Chapter Forty Nine.

2.6K 179 181
                                    



CATARINA


Le cœur a ses raisons que la raison ne connaît point.


"O coração tem razões que a própria razão desconhece". Se eu tivesse vivido nessa época, teria feito questão de conhecer Pascal. E o teria feito engolir essas palavras, para que, de alguma forma, não se propagassem no mundo como um meme. Tudo que se propaga é direcionado de alguma forma. Quantas vezes este meme já não foi propagado ao longo dos anos, e quantos corações ele não já atingiu, dando um empoderamento maior do que o necessário?

O meu estava irrequieto, ricocheteando para todos os lados do peito enquanto eu observava as portas do final do corredor baterem e rebaterem uma na outra. Tive de resistir ao impulso de correr atrás da silhueta da enfermeira que ainda conseguia avistar, enquanto empurrava a cama em direção a algum lugar. Mas quanto mais eu tentava resistir, mais me lembrava da expressão dela enquanto me encarava. Os olhos estavam turvos, talvez com dificuldade de focar. E eu a chamei algumas vezes, mas não me respondia. Porém também não desviava o olhar. E o meu coração apertou novamente em me lembrar daquilo, ao ponto de que, quando percebi, já me encontrava encostada nas portas do fim do corredor, observando pelo vidro circular.

— Catarina?!

Ouvi quando a voz veio de trás, e demorei um pouco para virar, porque não conseguia tirar os olhos do corredor vazio atrás daquele vidro. Como se a enfermeira fosse trazê-la de volta a qualquer momento, e eu tivesse que ver que estava tudo bem. Ou que pelo menos dessa vez ela me enxergava.

Mas respirei fundo, me forçando a lentamente sair dali, quando ouvi a voz de Angélica pela segunda vez. Ela me observava com uma expressão claramente curiosa. E não era para menos.

— Mulher, como tu veio parar aqui?! — falou, com a voz ainda cheia de surpresa — Aliás, como tu soube?

— Como ela está? — cortei-a, ignorando completamente que havia me feito uma pergunta — O que aconteceu?




— Desculpem o atraso, tem horas que eu quero seriamente desistir de andar de carro no meio do Rio de Janeiro, porque esse trânsito de final de tarde é uma loucura, e... — parei a frase no meio enquanto tirava os sapatos.

Pude ver a fileira indiana sentada no sofá enquanto, uma a uma, as cabeças se levantavam para olhar na minha direção. Martín, minha mãe e meu pai tinham a mesma expressão assustada, como se tivessem acabado de ser pegos no flagra.

— Já cuidei de toda a documentação, vocês vão viajar hoje. — foi papai quem falou primeiro.

Uni as sobrancelhas. Mamãe e Martín ficaram calados.

— Achei que íamos na próxima semana, eu ainda não terminei de resolver as coisas do visto. — falei enquanto encarava Martín, que abriu a boca para falar algo, mas papai cortou novamente.

— Eu já resolvi isso por você. Agora é só arrumar as malas.




— A gente não tinha visto não, os celulares ficaram lá em casa.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora