora. — Angélica amansou a voz — Não dá para só cantar?
— Nós precisamos encaixar a música com as cenas, então precisa sim, ser sincronizado.
— Tá, vai. Vamos tentar de novo. — Angélica passou a mão no rosto, enquanto encarou Alice, que já estava querendo rir de novo — Se controla, mulher!
— Alice, tudo bem? — Juan perguntou.
— Está sim. — ria de novo — Me Desculpem, eu não sei o que está acontecendo. — colocou as mãos no rosto — Acho que deve ser nervosismo.
— Mas nervosismo por quê? — ele riu — Não se preocupe, minha linda.
— É... — ela me encarou meio de lado, mas logo depois voltou a olhar Juan — É o primeiro vídeo-clipe, não é? Normal, a ansiedade sobe tudo, o corpo treme, tu quer desmaiar... É normal rolar isso, não?
— É sim. Só relaxe! Vai ficar tudo certo. — falou por último, antes de gritar em direção à equipe de som — Robson, solta a música!
O começo da tarde foi todo feito naquela cena, ao nível que eu já não sabia mais em que claquete estávamos. Porque toda vez Alice começava a rir. Juan se mostrou muito paciente, e brincalhão. Talvez por ser o primeiro dia de filmagens. Eu havia me recusado a ouvir o CD desde que ele havia sido lançado. Mas a cena havia sido repetida tantas vezes que eu já podia me pegar cantarolando a música mentalmente.
Uma das tomadas eu acabei olhando para ela por reflexo, visto que Alice me encarava enquanto cantava. Foi a minha vez de me desconcentrar, e respirei fundo antes de tentar voltar à personagem. Mas ela usava um vestido azul claro que possuía um decote em "v", alcançando até o começo de seu tórax, se partia ao meio tendo cortes que também deixavam parte da sua barriga exposta, e escorregava em tecido solto e leve pelas coxas. Como se concentrar, dessa forma? Angélica também estava linda, em seu vestido branco, com cortes mais delicados, em toule. Mas eu não diria que seria ela a razão de ter de prender o fôlego ao me encaixar entre as duas.
— Catarina, você vai sair da casa como um impacto. É para seguir a mesma premissa do impacto do refrão. Quando começar, você vai passar pela porta como um trovão, como se precisasse reunir todas as suas forças para ir embora dali o mais rápido possível, enquanto consegue. A câmera vai estar focada em você pela diagonal, e vai pegar todo o seu caminho pela entrada de carros, até pegar a estrada. — ele falava e eu reproduzia, me sentindo um macaco de circo, domesticado — Você inicialmente vai caminhar como se estivesse correndo, e assim que pisar na estrada, vai dar uma última olhada em direção à casa, que é quando vai tocar "longe de mim...", é quando você vira as costas para a câmera e começa a caminhar em linha reta pela estrada, e a música continua "nanananana... e longe de ti". Você vai caminhando pela estrada, pegando o começo do pôr do sol do fundo.
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Consequências
RomanceEu a olhava como se de alguma forma conseguisse absorvê-la e, enquanto a observava, lembrava de todo o passado que ambas trazíamos nos ombros. A encarava numa tentativa débil de decifrá-la, e me questionava como alguém tão pequena, de certa forma, c...