Chapter Forty Six.

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— Mas como assim? Que doença é essa?

Aline arfava enquanto encarava nossa mãe e pai, desviando de um para o outro. Mamãe mordia o lábio e desviava o olhar, enquanto papai parecia ter uma expressão dilacerada de culpa enquanto nos encarava.

— Vocês não precisam se preocupar, os médicos vão dar um jeito. E vai ficar tudo bem. — mamãe foi quem respondeu.

— "Vai ficar tudo bem"? — ergui uma das sobrancelhas — Não foi essa a expressão do médico que acabou de sair daqui.

— Ele só estava preocupado que pudesse ser alguma coisa pior.

Pior? — ri um tanto baixo — Se eu entendi bem, é uma doença no sangue. E que está na categoria "grave". — encarei-a — Tem como ser pior do que isso?

Percebi minha mãe travar no canto. E a expressão do meu pai continuava do mesmo jeito.

— Acredite, poderia sim, ser bem pior.

Aline, a essas alturas, já estava chorando de novo.

— Mas o que é? Um tipo de câncer?

— Não, Ly. Não é câncer. É uma doença, mas que tem tratamento.

Eu encarei aquela cena por algum tempo. Mamãe consolava Aline enquanto explicava do que se tratava a doença, enquanto papai tinha uma expressão... Serena? Mais alguém além de mim nota o quanto nada daquilo estava batendo? Eu era a única realmente que estava achando estranho toda aquela serenidade e conformação?

Porque ou eu estava enlouquecendo, ou eu era a única sã, e eu não estava acostumada a ser a única sã das coisas, então algo de muito errado estava acontecendo ali.

— Engraçado. Vocês não parecem nem um pouco surpresos. — encarei os dois, que se viraram para mim — É quase como se já esperassem algo do tipo.

— Alice, pelo amor de Deus. — mamãe revirou os olhos.

— Do que tu está falando? — Aline uniu as sobrancelhas.

— Mainha é a rainha da histeria. — acusei — Eu sei disso, tu sabe disso, o papai e todo mundo. — enfatizei — Todo mundo sabe. — suspirei — Desde que a gente chegou nesse hospital, tu chorou, eu chorei, a gente já arrancou os cabelos, já bateu boca com enfermeiro, atazanou a vida de médico, enquanto ela ficou sentadinha, lendo revista, esperando o resultado de um exame que acusou uma doença GRAVE — enfatizei de novo — e ela continua com essa cara de conformismo, dizendo que tudo vai ficar bem?

— O que quer que eu faça? Que me desespere e grite pelos quatro cantos?

— Seria o mínimo!

— Desespero não resolve nada. — grunhiu — Você saberia disso se não fosse tão dada a resolver as coisas na impulsividade.

Trinquei os dentes.

— Pelo menos, na impulsividade, eu resolvo alguma coisa. — sibilei — É melhor do que passar minha vida inteira empurrando os problemas com a barriga, esperando que se resolvam por milagre.

— Olha como você fala comigo, menina! — avisou.

— Eu estou falando alguma mentira?

— Você por acaso, sabe falar alguma coisa diferente disso? — ela começou a alarmar a voz.

— Eu pelo menos não fico nessa máscara de frieza, fingindo que nada está acontecendo, enquanto o mundo está caindo. — rebati.

— Alice! — papai forçou a voz.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora