Chapter Eight.

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CATARINA



Memórias são traiçoeiras. Ainda mais se você não pode confiar 100% nelas. Minha cabeça revirava com informação demais, e talvez um pouco do resto do álcool que ainda circulava. Sentia como se não tivesse conseguido ser rápida o bastante como Miley Cyrus, e fui atropelada pela bola demolidora. Agora só o que conseguia fazer era jazir junto a todos os estilhaços que ela deixava ao meu redor.

Pisquei os olhos uma vez, observando a luz que entrava pela fresta que havia na cortina escura. Um único feixe de luz que cortava meu quarto ao meio. Era reconfortante estar em um ambiente conhecido, um apego para se segurar depois da confusão que havia sido o final de semana. Ao menos ali, nada iria me atingir. Não diretamente. Mas, em compensação... Mal havia fechado os olhos novamente, e os lampejos ficavam voltando à minha cabeça.

"O que você sente por ela?" "Eu sinto tudo".

Tudo. O que era aquele tudo? A voz dela ficava ecoando na minha cabeça, e eu quase conseguia visualizar perfeitamente a expressão que deve ter feito. Sei o que dizem sobre ouvir a conversa dos outros, mas não é como se eu tivesse tido algum controle sobre isso. É apenas um daqueles velhos desprazeres de estar no lugar errado, na hora errada. Fui até o quarto para falar com ela. Apenas falar. E esclarecer tudo de uma vez. Não dava para ficar nesse corre daqui e dali eternamente. Mas ela não estava lá.



O quarto estava vazio, com a exceção de uma mala aberta em cima da cama. Dizem que a curiosidade é o mal do ser humano, e sempre fui adepta disso. Mas ainda assim, tinha que me aproximar, tinha que xeretar. Observei algumas das roupas dobradas em cima, reconhecendo quase de imediato um vestido azul com estampa de vasos de flores. Poderia reconhecê-lo em qualquer lugar, pois era o mesmo que usava na noite em que nos conhecemos. Deixei que meus dedos deslizassem pelo tecido, ativando a memória tática de quando o toquei pela primeira vez. Quis fazer o mesmo com a memória olfativa... ver se era o mesmo cheiro. Se usava o mesmo perfume. E, como uma idiota, levei o tecido até próximo ao meu nariz. E, para o meu inferno astral, era o mesmo cheiro. E me deixei inebriar por ele. Até que ouvi passos se guiarem para perto da porta. E, como uma boa pessoa sã, eu deveria ter saído dali, ou simplesmente arranjado uma desculpa para estar ali. Mas aparentemente, me esconder embaixo da cama pareceu uma saída melhor.



Cada detalhe daquele diálogo ainda repassava pela minha cabeça, e cada movimento que eu fazia para tentar sair dali, era rebatido com algum movimento em cima da cama, que a fazia ranger. O que me fazia recolher novamente, como um rato assustado. Me senti invadindo uma privacidade que não era minha, mas ao mesmo tempo, era quase como se estivesse hipnotizada por suas palavras, enquanto ela simplesmente soltava as coisas ao vento, sem dar a mínima para o peso que elas traziam. Se ela soubesse o revirado no meu estômago que suas palavras trouxeram, talvez tivesse se segurado um pouco. Mas cada nova frase sua era um golpe novo no meu coração, e só o que eu podia fazer era fechar os olhos ali embaixo, e rezar para não ser pega.

O que dizem de stalkers é pura verdade: quem procura, acha. A diferença é que eu não estava necessariamente procurando, nem esperava encontrar alguma coisa. E acabei encontrando mais do que deveria, quando finalmente havia conseguido sair dali. Aquele garoto realmente me dava nos nervos, passava a sensação de algo forçado. E eu sei que era apenas impressão minha, mas ainda assim, me dava náuseas.

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